terça-feira, 6 de outubro de 2015 | By: Daíza de Carvalho

Saudável. Só que não!

Não que estejamos, necessariamente, em guerra com a balança. Mas aqui na redação, onde a mulherada predomina, são recorrentes as discussões sobre as gordices nossas de cada dia, e um meio milagroso - ou ao menos viável - de controlá-las.
Reduzir alguns vícios, como o do doce, e tentar fazer substituições no cardápio para deixá-lo mais saudável é um desafio nos tempos atuais, levando-se em conta a nossa oferta de alimentos. Mais do que isso, o assédio de alimentos e guloseimas. Afinal, mesmo quando optamos pelo "natural", podemos, também, nos envenenar sem saber. É o que sugere reportagem do último domingo da Folha de São Paulo, sobre o controle e fiscalização ineficazes (praticamente nulos) da quantidade de agrotóxicos nos alimentos comercializados no Brasil.
Trocar açúcar refinado pelo orgânico, pães pelas versões integrais e cortar frituras e gorduras são um pequeno começo suficiente para causar uma reviravolta nos hábitos. Porque exige pesquisa e a leitura de embalagens, que é a parte mais chata do processo. Saber o que comemos, na era de dependência dos industrializados, é assustador, principalmente quando não fazemos ideia do que significam aqueles nomes nas letras miúdas. Mas como abrir mão de uma bolachinha, mesmo a integral? Ou de uma torrada que, sendo salgada, está cheia de açúcar em sua composição?
Trocar a Nutella pelo creme de ricota no pão e adotar o aguado leite semidesnatado são pequenas vitórias. Aí, quando iludimos o subconsciente o suficiente com umas frutinhas durante o dia, vem o soco no estômago com o levantamento da Folha, colocando em cheque a qualidade de tudo que pensamos estar comendo direito. Não que não soubéssemos. Mas ler assim, de forma escancarada, pesa mais do que a culpa de ter mandado ver na coxinha no final de semana. O pior é que não há outras alternativas a não ser fazer a própria horta em casa ou preparar o orçamento para os produtos orgânicos. Ou há?
A questão dos orgânicos, aliás, é mais uma absurda da nossa era. O alimento saudável "de verdade", que era para ser regra, virou exceção. Em Cordeirópolis, a merenda escolar deverá conter itens orgânicos, o que está previsto em lei recém-aprovada. A medida favorecerá produtores locais, além da alimentação da criançada. E pensar que nossos avós tinham saúde de ferro pelo simples fato de ter na mesa o que havia saído do próprio quintal. Claro que o nosso meio de vida é outro, no qual os fast-foods fazem a alegria de praticamente todas as faixas etárias com bombas de gordura e sódio. O resultado é que o excesso de peso já afeta mais da metade da população brasileira. Exatamente 52,5% da população adulta, conforme divulgado em abril pelo Ministério da Saúde, com base na pesquisa Vigitel 2014. A mesma pesquisa apontou 17,9% de obesos, entre os maiores de 18 anos.
No Brasil, a "cultura" de saúde é a de remediar, e jamais de prevenir. De ir ao médico só quando não está bem, e não para pedir orientações para evitar problemas. Felizmente começam a aparecer mais programas neste sentido, principalmente com o incentivo às atividades físicas.
O fato é que a "alimentação saudável" é cada vez mais relativa, se não sabemos o que comemos. A fiscalização fica por conta do consumidor, com lupa nas embalagens e também naquilo que veio da terra - sabe-se lá em quais condições.

Publicado na Gazeta de Limeira.