terça-feira, 29 de março de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Um botão do respeito pelo botão do pânico

COLUNA RELEITURA - 29/03/2016

Um botão do respeito pelo botão do pânico

Daíza Lacerda

A mulher de 44 anos foi encontrada ensanguentada, no chão da própria casa, após ter sido espancada pelo marido com um cabo de vassoura. O repórter Denis Martins contou a história de terror da vida real na última semana, que terminou com o agressor preso e a vítima socorrida. Seria este um final feliz?
É difícil imaginar como uma pessoa que se escolhe para compartilhar a vida se torna uma ameaça dentro de casa. E, em tempos de empoderamento feminino e conscientização dos próprios direitos, a violência doméstica ainda se alastra de forma surpreendente. Viram os séculos, mas o homem ainda se acha no direito de ser dono de alguém. Até quando?
Por mais numerosos que sejam os casos, ainda é desconhecida a dimensão do inferno que tantas mulheres ainda vivem em seus "lares". São histórias que raramente vêm a público, principalmente para preservação da própria vítima. Mas algumas, quando conseguem se libertar do ciclo de violência, dividem suas dores e esperanças. É o que fez uma argentina casada com um brasileiro e que viveu em cárcere privado no Rio de Janeiro. Em depoimento à Folha de São Paulo (http://bit.ly/1MwhE9X), ela contou como a filha de 13 anos a salvou da prisão, chamando a polícia. Coagida, afirmou que estava tudo bem, num primeiro momento. Com a insistência dos policiais, não desperdiçou a chance criada pela filha e pôs a limpo toda a violência vivida em quatro anos.
Muitas vezes, mesmo sob proteção, o mal ainda cerca. E é para esses casos que Limeira terá como recurso o botão do pânico, um socorro imediato para vítimas de agressores insistentes. Embora bem-vinda como mais uma forma de garantia de proteção, não deixa de ser absurda a necessidade de criar mais recursos contra quem deve receber punição de uma vez por todas.
Felizmente, as mulheres têm serviços aos quais recorrer quando estão determinadas a vencer o medo. No entanto, até que ponto isso torna agressores mais conscientes? Por quê essa incidência não para? Por quê homens ainda continuam violentando suas próprias crianças e esposas dentro de casa? Será impunidade? Excesso de confiança? Ou uma patologia que a ciência ou razão ainda não sabem combater?
Não são só direitos de mulheres em questão, mas direitos humanos. O que sobra quando se perde o respeito? A origem da violência pode ser imperceptível. O que começa com piadinhas machistas levadas na brincadeira podem se tornar um atestado de posse na cabeça de quem não está alinhado com a realidade dos direitos e deveres. 
Claro, ainda há o álcool e drogas, que também levam a culpa na tentativa de isentar ou minimizar a barra de quem solta as feras sobre indefesos. Ciúmes, problemas conjugais, não importa a situação: nunca será o bastante para justificar agressões.
Estamos em tempos nos quais as pessoas são panelas de pressão ambulantes. É mais fácil recorrer à bebida do que ao diálogo, ao grito do que ao silêncio. Não haveria botões do pânico suficientes para dar conta da intolerância de todos os tipos. Realidade de quem pensa viver na "civilização". Um lugar que, depois que se perde o respeito, a luta é para não perder a vida.


Publicado na Gazeta de Limeira.
terça-feira, 22 de março de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Os radicais não são livres

COLUNA RELEITURA - 22/03/2016

Os radicais não são livres

Daíza Lacerda

A foto de dois homens (um pró e outro anti governo) se agredindo em plena avenida Paulista já seria o bastante. Mas os inúmeros relatos de pessoas sendo machucadas e hostilizadas devido a posições políticas (não necessariamente expressas) são assustadores. Muita gente coloca a máscara do civismo para protestar na rua e pedir justiça, mas sustenta atos atacando e desrespeitando quem pensa diferente. Nunca antes na história deste país, como na última semana, o livre direito da expressão e opinião foi tão maculado. Talvez uma parcela esteja colocando em ação o anseio de retomada da ditadura militar. É o que parece quando só a própria convicção é que interessa, e os outros que se adequem ou sumam. Não é?
O festival de ataques e xingamentos vitimam até mesmo quem não quer entrar no fogo cruzado. A intolerância é um pavio que explode diante das cores que as pessoas usam, ou daqueles que usufruem de obras que um ou outro gestor fez. E por que todo mundo é obrigado a ter ou a expor um posicionamento? E daí se há quem queira ficar em cima do muro?
O problema não é a questão do posicionamento, mas do respeito. Quer cobrar o que na rua o "cidadão" que, para se impor, abusa das agressões verbais e físicas? Pode até parecer ingenuidade idealizar a paz num cenário de guerra em erupção. Mas esses eventos de intolerância só mostram que boa parte do povo não consegue ser melhor do que os responsáveis pelos males que eles dizem querer combater.
Não há como negar que o governo e o Judiciário forçam a amizade, cada um ao seu modo, o que até agora só serviu para acirrar a discórdia e chegar a conclusão nenhuma de efetivos culpados. Que é, de fato, o que interessa, por trás do show.
Não sabia se ria ou se chorava diante da chamada de um artigo do Jornal Nexo: "Como discutir política no almoço deste domingo e continuar na família" (http://bit.ly/1Ra1ke2). Na matéria, é considerada a análise de Christian Dunker, psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, que avalia que "o clima de expectativa sobre se o governo atual continuará ou não no comando e o debate sobre se a Justiça e o Congresso estão recorrendo a um vale-tudo têm feito com que as pessoas encarem quem discorda como um obstáculo à concretização daquilo que acreditam ser o melhor cenário - nesse caso, a permanência ou queda do governo". Então, como fica se cada um tratar alguém de posição distinta como um rival, um inimigo? E se esse respeito não existir nem entre familiares?
É claro que as pessoas são movidas por convicções. Afinal, são elas que nos moldam. Mas, quando se transformam em fanatismo, não há nada de construtivo, como a História não cansa de nos mostrar. O radicalismo, pior ainda. A História também tem exemplos, indigestos, daqueles que  tinham certeza de que eram donos da verdade e que valia tudo até as últimas consequências para impor a sua ideia de mundo.
Falta a muita gente que esbraveja um pingo de humildade para reconhecer a complexidade do caldeirão Brasil, com variáveis que fogem do nosso conhecimento e, principalmente, da nossa análise. Afinal, ninguém é dono da verdade.
Já é difícil o bastante estar preso numa teia de variáveis que não depende de nós, como regras da economia e surpresas da própria política. Mas triste mesmo deve ser tornar-se escravo de uma convicção, viver (?) acorrentado a uma ideologia.
terça-feira, 15 de março de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Muito além das palavras de ordem

COLUNA RELEITURA - 15/03/2016

Muito além das palavras de ordem

Daíza Lacerda

Foi bonito, foi. Foi intenso. Mas, verdadeiro? Bem...
Essa mobilização toda nas ruas de tantas cidades do Brasil terá efeito prático nas próximas eleições? Podemos esperar mudança real emanada de um povo que mantém no poder gente como Fernando Collor e Renan Calheiros? Será que são pessoas que analisam as câmaras (municipal, estadual e federal) que criaram com o seu voto? São cidadãos que acompanham se os seus edis andam propondo ou apoiando balelas ou iniciativas realmente necessárias?
Nas ruas, os brados de uma contradição: contra a corrupção e a favor do impeachment. Sem que exista, até o momento, elementos que sustentem a saída da presidente, provas de ilegalidades. E pior: o que viria em seguida à queda de Dilma? Se o Brasil não tem um plano com ela, que dirá sem, enquanto partidos e seus caciques mal se aguentam na ânsia de tomada do poder. Na qual, é claro, não está o plano Brasil. A corja espreita.
Que a situação não está favorável, é fato. A bagunça econômica e o ápice da crise de credibilidade do governo mexeram com estruturas de cabo a rabo, desequilibrando setores e, principalmente, orçamentos. Porém, a roda ainda gira e ainda não vivemos o caos de épocas que a minha geração não conheceu. O dinheiro não rende, mas, pelo menos por enquanto, ainda é possível sair do mercado com regalias que eram inimagináveis por famílias que contavam os miúdos nos anos 80.
É um grande passo que as pessoas cobrem, de forma pacífica, mudanças no país. Mas, afinal, quem está cobrando, o quê e de quem? Quem atenta a isso é a jornalista Eliane Brum, em seu artigo desta segunda no portal El País (http://bit.ly/1S0gGBJ): "Elege-se os corruptos a destruir, que viram bonecos, rostos a ser eliminados. E nada se muda da estrutura que provoca as desigualdades e permite a corrupção de fundo. (...) Não há bonecos de expoentes do empresariado nacional, alguns deles já presos, julgados e condenados. (...) A cara do Mercado, a outra face dessa história, não está nas ruas como ré, apesar de também ser protagonista do esquema que está sendo desvendado pela Operação Lava Jato". Para Eliane, a voz do 13 de março é a dos que querem seus privilégios intactos. Na mesma linha discorre o jornalista André Forastieri, no Portal R7 (http://bit.ly/1QYFyrl), quando fala da preocupação dos banqueiros com a queda de seus lucros, já exorbitantes, se o governo não aumentar a taxa de juros (tão exorbitante quanto).
Não se trata de defender o governo, mas de se ater aos fatos. Por mais responsável pela baderna e incapacitada que seja, a presidente não foi condenada. E que prossigam as investigações sobre ela, seu antecessor e qualquer outro que carregue vestígios de corrupção. Mas de forma séria, sem espetáculos que mais confundem que esclarecem.
A mobilização nas ruas é necessária, mas parece faltar algo diante de motivação tão difusa. Diferentemente dos movimentos de junho de 2013, que tinha tiro certo, o movimento atual se perde no generalismo. São muitas nuances sob o ímpeto de condenar previamente. Como bem pontuou Forastieri, a necessidade é de "colocar em pauta o que realmente interessa, e o que está acima dos partidos e das pessoas: vamos construir um país mais justo, mais produtivo, mais educado e menos corrupto? Como fazemos isso? Brigando pelo que é importante, não 'contra tudo que está aí'".

Publicado na Gazeta de Limeira.


domingo, 13 de março de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Iniciada aquisição de botões do pânico

Dispositivos serão "arma" de mulheres que sofreram violência e estão sob proteção

Daíza Lacerda

O Ceprosom lançou edital para a aquisição de botões do pânico, dispositivos de segurança a serem entregues às mulheres vítimas de violência doméstica e que estão sob proteção decretada pela Justiça.
Conforme Ana Maria Sampaio, presidente da autarquia, a expectativa é disponibilizar a ferramenta ainda neste mês, já que a abertura das propostas será conhecida na próxima semana. Apesar da compra ser feita com recursos do Ceprosom, que gerencia atendimentos da Rede Elza Tank de Atendimento Integrado à Mulher em Situação de Violência, a destinação às vítimas só será feita com autorização do juiz criminal ou, em sua ausência, pela titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). No orçamento da autarquia, o custo estimado é de R$ 195.976 para o contrato de um ano para 50 botões.
O dispositivo será opção nos casos de risco de mulheres que receberam medidas protetivas que impedem legalmente que o agressor se aproxime da vítima. O recurso é para a iminência de desobediência, inclusive para mulheres acolhidas na Casa da Mulher Vítima de Violência, nos períodos que saem do abrigo. Ana Maria explica que, ao ser acionado pela vítima, o botão emite um sinal para a base da Guarda Civil Municipal, que receberá a localização da mulher e também o áudio do que se passa à volta dela. A partir do alerta, a viatura mais próxima deve se dirigir até a localização da vítima.
Ela salienta que estatísticas dos locais que usaram a ferramenta mostram queda drástica nas agressões, além de zerar as mortes por este motivo. O uso será monitorado para uma posterior avaliação do projeto, que determinará se o número de botões será suficiente ou não para a demanda do município.
Para a delegada Andréa Arnosti, da DDM, a ferramenta é mais um aparato que vem a somar na segurança das vítimas. Ela explica que, quando a mulher recebe a medida protetiva, o autor é notificado. A maior parte respeita, mas sempre tem os que descumprem, situação na qual o uso do botão do pânico permitirá um apoio imediato.
Conforme a Gazeta divulgou no último domingo, em fevereiro a DDM teve o registro de 362 boletins de ocorrência, 167 inquéritos encaminhados ao Judiciário, 170 termos circunstanciados e 81 medidas protetivas (quando o agressor não pode se aproximar da vítima), além de 6 prisões preventivas e 12 flagrantes. Na maioria dos casos, o agressor é familiar da vítima.
LEI
A iniciativa partiu da vereadora Érika Tank (Pros) em maio de 2014, quando protocolou o projeto de lei que criava o programa que tinha o dispositivo como opção de segurança preventiva. A proposta não avançou, mas o Executivo deu sequência à ideia, com nova propositura um ano depois. Aprovada, a lei de criação do programa entrou em vigor no final de junho do ano passado.
Com o projeto prestes a sair do papel, a vereadora comemora a integração de poderes para que esse tipo de proteção se torne realidade. Ela conta que a iniciativa teve origem em Vitória-ES, e Limeira deve ser a pioneira no Estado a implantá-lo, já que várias cidades teriam aprovado a ideia, sem necessariamente tê-la colocado em prática. "É um passo grande para Limeira como uma cidade melhor nesse atendimento, para conter a violência. O município deve se tornar referência no Estado".
Outro ponto destacado por Érika é não só a eficácia maior no socorro à vítima em perigo, mas o fator psicológico. "O fato de ter o botão proporcionará maior sensação de segurança à vítima, além de mais respeito por parte do agressor", considera.
O programa de segurança recebeu o nome de Priscila Munhoz, também por iniciativa da vereadora. O objetivo é homenagear a jovem assassinada aos 26 anos pelo ex-namorado, em 2013. Ela foi morta com um tiro na cabeça, dentro de uma loja no Centro. A vítima já havia registrado boletim de ocorrência contra o assassino por ameaças, e obteve na Justiça uma medida protetiva que proibia o ex-namorado de se aproximar dela, podendo ser preso caso descumprisse a ordem judicial. Mesmo assim, ele cometeu o crime e se suicidou em seguida.

Foto: Divulgação
Dispositivo será recurso em casos de risco de mulheres que já têm medida protetiva decretada




sexta-feira, 11 de março de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Com 1,3 mil adesões, regularização onerosa é prorrogada por 1 ano

Daíza Lacerda

Decreto municipal publicado nesta semana prorroga em mais um ano o programa de regularização onerosa. O novo período será contado a partir de 28 de maio, em prorrogação que já era prevista de forma facultativa na lei.
Conforme o secretário de Urbanismo, Alex Marques Rosa, a opção pela prorrogação foi por diversos fatores. Além da situação econômica atual, que pode prejudicar o pagamento de taxas, o objetivo é evitar correria de última hora que pode aumentar o número de processos, desqualificando as análises.
A lei que lista as normas para regularização onerosa de construções já edificadas, mas irregulares de acordo com a legislação urbanística do município, dobrou o número da entrada de processos na secretaria no ano passado. Em 2013 e 2014, foram 1,8 mil e 1,4 mil novos processos de planta, respectivamente. Em 2015 foram 3 mil, sendo 1,3 mil só da regularização onerosa.
A estimativa inicial era de 70 mil imóveis com irregularidades, mas os casos mais graves são considerados em torno de 5 mil, como explica Alex. Na prorrogação com as mesmas regras, a expectativa é ampliar o alcance do programa.
Foram aprovados 448 projetos, e 261 estão em análise. O problema são os mais de 500 parados no processo chamado internamente de Comunique-se. São situações com correções pendentes, como falta de documentos, o que exige o retorno dos profissionais que estão cuidando da regularização. O problema persiste mesmo com a listagem objetiva dos itens necessários.
Os projetos voltam pelo menos uma vez para correção, e um mutirão recente alavancou 132 aprovações só em fevereiro. "O volume dobrou, mas a equipe não. Melhoramos a eficiência e estamos reduzindo o acúmulo mês a mês", salienta Alex.

Publicado na Gazeta de Limeira.
quinta-feira, 10 de março de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Entidade assume acolhimento de crianças e adolescentes

Convênio foi assinado ontem com Aldeias Infantis SOS Brasil, de atuação internacional

Daíza Lacerda

As regras do reordenamento do acolhimento de crianças e adolescentes passa a ser cumprida em Limeira, em processo que culminou ontem com a assinatura do convênio com a entidade Aldeias Infantis SOS Brasil, que fará a gestão dos abrigos no município. "É um momento histórico para Limeira. O município está cumprindo o Estatuto da Criança e do Adolescente", comemorou Ana Maria Sampaio, presidente do Ceprosom. O atendimento é para jovens que são encaminhados ao abrigamento a partir de determinação judicial, quando a Justiça entende que a família não tem ou não está em condições de cuidar da criança ou adolescente.
Com prazo para atender às mudanças que devem vigorar em todo o país até o próximo ano e um inquérito civil público para responder, o município aplicava gradativamente as mudanças exigidas, como a não separação de irmãos ou por sexo, além do acolhimento em grupos reduzidos. Pelas regras, instituições como a Casa da Criança e Nosso Lar não poderão abrigar mais que 20 crianças cada, enquanto cada casa-lar tem o limite de 10 pessoas. Este último modelo está em funcionamento, com dois abrigos até então geridos pelo Ceprosom, assumido pela Aldeias. Atualmente são 13 abrigados em dois imóveis, com crianças e adolescentes, incluindo jovens com bebês.
HISTÓRICO
Até que o convênio com a Aldeias fosse dado como certo para efetivar o reordenamento, outras opções foram estudadas, como a gestão pelas instituições existentes. No entanto, a entidade já dispunha de histórico antigo e internacional nesse tipo atendimento. Fundada na Áustria em 1949, está presente em mais de 100 países e em mais de 10 estados brasileiros.
A entidade não tem fins lucrativos, e receberá subvenção municipal e federal para as suas atividades. Projeto aprovado no mês passado na Câmara autorizou recurso de R$ 1,5 milhão para o primeiro ano de convênio, previsto no orçamento do Ceprosom. A subvenção inclui recursos federais e envolve verba para materiais permanentes e mobília, que permanece como patrimônio do município, mesmo que o convênio não seja renovado futuramente.
AUTONOMIA
Um entrave que deixa de existir é o das obrigações legais para compras, por exemplo. Se no âmbito público é necessária licitação, a entidade terá autonomia para garantir o que for necessário, e com rapidez.
A independência abrange os imóveis que sediarão as casas-lares. Os atuais, até então alugados pelo Ceprosom, serão substituídos por outros de escolha da entidade. Dois devem estar estruturados até o final deste mês, e outros dois até o final de abril, que devem receber grupos de irmãos das outras instituições.
Sérgio Eduardo Marques da Rocha, subgestor nacional do Aldeias, explicou que as mudanças incluem trabalho com a comunidade em que estará inserida a casa-lar, para a interpretação correta do serviço desenvolvido. Entre os critérios de escolha do imóvel estão locais com maior acessibilidade e serviços.
Rocha explicou que a Aldeias solicita um estudo da realidade local para direcionar o trabalho, quando a entidade é procurada. No caso de Limeira, afirmou que o município já dispunha de um diagnóstico detalhado dos serviços oferecidos e dos que precisam ser implantados. "É uma rede bastante estabelecida, que desenvolve o trabalho há muito tempo. O reordenamento é uma adequação à legislação nacional, e está sendo feito com planejamento no município", avaliou.
Salientou que o município deixa de ser executor, ao contratar os serviços. Assim, todos os profissionais serão admitidos pela entidade, que já faz a seleção. A assistente social Silvana Aparecida Chiusi é quem coordenará o serviço em Limeira. Ela explicou que, além das casas, haverá um escritório da entidade, onde ficarão os técnicos. A equipe contará com dois psicólogos, dois assistentes sociais, assistente de desenvolvimento familiar e as mães sociais. Cada casa terá uma delas, além de um apoio. São profissionais que vão morar nas casas, com folgas semanais, e serão responsáveis diretas pelas demandas dos acolhidos, como levar e buscar da escola, por exemplo.
ENVOLVIMENTO
O prefeito Paulo Hadich destacou o envolvimento do poder público com o reordenamento. "Poucos municípios vivem esta realidade. O trabalho em rede hoje traz mais resultados, a partir do comprometimento. No que se trata da assistência, a preocupação é com os resultados, mesmo que seja necessário usar recursos de outras áreas".
Ana Maria, do Ceprosom, lembrou das particularidades em lidar com jovens em situações delicadas. "Foram muitos mecanismos para que o reordenamento acontecesse, vários processos e amadurecimento. É uma questão que não se resolve de qualquer forma. Constatamos a seriedade da entidade, e fizemos um trabalho de formação conjunta com as instituições e os técnicos. É um trabalho difícil lidar com crianças que estão fora do lar, sem os pais ou irmãos por perto. Não podemos vitimizá-las duas vezes. Com mais um parceiro, nossas crianças serão melhor atendidas".





Foto: Divulgação
Convênio com a entidade Aldeias foi assinado na tarde de ontem na sala de reuniões da Prefeitura

Publicado na Gazeta de Limeira.

Vocação para lazer será explorada ao lado do Limeirão

Estrutura mais voltada ao esporte será viabilizada a partir de contrapartida

Daíza Lacerda

Aos poucos, adeptos dos esportes começaram a tomar conta do entorno do estádio Major José Levy Sobrinho, o Limeirão. A adesão de caminhantes, por exemplo, é tamanha, que a divisão de espaço entre pedestres e veículos resulta em problemas, como acidentes. Mas a expectativa é que a questão seja solucionada com o início da revitalização do entorno do estádio, que receberá equipamentos de esporte e lazer por meio de contrapartida.
O projeto foi apresentado ontem pelo prefeito Paulo Hadich e o secretário de Urbanismo, Alex Marques Rosa, sendo que as obras tiveram início nesta semana. Tanto este projeto quanto o bosque que será feito no antigo zoológico são contrapartidas do mesmo empreendimento que teve aprovada a primeira fase de um loteamento na rodovia Limeira-Iracemápolis.
No lado do estádio em que já existem alguns equipamentos está previsto o fechamento do acesso de carros. Será feita uma pista de caminhadas, raias de 100 metros e uma ciclovia em todo o entorno. Brinquedos, academia ao ar livre, banco de areia para slackline, mini campo de futebol e de basquete serão algumas das opções. Banheiro e bar do estádio também devem ficar abertos para o público.
Hadich informou que o objetivo inicial era a ação no bosque, mas a chuva dificultou os trabalhos. Além dos equipamentos previstos, outras atividades podem atrair mais pessoas para o local. Um dos exemplos é a feira do produtor rural. A projeção é que as mudanças sejam concluídas em até 60 dias.
CONTRAPARTIDAS
As intervenções nos dois locais saíram de um banco de projetos existente na Secretaria de Urbanismo, em iniciativas que aguardavam a verba e a vez. Neste caso, vão sair do papel pela impossibilidade de mensurar, no momento, o impacto do empreendimento na Limeira-Iracemápolis, como explicou Alex. "Sabemos que a prefeitura terá custos, terá que viabilizar transporte e educação, por exemplo. Mas ainda não conhecemos a demanda e o público. Por isso foi negociada a ação compensatória em outro ponto, mas de uso comum", explica.
A escolha é consenso entre poder público e empreendedor. Apesar de depender de prazos de aprovações, todas as ações são listadas em termos de compromisso. Outros exemplos dessa iniciativa é a reforma do centro comunitário do Parque Hipólito, feito pela construtora que terá empreendimento imobiliário na avenida Dr. Lauro Corrêa da Silva. As intervenções iniciadas nesta semana na via Guilherme Dibbern também são acordo que parte de projeto aprovado na região.
Alex salienta que as medidas são previstas no Plano Diretor. São mitigadoras quando servem para equilibrar o impacto causado em determinada região, como a duplicação de uma via. E compensatória quando essa contrapartida não necessariamente ocorre na mesma área e comunidade. A lei prevê também prevê a opção de depósitos em dinheiro para os fundos de urbanização e habitação.




Foto: Mário Roberto/Gazeta de Limeira
Nova concepção do entorno do estádio privilegiará pedestres com foco no esporte e lazer

Publicado na Gazeta de Limeira.
terça-feira, 8 de março de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Releitura - Pelo fim da autossabotagem feminina

COLUNA RELEITURA 08/03/2016

Pelo fim da autossabotagem feminina

Daíza Lacerda

"Nunca fui mulher o suficiente para chegar a ser homem". Possivelmente essa foi uma das afirmações que deixaram iradas algumas leitoras do texto de Fernanda Torres no blog "Agora é que são elas", da Folha (http://bit.ly/1Osew92). A mobilização levou a atriz e escritora a fazer outro texto (http://bit.ly/1QdZ96p), pedindo desculpas, com a justificativa que havia reproduzido a sua visão de mulher branca de classe média.
Ela termina o texto da discórdia com uma afirmação que concordo plenamente: "Fora as questões práticas e sociais, muitas vezes, a dependência, a aceitação e a sujeição da mulher partem dela mesma. Reclamar do homem é inútil. Só a mulher tem o poder de se livrar das próprias amarras, para se tornar mais mulher do que jamais pensou ser".
Há mulheres que são submetidas a amarras. E há mulheres que se submetem a elas, mesmo que ninguém obrigue. Pessoas conformadas em viver à sombra, por conveniência ou por estarem condicionadas demais a determinadas situações para reagir e agir obedecendo àquilo que, de fato, lhe fariam plenas.
Um exemplo brilhante neste sentido é Claire Underwood, a primeira-dama da série House of Cards. Não é santa, mas cheia de ambições e não vê limites para chegar ao que quer. Só que o marido, Frank Underwood, é tudo isso elevado à enésima potência, deixando de tratar a sua esposa e braço direito como companheira para transformá-la numa peça que deve ser manipulada no jogo como ele bem entender, no desespero de manter a presidência a qualquer custo.
Temos muitas Claires por aí. Talvez não tão ambiciosas, mas que se deixam levar pelo jogo. Que têm mil desculpas para justificar o adiamento dos próprios sonhos e vontades por fatores externos. Há a família. Há a carreira. Há o nome, a reputação.
Na ficção, poder e opinião pública em plena campanha presidencial não são fortes o bastante para que Claire deixe de quebrar as correntes de sua autossabotagem e dê um belo pé na bunda no homem mais poderoso do país no final da terceira temporada.
A submissão às pequenas ou gigantes anulações cotidianas são principalmente em nome da família, inclusive com a ingratidão como retorno. Na maioria das vezes, não dá para discutir com uma mãe. Não existe razão para paixões natas. Mas, se não dá para negociar com a biologia, são largas as possibilidades acerca dos padrões sociais.
Por quê uma mulher tem de se explicar pela opção de não ter filhos? Ou de ter um relacionamento e não querer casar? Ou de não ter um relacionamento e querer adotar uma criança? Acredito que ainda é grande a parcela das que se submetem ao roteiro como manda o figurino pela indisposição de argumentar as vontades próprias contra um senso enraizado praticamente desde sempre, que não necessariamente faz sentido para elas. Há pessoas felicíssimas seguindo os padrões. Outras que não veem esse caminho como ideal não deveriam hesitar em mandar às favas a família que cobra o casamento, o primeiro filho, o segundo, os netos...
Algumas dessas opções são muito bem aceitas quando é escolha de um homem. Mas vira um carnaval de pitacos quando é da mulher. A diferença está em saber se impor, e acredito que é isso que a Fernanda quer dizer quando afirma que nunca foi tão mulher para ser homem. Assim como admiro a eterna Pagu, da Rita Lee, que é mais macho que muito homem. Não é questão de feminilidade. É questão de querer, ser e fazer. Pior do que não ter direitos, é não fazer jus aos que temos. Como o livre-arbítrio. 

Publicado na Gazeta de Limeira.

terça-feira, 1 de março de 2016 | By: Daíza de Carvalho

O custo social da impunidade

Daíza Lacerda

O rosto não aparece. Mas, na boca, é inconfundível o risinho da malandragem. Dentro da delegacia, o adolescente infrator não perde a chance de tirar sarro da sociedade. Diz que vai comer às custas do governo. Para a câmera, escancara a sua vitória. E ameaça. Não foi o primeiro roubo, e nem será o último. Se não obedecerem, não hesitará em atirar. O fracasso da justiça está explícito em vídeo do portal Rápido no Ar, do jornalista Lucas Claro (bit.ly/1LqEBuN), de Limeira. Ao documentar um roubo praticado por dois adolescentes, traz como "bônus" o depoimento de um deles, que tem o efeito ardente de um tapa na cara. O jovem não mente em nenhum momento. Para o desespero dos idôneos e que se acham livres.
Com a impunidade a favor deles, jovens roubam e ameaçam como se não houvesse amanhã. Tocam o terror. A passagem pela polícia vira uma mera formalidade cotidiana. Só que o prejuízo vai muito além de quem teve levado dinheiro, objetos e veículos, só para dar alguns exemplos do que foi apreendido com a dupla. São inimagináveis o tempo, energia e recursos dispensados para remediar um tumor que só cresce. Primeiro pelo caminho escolhido por esses jovens, que nos distancia do potencial de "país do futuro". Somos um país que consome muito, mas produz muito menos do que poderia. Em cada beco das periferias perde-se a oportunidade de tornar o país um real fornecedor, e não consumidor. Não de drogas, mas de tecnologias, soluções. Genialidades em potencial que poderiam ser promissoras na escola são cooptadas pelo conceito torto do dinheiro fácil.
A segurança também é mais comprometida do que imaginamos. É claro que nenhuma cidade tem o contingente ideal para a demanda. O que também é um senso às avessas, porque o certo não é ter muitos agentes, mas nenhum crime. Por mais óbvio que isso pareça, estamos no país de pessoas condicionadas a aceitar as exceções como regras. Mas o ponto é que enquanto os agentes estão atrás de molecadas que confessam a posse de drogas e roubam sorrindo, a possibilidade é grande de outras urgências ficarem desguarnecidas cidade afora. Agora imagine duas, três ou mais ocorrências dessas por dia. Na mobilização de escrivão, guardas ou policiais, cada ocorrência demanda no mínimo uma hora para ser registrada. O prejuízo é na ronda do seu bairro ou no atendimento de crimes mais graves.
Outro rastro da impunidade é o medo e a descrença, que leva muitas pessoas a deixarem de registrar ocorrência, numa realidade oficial camuflada e que, muitas vezes, deixa as próprias autoridades de mãos atadas. A criminalidade real não é conhecida a fundo porque as pessoas deixam de registrar ocorrências, por temor dos criminosos ou por achar que não vai dar em nada. Elas se esquecem que o cidadão tem o dever de ser agente da mudança, e não é a omissão que vai melhorar a situação.
Isso é um pouco do que acontece enquanto se arrasta a discussão da redução da maioridade penal. Embora eu seja a favor, dou o braço a torcer para o argumento de que não é isso que vai resolver o problema. Não vai. A complexidade passa por vícios em muitas outras leis além daquelas em relação ao adolescente infrator, pois a impunidade não é exclusividade deles. O fato é que enquanto não forem estabelecidas mudanças que levem a uma cultura de consequências legais sérias que evidenciem que o crime não compensa, vamos ter que continuar engolindo o riso dos malandros.