sábado, 14 de julho de 2012 | By: Daíza de Carvalho

Elza Tank: figura única na lembrança dos contemporâneos

Amigos contam do apelido de infância ao apreço pelo desfile vencedor

Daíza Lacerda

No local que acolhia idosos, ela era a "Menininha". Esse era o apelido de Elza Tank na infância, no Asilo João Kühl Filho, fundado pelo seu avô que também é o patrono. Elza nasceu e viveu no asilo, tendo se mudado após o seu casamento. Se para Limeira ela era a vereadora ou presidente da Câmara, Elza Tank,para Hilze Soares Dibbern, de 77 anos, ela ainda era a "Menininha".
Hilze conta que conviveu com a família durante anos, tendo morado com a irmã de Elza. "Limeira não teráoutra mulher como ela. Por tudo o que ela representou, era uma pessoa muito simples".
O porte de Elza não lembrava em nada o apelido. Não passava despercebida. Ninguém nega o seu gênioforte. "Mas ela sabia reconhecer quando estava nervosa além da conta", diz Hilze, que já recebeu deMenininha pedidos de desculpa após episódios de fúria.
Fúria, porém, seria o sentimento da mãe de Elza, dona Quinha, diante do idealismo político da filha. "DonaQuinha ficava muita braba. Não queria que Menininha se envolvesse com política, por conta do que o pai jáhavia sofrido", declara, referindo-se a Lázaro da Costa Tank, que foi vereador. "A mãe temia pelo que o paisofreu. Na época da ditadura, ele precisou se esconder no porão de casa", diz. Não adiantou. Nos relatosde Hilza, Elza saía escondida da mãe. E a própria Hilze ajudava a acobertar, com desculpas.
Alegre por natureza, o dia em que esbanjava felicidade era em seus aniversários, como ilustra a idosa.Porém, quando estava braba, o que não era raro, erá facil saber. "Principalmente com a política, quando acontrariavam, saía fogo. Não podia nem falar com ela. Mas era uma pessoa transparente, tanto na vidapública quanto na pessoal".
BANDEIRA BRANCA
Pelo menos por uma década, antes de o carnaval de rua de Limeira ser esquecido, Elza se dedicou à suaescola de samba, a Bandeira Branca. "'Nós saímos para vencer. Bandeira Branca não perde nunca'. E nãoperdia", testemunha Claudinéia Franco, a Néia, enfermeira que esteve durante 15 anos com Elza, inclusive em seus minutos finais. Ao repetir o brado de Elza nos ensaios e nas apresentações, Néia lembra que aescola reunia duas mil pessoas, com tudo nos mínimos detalhes, para garantir, ano a ano, o título decampeã. "Ela sempre desfilava como rainha das baianas, que era a ala da qual cuidava. Toda a famíliaajudava", recorda.
Néia diz que foi muito triste acompanhá-la nos últimos dias. "Era muito emotiva, chorava com as visitas. Era autoritária, mas amiga. Ela não aceitou a doença, lutou. Foi uma guerreira". Ela se lembra ainda quehá cerca de dois meses Elza ainda falava em serviço, mesmo debilitada. Falava de reuniões e escalavapessoas para substituí-la.
O único desejo pós-morte externado por Elza a Néia, em outras épocas, foi de que, quando partisse, fossetocada a marcha carnavalesca Bandeira Branca. Se o pedido for atendido em seu sepultamento, hoje, Elzalevará para a eternidade os versos que também eram cantados por ela e a enfermeira em suaconvalescência: "Bandeira branca, amor / Não posso mais / Pela saudade / Que me invade eu peço paz".

"Nunca se perdeu no discurso, peitava autoridades"

João Valdir de Moraes, repórter da Gazeta, foi assessor de Elza Tank durante 13 anos, a partir de suaprimeira candidatura, em 1982. "Além da Câmara, neste tempo ela atuava também na Prefeitura comatendimentos sociais, principalmente voltados à saúde da mulher", recorda.
As campanhas políticas eram marcadas com comícios de grandes shows. De artistas e de Elza. "Desde oinício, seu discurso era inflamado. Quando pegava o microfone para falar, era um silêncio total. Nunca seperdeu, sempre se impôs, ao estilo 'dedo no nariz'. Peitava autoridades, dentro de suas razões", descreve.
A vereadora era também sentimental, tendo publicado livros de poesias. Apesar do estilo "linha-dura" napolítica, gostava de dançar e cativava crianças. "Era exigente e perfeccionista. Porém, muito humilde,sincera e humana, além de vaidosa", conta.
Sua popularidade sempre foi alta e beneficiava também outros candidados pelos partidos que disputava.Moraes lembra que ela sempre dizia que não tinha inimigos, apenas adversários políticos. O maisdeclarado deles seria o ex-prefeito falecido Paulo D'Andréa. (Daíza Lacerda)

Da braveza à delicadeza, amigos descrevem Elza Tank

Uma das paixões de Elza era a dança, destacada por seus contemporâneos, como Moacir CamargoSilveira Filho, que atuou com ela em dois mandatos de vereador. "Ela dizia que eu era orgulhoso, porqueela sempre quis dançar comigo e eu não quis. Porém, isso foi antes de convivermos de forma maispróxima na Câmara", lembra. Depois disso, é claro, ele não negou uma dança com Elza. Irmão do ex-prefeito falecido Memau, ele lembra ainda o esforço dela de trazer ao município a primeira Delegacia deDefesa da Mulher do Estado.
"É uma pessoa que nunca disse não. Desde a juventude sempre foi muito alegre, de chorar e rir aomesmo tempo", relembra Marilene da Cunha Bagnato, da Associação Limeirense de Combate ao Câncer (Alicc). Ela pontua a luta de Elza no auxílio a tratmentos contra o câncer muito antes da formalização dainstituição. "Ela participava ativamente e nunca deixou de ajudar. Na necessidade, um telefonema bastava.Na juventude, estava sempre voltada à comunidade, que era um sinal que se devotaria ao povo".
"Era braba, sim, geniosa. Mas muito humana", disse Glória Cruañes de Souza Dias, que a acompanhou também em seus últimos momentos. A educadora Célia Pressinatto lembra do engajamento de Elza na época do antigo colégio Mobral, "que fez de Limeira um modelo reconhecido no Brasil, com sua determinação de sempre fazer as melhores coisas". Ela também contribuiu na implantação do primeiro modelo de curso supletivo. "O que começa a surgir agora, ela pensava há 20 anos, como o hospital da mulher, que era o seu sonho. Era uma mulher de energia positiva, feita para o povo. Limeira perde uma grande líder".
Contemporâneo de Elza, o promotor aposentado Cássio Mônaco lamenta que Elza não tenha realizado, em vida, o que seria o seu maior sonho. "Certamente ela realizou muitos, entre eles a instalação da delegacia da mulher. No entanto, o hospital da mulher foi um desejo frustrado". (Daíza Lacerda)


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