segunda-feira, 30 de abril de 2018 | By: Daíza de Carvalho

Quero ser como a Patti Smith (ou: mais essência e menos aparência, por favor!)

Foto via Twitter (@BeaconTheatre)
Entre todas as doideras do nosso tempo, uma das mais perversas e "automáticas" é o apego à aparência, principalmente a feminina. Tem gente que ama um salão, eu sei... mas tem gente que definitivamente não ama, mas se apega a padrões sem nem mesmo saber o porquê.
Fui madrinha de casamento e só mesmo a consideração a uma grande amiga foi capaz de fazer de mim uma "lady", por uma noite! Uma lady, entenda-se, no padrão estabelecido e replicado sabe-se lá desde quando.
Meu grau de sofrimento numa maratona é batido facilmente frente às violações como tingir e esticar o cabelo, depilar e fazer a unha. Mas são coisas tão corriqueiras, não? Não! Definitivamente não pode ser normal alguém se submeter frequentemente a colocar na cabeça, literalmente, químicas que pinicam até os neurônios, puxar os fios até quase arrancar o couro cabeludo... E eu gostaria que os homens sobrevivessem à experiência mensal da depilação com cera quente, inclusive na virilha. Pintura das unhas é algo menos agressivo, mas é um tempo precioso que vai, só para colocar uma corzinha.
Sei que há uma indústria gigantesca alimentada por isso e que as mulheres, gostam, sim, de se sentirem mais bonitas. Mas, afinal, toda essa coisa externa é que define um sentimento como esse? Não a mim!
Estava muito bem, obrigada, com os meus cabelos brancos, e tive, aos 33, a primeira experiência de coloração com tonalizante. Me arrependi no segundo em que aquela coisa começou a pinicar. Afinal, se não tem a tal da amônia, por que isso? Porque nem a água é isenta de química, estúpida!
Até me equilibrei bem no salto, o vestido justo e longo ficou bonito, mesmo com a minha barriguinha que já não faço questão nenhuma de esconder. Só não pode virar relaxo com a saúde. Fiquei linda, sim, recebi milhões de elogios do namorado, mas já o avisei: se gostou, ótimo, guarde as fotos. E nutra o amor pela minha essência!
Não adianta: eu gosto mesmo é do tênis, do shorts, do dryfit, do boné... sempre foi um parto me "feminizar", porque não sei escolher roupa ou sapato. Elas é que escolhem, e quase nunca é uma saia ou um salto! E qual o problema?
Existe muito daquela coisa, do tesão relacionado à aparência, de vestir assim ou assado, de se portar conforme a ocasião... uma montanha de convenções sociais que continuamos replicando. Until we got the power....
PATTI, SUA LINDA!
Daí hoje vi um vídeo dos meus amados Patti Smith e Bruce Springteen.. e olho pra Patti e penso: #chupa sociedade! Um mundo de cultura e sabedoria por trás daquelas rugas e cabelos longos e brancos exibidos numa pureza indescritível. Ela pode. E como pode!
E nós, não? Podemos, mas por quê tantos de nós não fazemos? Cada vez que me preparo para ir ao shopping, cogito em finalmente usar aquela saia, aquele sapato. Mas quero mesmo é um tênis se for pra lacrar meu objetivo de passos no dia (o Garmin monitora isso, e realmente me sinto pelada sem o Garmin! Tem gente que se sente assim sem batom...).
Comecei a ler o livro da Patti e não terminei, numa possibilidade ainda mais remota, por enquanto, agora que voltei a estudar. Mas descobri que ela recentemente entrou no Instagram (@thisispattismith) e... não tem como não se apaixonar por alguém que divide as horas dos seus dias ora lavando meias, ora lendo Marguerite Duras, ora dividindo com o mundo suas memórias com Neil Young... ou falando da cadeira de sua mesa de trabalho, item "de série", literalmente, ou compartilhando a foto da mesa de trabalho de Borges, em sua passagem na Argentina...
São fragmentos da vida de quem vive de arte e, apesar da estética própria, muito além da aparência. Claro que estamos falando de uma artista de legado inestimável ao mundo. Mas é a extraordinária Patti. E simplesmente Patti.
Enquanto isso, quase todo o resto do mundo está replicando selfies do seu melhor dia, ou da representação do seu melhor dia (afinal, se tá difícil é melhor não postar!). Ainda outro dia, eu deveria estar lendo teoria para a aula, mas li uma matéria sobre a ditadura dos likes e tentei fazer uma autocrítica. Afinal, bastou eu ter largado o Facebook ou ainda estou muito bitolada no Insta? Até que ponto me importo tanto com likes? Bom, se ainda não passei meu perfil @pangareando para patrocinado, acho que está tudo bem. Se curtiu, vem junto, senão, tudo bem. Continuo postando o que acho interessante. Independentemente de likes.
Tudo isso para dizer que quero nutrir a utopia de valorizarmos a essência na era da aparência. Afinal, as pessoas têm que se apaixonar por nós de cara limpa e alma lavada. Porque a tinta sai com xampu e base sai com o demaquilante (graças a Deus e à indústria ou seja lá quem for!). Mas as rugas, os cabelos brancos (e a barriguinha também), estes sim contam a nossa história, sem fingimento.
sábado, 10 de março de 2018 | By: Daíza de Carvalho

Filho de Jango: "gerações deixaram de pensar o país"

Filho de Jango, João Vicente Goulart reflete o legado do pai e se candidata à presidência

Daíza de Carvalho

A família de João Vicente Goulart até hoje não tem uma resposta sobre a morte João Goulart, o Jango, presidente do Brasil que teve o mandato interrompido em 1964 com o golpe militar. Mudando-se às pressas com a família para o Uruguai em abril daquele ano, Jango jamais voltaria do exílio, situação na qual viveu os 12 anos seguintes à tomada militar no Brasil. A causa oficial da morte é creditada a um ataque cardíaco. A família, porém, acredita no envenenamento e, passados mais de 40 anos da morte de Jango, ainda busca um desfecho na Justiça.
A vida da família não seria a mesma a partir de 1º de abril de 1964. E nem a do Brasil.
O que o Brasil poderia ter sido sob a gestão de Jango e o que foi submetido com a sua saída e a entrada dos militares são questões ainda carregadas por João Vicente. O menino que viveu no exílio é filósofo, foi deputado e agora se candidata à presidência da República, numa sigla nova, o Partido Pátria Livre (PPL), um partido de ideologia, como define. Trazido a Limeira pela USTL ontem, ele falou do passado, avaliou o presente e expôs propostas para o futuro, do qual espera estar à frente, assim como esteve o pai um dia.
"A NAÇÃO QUE PERDEMOS"
Goulart lançou, no ano passado, o livro de memórias "Jango e eu", no qual descreve o cotidiano da família exilada entre a saída do Brasil e a morte do pai, em 6 de dezembro de 1976. Uma continuação será escrita, com previsão de publicação daqui a dois anos. O título provisório, "Jango - a nação que perdemos", faz jus ao objetivo de retomar a narrativa com as propostas de Jango que foram interrompidas. A obra será feita em parceria com o instituto de história UERJ, que fará a pesquisa documental detalhada de todas as reformas então previstas, como a agrária, urbana, tributária e educacional, para evidenciar "o que o Brasil perdeu ao não fazer essas reformas". "O livro vai trazer não só a memória dos personagens que atuaram em cada item dessas reformas, como Paulo Freyre na educação, mas uma visão muito atual. Vamos relatar a necessidade que tinha em 64 e comparar com o que acontece hoje no país para demonstrar exatamente o quanto elas ainda são necessárias, como a reforma agrária, tributária".
1964 x 2018
Sobre as marcas da ditadura que o país ainda carrega, avalia que as cicatrizes vão além do aspecto brutal dos desaparecimentos e cerceamento da liberdade. "Sofremos ainda algo grave. A ditadura impregnou duas gerações de brasileiros que deixaram de pensar o país. Pessoas com mais de 60 anos conhecem as lutas das reformas de base. Depois veio um branco que foi exatamente a época da ditadura, que não deixou essas gerações raciocinarem o Brasil. Antes de 64, o Brasil vivia numa ebulição cultural, com a Bossa Nova, Cinema Novo. Surge o teatro de arena, os debates universitários nas esquinas. O Brasil debatia não só a sua origem como o seu futuro. Isso acabou em algumas gerações. Houve uma submissão ao processo de bestialização cultural importada dos Estados Unidos, com o hamburger, o x-burger, as bandas de rock americano. Houve um aculturamento da nossa cultura, que foi deletada do processo de discussão".
Para ele, a economia é tão bestializada quanto foi a cultura, o que dificulta a retomada do caminho das reformas diante de um senso no qual "tudo o que é externo é melhor". "Precisamos atingir a população jovem com essa memória do que foram as lutas nacionalistas por um 'Brasil brasileiro'. Temos que recriar a cultura do socialismo moreno, não precisamos importar, mas prezar e multiplicar a cultura divergente dos estados brasileiros"
PROPOSTAS
Sobre a situação da intervenção no Rio de Janeiro, ele avalia a questão como uma jogada de Temer para tirar o foco da polêmica previdenciária. "Claro que há um processo de violência enorme no Rio de Janeiro, mas a Bahia tem números muito piores estatisticamente de assassinatos e latrocínios. Por que não foram lá?", questiona. "É um problema nacional. Darcy há 20 anos já dizia: se não fizermos escolas dignas, em 20 anos estaremos construindo cadeias. Está aí o Temer liberando R$ 45 bilhões para os Estados fazerem cadeias. Violência se combate com presença do Estado nas comunidades, com uma reforma inclusive fundiária, urbana, para dar dignidade aos moradores, integrá-los à cidadania. Com uma escritura do seu local, ser integrado à defesa do Estado brasileiro. Se o traficante entrar, o Estado é obrigado a defender a propriedade privada que é dele. Da propriedade do barraco à do fazendeiro".
Em relação à educação, a ideia é tirar o ensino de base da tutela dos municípios. "A federalização da educação de base é uma obrigação nossa. É preciso, no mínimo, saber ler e escrever".
Quanto à reforma da previdência, defende que deve ser feita, mas para os que estão entrando no sistema agora, não para os que têm direito adquirido. "Também tem que estabilizar essas diferenças do setor privado e público, mas sempre dos que entram agora", salienta, lembrando que "não existe déficit da previdência. O que existe é a falta de cobrança efetiva dos valores dos grandes bancos e setor rural". Ele condena também a extinção da pasta que deveria cuidar do assunto. "Fazer a reforma da Previdência sem um Ministério da Previdência é absurdo".
VEIAS ABERTAS
Questionado sobre como lida com o histórico da família e das faltas, principalmente das respostas sobre a morte do pai, mais uma vez ilustra a condição brasileira. "A morte do presidente João Goulart não foi concluída. O próprio Ministério Público Federal entende isso, o processo continua aberto. A procuradora que cuida disso tem pedido informações ao governo americano, e até hoje não tem resposta. Porque o Brasil é insignificante para o governo americano. Não temos soberania suficiente para exigir nada. É direito de um país saber o que aconteceu com seu ex-presidente. Teria que ter a soberania, coragem. Mas, mas para isso, só um governo emanado do povo, não um fantoche".
Na insistência da pergunta sobre sua condição particular diante dessas faltas, o filho do ex-presidente recorre à esperança. "Ter a questão em aberto faz parte da luta. Vamos continuar lutando. Um dia a gente consegue esclarecer isso para a história brasileira, que merece ter esse esclarecimento".



Legados e desafios

"O legado de Jango é de uma nação brasileira. Quando ele assume o poder em 1961, sua preocupação é terminar aquilo que Vargas não concluiu. Temos que revisitar esse legado inconcluso, discutir novamente as reformas bancária, tributária, agrária, educacional, a reintegração do patrimônio que foi privativado, a proteção da Amazônia, começar a construir a nacionalidade do Brasil".

O partido sem R$ 1 bilhão

"Somos um dos partidos mais ideológicos dessa gama que vai disputar a eleição em 2018, enfrentando a traição de grandes partidos, que criam um fundo eleitoral de R$ 1,7 bilhão para se autoproteger. É onde estão os picaretas que precisam de foro privilegiado para se manter. Nós não temos acesso a fundo eleitoral, nem a participação em debate. Temos 6 segundos mínimos na televisão. Só porque somos um partido novo e não temos deputados e senadores? É uma ilegalidade. Isso mostra o temor que eles têm dos partidos ideológicos, tão profundo que fazem questão de esfacelar. Mas vamos até o fim. Missão partidária se cumpre, não se discute".

Diálogo com fascistas

"Entendo que a democracia é um grande diálogo e convivência com as diferenças. Tentarei dialogar, só não podemos aceitar ataques gratuitos, sem fundamento lógico. O debate é a grande arma da democracia, conversar com opositores é parte disso. Jango recebeu Lacerda no exílio, e foi quem o derrubou. Temos que ter a flexibilidade de conversar com todas as correntes".


Sem medo das fake news

"Quem usa muita fake news é porque não tem a verdade da palavra. Nós temos a força de nossas palavras, consciência da nossa história. Nós temos o que dizer. Fake news é para quem não tem o que dizer. Temos milhares de coisas a dizer, a construir, exemplos já realizados no país e respostas àqueles que nos derrubaram".
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018 | By: Daíza de Carvalho

Uma provocação chamada Unabomber

É curioso que eu estivesse assistindo à série Manhunt: Unabomber na semana do resultado da aprovação para a graduação em Letras, justamente na parte que aprofunda na chamada "linguística forense". Embora não tivesse encontrado referências sobre isso no caso real (sem saber até que parte a coisa foi romantizada para a série), a "análise do discurso" parece, de fato, apaixonante. Assim como seduz o "Manifesto Unabomber", quando se tenta ignorar que foi escrito pelo responsável por atentados que mataram e feriram pessoas. Ainda não li o manifesto, mas o que foi explorado na série é provocador, principalmente na cena final. A ideia geral do manifesto surge quase que como uma profecia. O mais irônico é que justamente a dependência tecnológica condenada pelo Unabomber foi a responsável por tantas pessoas, gerações após a sua prisão, terem acesso à sua história. E ao seu "legado". Viciados em Netflix. Até dá um ímpeto de tentar se libertar do "sistema". Mas o controle do controle remoto é mais forte. A reflexão dura até a escolha da próxima série. Mais fácil fugir da realidade da qual nos tornamos reféns - ou cúmplices? Mas é certo que o lembrete do que nos tornamos virá. Tão certeiro quanto a mudança de fases do semáforo.
terça-feira, 13 de fevereiro de 2018 | By: Daíza de Carvalho

O desafio de pensar sem o Facebook

Quando a Folha desistiu, eu já tinha desistido havia algum tempo. "Mas como assim, você é profissional da comunicação e não usa Facebook?". Simples assim. Passados alguns meses, posso afirmar que não me fez falta, obrigada. Nem na vida profissional, muito menos na pessoal. Não deixei de escrever nenhuma matéria necessária ou de encontrar alguma fonte e, no âmbito pessoal, de repente "ganhei" mais tempo para passar os olhos naquilo que realmente me interessava: livros, séries, pessoas. Me dei o direito de escolher o que quero, e não deixar, ou ao menos minimizar o que os algoritmos me entregam de bandeja - ao gosto de quem os programou.

Não sou ingênua. É muito difícil ficar imune aos algoritmos pelo simples fato de que atualmente é quase impossível viver desconectado, infelizmente. Mas a coisa estava chegando num nível sem sentido, que não me acrescentava nada mais além do que a pura descrença na humanidade, considerando "humanidade" aquilo que eu estava programada para ver.

No começo, eu tentava argumentar. Os posts são o nosso olhar sobre o mundo, e esse alto falante chamado rede social matou o limite de qualquer bom senso. Gosto de dialogar, de argumentar. E é claro que todos simpatizam com ideias iguais e têm resistência às contrárias. Mas parece que a "comunidade" está cada dia mais radical, sem espaço para respeito ao ideal alheio. Tudo a ferro e fogo. Cada vez menos debate. Cada vez mais embate. É o que o algoritmo me mostrava. E isso eu dispenso.

Na minha ingenuidade, achava que tinha treinado bem o meu algoritmo. Minha timeline era só notícias de corridas, treinos, alguns colunistas que eu gosto. Não sabia nem o que estava acontecendo com os posts das minhas vizinhas de baia na redação, a não ser quando elas comentavam ali ao vivo, porque minhas preferências pareciam bem definidas a partir de quando eu logava.

Mas, adivinhe?? A vida acontece quando esquecemos da rede social! Dei um tempo quando entrei de férias, e já estou pensando nas próximas férias e sobrevivendo bem sem novos posts no Facebook. Ninguém sentiu minha falta. Nada que tenha pipocado ali me fez falta.

Nas esporádicas vezes que voltei, estranhei as notificações do que familiares estavam fazendo, postando, comentando. Procurei nas ferramentas como desabilitar aquilo como se tivesse começado a mexer em computadores no mês passado, e não há 20 anos, e não encontrei. Ei, péra! É o algoritmo, estúpida! Ele só me dá opções que eu tenho que aceitar goela abaixo. Não, obrigada.

Eu ainda tinha certo apego ao "neste dia", para relembrar coisas legais que passaram, como eu era uma tuiteira irritante, como alguns memes eram realmente criativos a ponto de merecer um compartilhamento... até cair na real que talvez 10% de tudo aquilo me define. E que eu não deveria estar apegada à tela, mas às fotos que deveriam estar impressas em algum álbum físico para eu mostrar para pessoas que me visitam pessoalmente, e não para exibir no perfil esperando curtidas. Os lances que para mim eram mais legais não foram sucesso de curtidas. Por que as coisas não bastam para nós quando agradam a nós? Por que não vale se não agradar aos outros também? Essa necessidade de aprovação constante é humilhante. E fulminante. Autoestima (aquela de ser feliz consigo mesmo sem precisar de exibição para ou aprovação do mundo) mandou um abraço. Mas a gente não viu, porque não passou no filtro do algoritmo.

The Walking Dead é uma das séries que não assisto há várias temporadas, assim como House of Cards, que não tive estômago para continuar a última temporada, mesmo antes de estourar o escândalo com o Spacey. Mas vivemos cada vez mais como zumbis, e como massa manipulada por quem manja dos paranauês. Não adianta esbravejar contra o algoritmo se você aceita se submeter a ele. Mas, quem quer, realmente se libertar dele??

Parei de entrar no Facebook, mas sou uma assinante assídua de newsletters de veículos críveis, até que se prove o contrário. Leio tudo? Não. Mas coisas realmente extraordinárias me chamam atenção entre elas, e tenho certeza que o Facebook jamais iria me sugerir, por mais que eu tentasse manipular suas artimanhas. Entre as listas que sigo está a do Flipboard. Porque me interessa muito mais saber do mosaico de 1.800 anos que acharam em Israel do que da última treta do BBB, que provavelmente deve estar circulando na "minha comunidade". Prefiro as escolhas de um editor de verdade. Profissional. Não mecânico.

A "benevolência" do Facebook em nos "aproximar da comunidade" em detrimento dos veículos de notícias com profissionais que passam o dia checando coisas para levar informação de qualidade não é um mal só para os negócios da comunicação. É mais ópio para o povo que está hipnotizado na frente da tela. O problema não é o Facebook. É a dependência do Facebook para o social. O que quer que "social" tenha se tornado hoje em dia.

Me identifico com alguns veículos, e quando quero me informar, vou direto neles. Mas a dependência da rede social limou qualquer "livre arbítrio" de se procurar o que gosta fora da caixinha azul. As pessoas não estão acostumadas a procurar. Estão condicionadas à passividade de pegar carona no que quer que venha na sua timeline. E é realmente preocupante num país que vai sediar eleições presidenciais nas condições que nós vamos ter um povo que não consegue ser independente, pensar sem uma muleta nos apontando para onde ir. Referências são importantes, sim. Desde que não virem dependência.

Fiz uma outra conta de Facebook para acompanhar alguns grupos, seguir algumas páginas e fazer gestão de algumas páginas que nem sei se vou manter. Não adicionei ninguém, por mais que o Facebook insista. O algoritmo, esperto, já identificou familiares pelo mínimo de informações que sou obrigada a colocar para me cadastrar. Cruzamento de contatos de e-mail, telefone sincronizado, localização. Nada passa despercebido. Como diria John Donne, ninguém é uma ilha, e se tem uma empresa que faz questão de nos lembrar, é o Facebook.

Não só ele, é claro. Como todo bom brasileiro que valoriza muito cada centavo suado, pesquiso muito antes de comprar qualquer coisa. Na internet, porque tenho pavor de andança em rua se não for para treino de corrida. E é a deixa para um bombardeio de anúncios em qualquer página que eu esteja. Até eu descobrir a maravilha da navegação anônima (no Chrome ou no Firefox). Que, claro não deve ser 100% anônima, mas pelo menos me poupa de ser ainda mais bombardeada por anúncios.

LIBERDADE AINDA QUE TARDIA

Não larguei o Facebook só por ter ficado de saco cheio com aquele "ambiente". Vi várias entrevistas de pessoas que fizeram um detox da vida conectada e tive a vontade imensa de ser cascuda o suficiente pra fazer o mesmo. Não poderia zerar mas, ao menos, reduzir. Afinal há tanta vida lá fora... por menos que a gente queira reconhecer, a ansiedade de quantos likes a foto deu está lá, a cada cinco minutos que a gente vai ver se teve notificação. Isso NÃO é vida.

Sou entusiasta das redes sociais. Amava o Twitter de paixão, e se tem uma coisa que não largo é o Instagram. Mas só coloco no Insta as fotos das quais realmente me orgulho ou de alguma mensagem útil que eu queira passar. E se quiser colocar 10 fotos seguidas da minha gata, vou colocar, porque gosto de fotografá-la. Gosto de fotografar comida, paisagens. Me refugio nas fotos quando quero limitar o verbo. E o que há de melhor do que imagens que nos deixa sem palavras?? Ok, não sou fodona assim com uma câmera, mas me esforço para coisas decentes. Sempre. Ainda que seja a mais nova pose de alongamento da minha gata. Afinal, isso pode me ensinar muito mais do que saber onde Jojo Toddynho está desfilando (whatahell??).

O ponto é: não sou movida por aquela coisa de TER QUE mostrar o que estou fazendo a todo tempo. Muito esforço para aparências, e pouco para ideias. Levo a vida e, se surge algo legal, coloco. As pessoas podem saber do meu gosto, de algumas ideias, ideais. Não precisam saber da minha vida. Não estou dizendo que esse é o jeito certo, mas que é o meu jeito de usar. Neste carnaval, além dos unidos da Netflix, também estou no bloco da vergonha alheia só pelo que minhas colegas comentaram que viram de barbaridades (de acordo com o nosso critério de decência) "performadas" por gente próxima ou nem tanto. Se essas pessoas preferem se expor, paciência. Uma coisa é certa: fora da tela, não há filtros. Por mais que se sustente uma vida linda num perfil. Esse show de horrores é o tipo de coisa que só me deixa mais satisfeita pela decisão de não estar sujeita a ver essas coisas, de não dar permissão para que enfiem goela abaixo o que não me interessa. Meu tempo e mente agradecem.

Não vou deletar meu perfil do Face. Espiar sem postar, quem nunca? Ou sempre? Ele ainda me serve para determinadas análises, como essa. Ver em qual velocidade o algoritmo aponta para o fim dos tempos no quesito senso crítico. E, quem sabe, ficar lá esperando para um amadurecimento de quem usa essas ferramentas. Cada vez que entro, a cada semana, ou quinzena, ou quando meu chefe me avisa que tem alguma informação na caixinha azul que tenho que checar, não perco mais que dez minutos (o que ainda é muito), como quem fica desconfortável na casa de um parente distante. Aliás, não me interessa o que os parentes estão postando, como o Mark insiste em me mostrar. Quem ele pensa que é para achar que sabe qual é a minha comunidade? Dos parentes, me interessa poder revê-los, não quero saber o que estão repercutindo. Seus gostos prefiro debater na mesa do bar ou do almoço, não no ambiente em que qualquer pitaco pode ganhar ares de lei na leitura dos radicais, seja de qual lado for.

Enfim, eu não me sinto na obrigação de me justificar por ser uma profissional da comunicação que quer se ver longe do Facebook. Mas acho válido explicar minhas razões pelo imenso medo que tenho que os meus sobrinhos, por exemplo, virem zumbis desses tempos. Quero que sejam cidadãos que decidam por si, que não terceirizem seu gosto a empresas manipuladoras. Pelo menos não na totalidade. Não quero que este texto valha curtidas. Quero que valha reflexões principalmente sobre as escolhas que NÃO fazemos. Sempre há quem - ou o quê - faça por nós.
sexta-feira, 15 de setembro de 2017 | By: Daíza de Carvalho

Setembro

Eu gosto de setembro porque é o mês que o sol começa a ficar mais um pouquinho, de tarde. Eu gosto de setembro, porque ele começa com o fim do desgosto de agosto, dá sumiço no frio que gela a alma e traz as cores da primavera. Eu gosto de setembro porque é o mês que nasci, é o mês que tiro férias e é o mês da padroeira Nossa Senhora das Dores, o que nos leva à comemoração do aniversário de Limeira.
No meu último treino de corrida, divaguei no que poderia virar um textão sobre o tema da edição especial da Gazeta de Limeira, que fizemos para os 191 anos da cidade que escolhemos ou aceitamos como lar. Abordamos o ensino superior e a forma que ele identifica a nossa cidade - ou não. Foi um esforço conjunto que pode ser conferido nas páginas hoje, mas me pergunto o que, de fato, os moradores de Limeira têm aprendido ou absorvido ao abrigar instâncias que têm o saber e o aprender como motivação.
Minha conclusão imediata foi de que falta muito para sairmos fora da caixa. Não de pensar fora da caixa, mas primeiro sair dela, mesmo. Limeira ainda tem uma mentalidade muito provinciana, talvez ainda não tenha se dado conta do quanto conhecimento tem à disposição. Da mesma forma, as faculdades também ainda não exploram, ao todo, essa possibilidade de conexão com a comunidade. São desenvolvidos trabalhos geniais, que na maioria das vezes não chegam ao conhecimento da própria imprensa, tampouco da população, senão por repórteres insistentes que cavam pautas.
Limeira ainda não é uma cidade genuínamente universitária não só porque tem uma rodoviária vergonhosa ou porque grande parte reluta em se misturar ao conhecimento propagado pelos cantos. Limeira ainda tem muito a avançar porque ainda falta esforço para enxergar à frente, o que é tristemente constatado em comentários de rede social. Ainda que isso não seja pressuposto para formular um diágnóstico, mostra muito de nós, enquanto comunidade.
Limeirenses têm que sair fora da caixinha quando chiam pelo aumento da tarifa de água e esgoto sem entender a estrutura que esse dinheiro vai subsidiar. As pessoas pensam que é só dar descarga para o problema acabar, e é fácil reclamar quando não se viveu um dia da vida sem saneamento decente. Nós temos e não damos valor. Não nos tocamos da complexidade ambiental que isso envolve, desde que a dor não seja no nosso bolso.
Limeirenses têm que correr pra fora da caixinha quando criticam o fim do aluguel caríssimo do Centro de Eventos, um acordo burro que durou até demais e ainda era pago com o meu e o seu dinheiro para abrigar um serviço que já não era oferecido há mais de um ano. Se gasta, o povo reclama. Se deixa de gastar, o povo reclama. Que tal focar as energias em fiscalizar se essa economia será decentemente aplicada?
Limeirenses têm que sair dora da ciaxa quando reclama do trânsito local. Que, sim, é horrível. Mas quem faz o trânsito somos nós! É fácil reclamar sem policiar as próprias atitudes.
Todo ano paramos para refletir a cidade em torno de um tema, em meio ao turbilhão de refleti-la com todos os problemas e soluções, diariamente, dentro do que é possível abraçar com nossas mãos, mentes e blocos de anotações. Não somos donos da verdade - nem queremos. Mas, como sempre repito: a gente gosta é de dar notícia boa.

Hoje é um dia que quero ser otimista, mesmo na falta de grandes expectativas em relação à nossa cidade ou país. E não é porque as minhas férias estão só começando. É porque nesta manhã li a coluna do Denis Russo Burgierman no Nexo (www.nexojornal.com.br/colunistas/2017/Todo-o-potencial-do-mundo), no qual ele se esforça para sair de uma onda de pessimismo em seus textos para um olhar menos apocalíptico sobre o nosso Brasil, tão desmilinguido, como descreve. Ele fala das crianças e de todo o potencial que elas têm, de fazer coisas, de transformar o Brasil em qualquer coisa - desde que as malas de dinheiro, como as do Geddel, sejam dedicadas a nutrir esse potencial. Independentemente disso, elas têm o talento nato da criação de mundos, ao menos até quando esse poder é ceifado pelas limitações que nós, adultos, insistimos em reproduzir. E essa observação é minha, não dele, embora no texto ele reconheça a nossa dificuldade em aprender coisas novas, mudar hábitos, em paredões que simplesmente não existem para as crianças (é a tal da plasticidade que perdemos enquanto nos "desenvolvemos").
Aí juntou esse texto, com a lembrança do filme da Mulher Maravilha, com algo que me ocorreu ontem. No filme, Diana é a criança que deveríamos ser. É uma heroína com o olhar que deveríamos ter. De não achar barbáries comuns e de enxergar as belezas que nos rodeiam, além das mazelas. Fato que me deixou maravilhada (trocadilho irresistível!) com o filme e me inspirou a escrever (http://reportareviver.blogspot.com.br/2017/06/precisamos-da-inocencia-de-diana-uma.html).

Ontem, inicialmente, fiquei um pouco chateada por ter uma cobertura a fazer no fim da tarde, no fim do expediente, nos 45 do segundo tempo antes de sair de férias (que na verdade começam na segunda, e não no feriado municipal de hoje ou folga de amanhã). Mas, como dizem as mães, o que não tem remédio, remediado está. Fui para uma inauguração de praça, no meio de um trânsito caótico, no qual acho que a maioria dos que passaram se deram mais ao trabalho de praguejar do que notar os coqueiros que ornamentavam a praça, na verdade uma rotatória, inacessível a pedestres.
O "tchan" da coisa seria ao escurecer, com a exibição da nova iluminação do local. Mas o sol insistia em ficar. O staff do prefeito estava tenso, na expectativa que tudo funcionasse, que as lâmpadas se acendessem ao esfriar do sol, que a sincronização de discursos, fotos, luzes naturais e artificiais transcorresse conforme o roteiro. Pois a luz das lâmpadas deram as caras, e o sol continuava ali, sem pressa.
Não fosse por isso, talvez eu não tivesse apreciado o por do sol no meu último expediente antes das férias. Mas, mais emblemático do que o espetáculo natural, foi o monumento da praça, registrando a sua construção em 6 de setembro de 1985, um pouco mais de um ano após eu vir ao mundo nesta terrinha. É um monumento que parece um banquinho. Assim eu via, pelo menos, com o meu olhar de criança, quando tudo era possível. Eu cabia sentadinha ali, num igualzinho àquele nos meus anos iniciais, quando as escolas infantis tinham nomes de desenhos, e não de pessoas.
O texto do Denis Russo me provocou a refletir o que aconteceu entre eu caber sentada naquele banquinho entre o fim dos anos 80 e início dos 90 e estar diante dele e do por do sol, à beira dos 33 anos de idade, com um pé na responsabilidade de entregar uma matéria no fechamento e o outro no barril de chopp do início das férias. Concluí que não adianta muito refletir sobre o que eu fiz ou deixei de fazer para melhorar meu mundo e minha cidade. Me senti desafiada a ser criança de novo, e olhar o mundo desapegada das restrições burras que adquirimos por osmose ou por imposição no decorrer da vida. Me senti desafiada a sair fora da caixinha. Agora. Amanhã. Durante as férias. No meu aniversário. Quando terminarem as férias. A cidade e o país que faremos/teremos é fruto de um esforço diário, que muitos de nós insiste em procrastinar.
Quando alguém faz aniversário, a gente automaticamente deseja tudo de bom. Pensamos no todo, no ano, no resto da vida, e nunca no dia de hoje, com o de amanhã e depois. Então eu só desejo que, todo dia, quando o sol se demorar ou se apressar a dar lugar à noite, a gente possa ter certeza de que fez, nas últimas horas, o possível para contribuir positivamente de alguma forma nas mudanças que inevitavelmente virão. Até estar longe, mas bem longe da caixinha que limita as nossas possibilidades.


quinta-feira, 7 de setembro de 2017 | By: Daíza de Carvalho

Após 195 anos, a herança de uma "independência capenga"


Marcomini: "é preciso refletir a participação
popular na transformação social"
Foto: Mario ROberto/Gazeta de Limeira
Falta de ação popular em 1822 ainda reverbera em nossos dias, analisa professor

Daíza Lacerda

Não se sabe se, de fato, houve um grito de independência em 7 de setembro de 1822 às margens do Ipiranga. Tampouco se dom Pedro I estava num cavalo. O provável é que estivesse numa mula, animal que aguentava percorrer grandes distâncias, em resistência propícia à época. O fato é que as atitudes do então príncipe regente, coroado como imperador aos 24 anos de idade, teriam consequências sociais e culturais que perdurariam até os dias atuais. O contexto é explicado por Roberson Marcomini, professor da Etec Trajano Camargo e colégio Jandyra, com mestrado na área de ciências sociais e humanas pela FCA/Unicamp.
A principal herança que perdura em nossos tempos, 195 anos após o evento, foi a falta de participação popular na busca da independência, o que se traduziu na passividade do povo diante de inúmeras situações políticas, como descreve o professor. As decisões se concentraram no poder, num momento em que o rei dom João VI deixa o país para voltar a Portugal, após a derrocada de Napoleão. Fica o príncipe regente, num reinado com cinco lideranças brasileiras. "Pedrinho" percebe a manifestação interna e, antes que se torne revolta, centraliza a política. Ou seja, nenhuma medida passaria sem o conhecimento ou aval dele.
No entanto, no início de 1822, a lideranças portuguesas queriam a volta do regente a Portugal, temendo o rumo da busca pela emancipação política. O regente não só eterniza o "Dia do Fico" em 9 de janeiro, como afaga o ego dos brasileiros como medidas como as represálias a membros do exército português que lhe desobedecessem.
O reinado contava com um líder brasilero, José Bonifácio Andrada e Silva, que tinha uma visão além, como destaca Marcominini. Ele já ditava que o Brasil deveria ter uma capital em seu centro, à época que o comando ficava no Rio de Janeiro. Pois foi Bonifácio que flagrou uma carta vinda de Portugal nada amistosa com o povo colonizado. Mais do que depressa, delatou ao "chefe", que reagiu com o decreto da independência.
Na prática, Portugal só desapegaria da colônia três anos depois, enquanto em outros países esse processo não passou de um ano, como explica o professor. E o povo continuou na mesma. A mudança só foi na nomenclatura: a população deixava de ter um regente para ter um imperador. "A independência não passou pelo povo, mas pela organização e interesse das elites, da mesma forma que ainda ocorre hoje na política. A população não foi para as ruas para reivindicar uma sociedade melhor", ilustra.
Os brasileiros ainda pagam por isso, ainda que em outro contexto. Em meio à desigualdade e às consequências de uma crise econômica com inúmeros desempregados, o "tesouro perdido" do ex-ministro Geddel Vieira Lima, descoberto na Bahia, ainda mostra como quase dois séculos não foram o bastante para desfazer certos vícios. Em 1825, o Brasil pagou pela independência, ao indenizar Portugal em dois milhões de libras esterlinas.
Conforme Marcomini, o próprio Geddel, investigado pela Polícia Federal e que está em prisão domiciliar, sem tornozeleira, retrata bem outra herança pós-independência: os coronéis. Como não houve transformação social, os ricos permaneceram ricos, e os pobres, pobres. As famílias ricas também reinaram, e reinam Brasil afora, a exemplo dos Collor e Sarney, como cita o professor.
CONHECIMENTO X INFORMAÇÃO
Mais do que na informação, é necessário investir no conhecimento, como defende o professor. Só desta forma é possível alcançar a transformação social que não foi plantada há quase 200 anos. "A elite chegou ao poder pelo conhecimento, mas sem olhar para a base. É preciso refletir a participação popular na transformação social, por meio da politização. Hoje, o que muda a sociedade é a diversidade de ideias, não o monopólio", reforça.
Se antes a independência foi "só para português ver", passou da hora de um olhar mais amplo sobre a desigualdade social perpetuada até os nossos tempos, como reitera o professor. "Um país em desigualdade não pode dar certo. O Brasil é um dos poucos que não cobra imposto sobre fortunas, e ainda está preocupado em passar os débitos para o povo, a exemplo da mais recente alta do preço da gasolina. Falta enxergar que melhorar a base é vantagem também para quem está em cima", finaliza.



quinta-feira, 8 de junho de 2017 | By: Daíza de Carvalho

Precisamos da inocência de Diana (uma reflexão sobre o filme da Mulher Maravilha)

Diana: um poço de razão num desvirtuado mundo em guerra 
(Warner Bros. Entertainment/Divulgação)
Você não vai assistir a um blockbuster esperando sair de lá incomodado, pensando na vida. Pois eu diria que este é o principal super poder da Mulher Maravilha.
Se à nossa cultura parece ridículo ver em algo tão banal quanto um relógio aquilo que dita o que temos que fazer, cômico ter a hierarquia profissional relacionada à escravidão e algo corriqueiro em ver pessoas sofrendo e simplesmente ignorá-las, o problema talvez não seja o roteiro, mas vida real.
Infelizmente, perdemos a inocência que transborda na deusa vinda de um mundo sem terceiras intenções, sem cobiça ao poder, mas à justiça. O que você teria a dizer para referenciar o lugar de onde veio? De onde você vem as pessoas lutam ou se acovardam?
Os questionamentos de Diana parecem cômicos, mas a seriedade com que ela os faz, deveria ser levada a sério. Por mais utópico que seja, não deveria ser normal ver o terror se alastrar na sua frente e simplesmente continuar o seu caminho. O problema do mundo é que as exceções viraram regra. E o olhar de Diana não aceita isso. Nós não deveríamos. Mas, enfim, não nascemos em Temiscira. Nascemos condicionados à passividade (entre tantas outras coisas, boas e ruins), e a maioria de nós assim permanece, à espera do despertar por uma heroína, quem sabe.
Mas, a humanidade... dark side/light side. Todos temos. A explicação mitológica até parece fazer sentido, assim como a justificativa do vilão: os homens fizeram a bagunça, e não Deus. Como dar chance ao lado bom? Ser misericordioso ou não com o lado ruim?
Fiquei pensando que os poderes de Diana seriam muito bem-vindos principalmente às mulheres com TPM. Mas teríamos o senso de justiça da heroína para usá-los? Em que ponto deixamos de ser justos para ser vingativos? Essa linha ainda existe, conseguimos enxergá-la? Qual o sentido de atacar? Recuar é perder?
Ao sair da sala, a frustração não foi de não ter cenas pós-créditos. Foi ter escancarado, por uma ficção, o quanto regredimos ao querer evoluir. Que ao perder a inocência, nossos julgamentos ficaram difusos demais. Aderimos a justificativas que quase nunca fazem sentido. E paramos de questionar. A pancadaria mais dolorosa de Diana são as suas perguntas. Para quem se permitir usar o filtro da sua inocência.

quinta-feira, 1 de junho de 2017 | By: Daíza de Carvalho

Idosos devem atualizar CadÚnico para manter BPC

Benefício é voltado a idosos e deficientes em situação de vulnerabilidade social

Daíza Lacerda

Idosos que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) devem comparecer no Ceprosom para atualizar o Cadastro Único. A atualização é obrigatória para todos os beneficiários até o final deste ano, sob o risco de ter o pagamento suspenso.
O benefício de um salário mínimo é pago pelo governo federal a idosos acima de 65 anos e deficientes cuja renda familiar seja de até 1/4 de salário mínimo per capita, ou seja, para pessoas em situação de vulnerabilidade, como explica Maria Aucélia Damaceno, presidente do Ceprosom. Ela ressalta que o recadastramento dos deficientes será no próximo ano.
Apesar do alerta de recadastramento no extrato, mais da metade dos beneficiários em Limeira precisam comparecer para atualização. No município são 2.270 idosos cadastrados, sendo que 1.311 estão com o recadastro pendente. Entre os deficientes são 1.952 beneficiários que deverão atualizar no próximo ano.
Maria Aucélia alerta que muitas pessoas confundem o benefício com aposentadoria. No entanto, o BPC não é válido para aposentados.
Além do recadastramento, outras mudanças são implantadas neste ano em relação ao BPC. O Ceprosom fará o acompanhamento dos beneficiários, numa busca para incluí-los nos serviços de assistência social, tendo os idosos como público prioritário.
O acompanhamento dos beneficiários deficientes será feito independentemente da idade. No entanto, há o BPC Escola, voltado àqueles de 0 a 18 anos. São 544 nesta faixa etária, que já tiveram a distribuição de questionários para identificar barreiras e as necessidades para atender de foram específica. "Isso deve ser alinhado com outras políticas públicas, com a acessibilidade na escola e no transporte, para garantir o acesso", explica.
O questionário mostrará ao Ministério do Desenvolvimento Social como o município está em outros âmbitos além da assistência nas políticas de inclusão. Até agosto será desenvolvido um plano de trabalho com essas pessoas".
Maria Aucélia salienta que o levantamento da demanda de idosos para acompanhamento já é feito nos Cras, ainda que não em grupos específicos.
A atualização só não é válida para idosos em situação de abrigamento e para os maiores de 80 anos, para os quais o governo federal prevê atendimento em domicílio. Para recadastrar, basta levar documento original. O atendimento é de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 15h30, na Avenida Campinas, 115, Cidade Jardim (sede do Ceprosom). Mais informações pelos telefones 3404-6264 e 3404-6265.

Publicado na Gazeta de Limeira.

Câmara de Cordeirópolis decide manter Dudu

Votação ocorreu na sessão desta terça-feira, em retomada de projeto de decreto legislativo

Daíza Lacerda

Menos de uma semana após o vereador Rinaldo de Lima (PMDB), o Dudu, retornar à Câmara de Cordeirópolis, os demais vereadores votaram por mantê-lo no cargo. Dudu voltou por decisão do Tribunal de Justiça, que suspendeu, em maio, liminar que havia extinto o mandato, em março.
Com a decisão mais recente, foi retomado na Câmara o processo que julgaria o vereador, mecanismo usado com base na Lei Orgânica do Município. O projeto partiu de reação da Câmara diante de inquérito instaurado pelo Ministério Público, que cobra a extinção do mandato de Dudu devido à condenação transitada em julgado, e não apenas a suspensão, como adotou o Legislativo, com base no regimento interno. Diante da reivindicação, vereadores decidiram seguir a Lei Orgânica do Município, que prevê a extinção no caso de condenação, desde que passe pelo aval de todos os vereadores, com direito de defesa do vereador.
Preso em 5 de janeiro por contravenção penal envolvendo máquinas caça-níquel, Dudu cumpriu a pena de três meses, parte em regime aberto, em sua residência. Ele tinha uma condenação anterior, que foi extinta por prescrição. No processo de 2012, ele era um dos responsabilizados por falso testemunho, em caso também relacionado com máquinas caça-níquel em seu estabelecimento.
Na votação do projeto de decreto legislativo, Dudu foi absolvido pelos vereadores do mesmo partido, o PMDB, com votos contrários à perda de seu mandato (do presidente Laerte Lourenço e Cleverton Nunes) e dos partidos aliados (Cassia Moraes-PDT, Antonio Marcos da Silva-PT e Sandra Cristina dos Santos-PT), além de José Geraldo Botion (PSDB). Votaram a favor da perda do mandato Anderson Antonio Hespanhol (PPS) e Mariana Fleury Tamiazo (SD). Por ser parte interessada, Dudu não votou.
AÇÃO CONTINUA
Promotor do Ministério Público, Luiz Alberto Segalla Bevilacqua lembra que a decisão da Câmara não muda o andamento da ação civil pública que tramita na Justiça. A suspensão que reconduziu  Dudu à Câmara foi da liminar, e não do processo. O desfecho dependerá da decisão de juiz em 1º grau. Para o MP, Dudu não tinha condições legais para concorrer às eleições, mesmo que suas condenações transitadas em julgado (uma delas extinta) tivessem sido descobertas depois de eleito. O fato das condenações não terem aparecido em suas certidões deve ser investigado. Dudu foi o terceiro vereador vais votado, com 379 votos.

Publicado na Gazeta de Limeira.

quarta-feira, 17 de maio de 2017 | By: Daíza de Carvalho

Ação tem abordagens e demolição no Ibirapuera

Insegurança no entorno é foco de reclamações frequentes de vizinhos e comerciantes

Daíza Lacerda

A área verde próxima do Centro Pop, entre os bairros Ibirapuera e Parque das Nações, teve ação conjunta de diversos órgãos, iniciadas na manhã de ontem. O ponto conhecido como refúgio de dependentes químicos teve abordagem do Ceprosom e Guarda civil Municipal, além da Secretaria de Obras e Serviços Públicos, que iniciou a limpeza no local, com retirada dos barracos montados na área. O prefeito Mario Botion também acompanhou a ação.
Vanderléia Serrano, diretora de Proteção Social do Ceprosom, explicou que haviam oito pessoas no local, todas moradoras dos bairros próximos. Apesar da referência do local para consumo de drogas, as pessoas abordadas, quatro homens e quatro mulheres, não se mostraram sob efeito de entorpecentes, e foram orientados sobre os serviços de assistência da autarquia, além do tratamento contra dependência oferecido pelo Caps. 
Ela explica que, com abordagens constantes, é notada a redução da aglomeração no local, pelo menos durante o dia. Mas a saída definitiva depende da aceitação dos abordados para iniciar tratamento e voltar para a família.
Secretário de Segurança Pública, Francisco Alves ressaltou que as viaturas permanecerão com rondas na região, num policiamento mais ostensivo. Não foi flagrado nada de ilícito pela corporação, mas a ação de pessoas em situação de rua é preocupação dos moradores e comerciantes, como a Gazeta divulgou no domingo. Os relatos são de intimidação, provocando uma espécie de comércio paralelo para garantir cigarros e bebidas e evitar furtos. O secretário salientou que características dos suspeitos e ameaças podem ser denunciadas anonimamente pelo 153, além do registro de boletim de ocorrência.
LIMPEZA
O trabalho de limpeza continua hoje, mas, só ontem, 150 toneladas de entulho foram tiradas da área, em 14 viagens de caminhão. Foram podadas 60 árvores e a capinação atingiu 72 mil m², com uma equipe de 63 pessoas e três tratores, como informou o titular de Obras, Dagoberto Guidi. Ele informa que outros serviços foram providenciados, como tapa-buraco, recuperação da pista de caminhada, limpeza de bocas de lobo, recomposição de muros-ala e retificação do ribeirão. A proteção da ponte entre o nações e Cecap também será providenciada, e deve ser colocada até a próxima semana. A ação de limpeza demandará pelo menos mais três dias.