quinta-feira, 18 de agosto de 2011 | By: Daíza de Carvalho

O que realmente importa


E o amor é a única bagagem que podemos carregar. Com a sua leveza e com o peso quase insuportável tantas vezes quando nos faz sofrer. Apesar de eu não gostar do mês de agosto, hoje é um dia de vitória. É o aniversário da vó Maria, que completa 81 anos. Poderia até ser só um aniversário, se não tivéssemos há poucos meses tantas dúvidas se ela alcançaria este dia.
Não só alcançou, e com ótima recuperação de uma operação complicadíssima dada a sua idade avançada, como não deixa de me ameaçar com chineladas diante das minhas intenções de fotografá-la. Fez isso agora há pouco, por telefone. Assim como fez semana passada, depois que roubei uns cliques.
Vó Maria tem tataranetos. Me disse hoje que, quando Deus a quiser levar, irá feliz, por isso. Foi o que ela disse no leito pré-operatório também. E por que era tão difícil para nós ouvir e ver tanta serenidade dela sem que algo parecesse arrebentar dentro de nós? É o peso do amor.
Minha avó é o meu antepassado mais longevo que conheço. Devo ter outros lá no sertão da Bahia, de onde nossos Carvalhos e Lacerdas vieram, mas duvido que outro tão próximo.
Minha avó mal sabe ler. Reconhece números, se estiverem em tamanhos grandes, mesmo com uma das vistas levada pela catarata. Ela mal enxerga, mas hoje posso ver o quanto devo a ela o que sou. Não sabe ler, mas sabe contar. E me contou inúmeras histórias de onde nasceu e viveu, como cresceu, como casou, como veio para São Paulo, quando e como voltou para a Bahia, quem eram os nossos familiares mais antigos. Entre interrogatórios meus e monólogos dela aos sábados ou domingos à tarde, fui descobrindo minha raiz, de onde vim. Sempre consigo visualizar quando é a minha avó contando histórias lá de Belo Campo (BA), inclusive de meus outros avós, maternos, que foram praticamente compadres.
Certamente não terei histórias tão sofridas quando as dela (nem por isso tristes) para contar aos meus filhos e netos. Mas arrisco dizer que é dela a culpa eu ter como ofício contar histórias - por mais corriqueiras que sejam. Querer ouvir e contar para todo mundo, querer que todos saibam aquilo que descobri - e o valor disso ou daquilo. É, por mais inconsciente que tenha sido, também é culpa dessa véinha ter mais uma jornalista no mundo.
Não sei até quando Deus permitirá que eu e a nossa numerosa família ouçamos as ameaças e histórias da vó Maria. E nem quero pensar nisso agora. Me limito a agradecer por mantê-la mais um tempo [precioso] conosco. E o que posso fazer é aproveitá-lo. Ainda que com chineladas. Deixarão as fotos mais divertidas!

* No segundo em que posto este texto, começa a tocar "Walk On" na Kiss...


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