domingo, 28 de agosto de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Esporte paraolímpico projeta campeões de Limeira

Daíza Lacerda


Atletas se destacam na CTLP, associação que treina deficientes de todas as idades

Foi em 2003 que o atleta paraolímpico Odair dos Santos conquistou a sua primeira medalha de ouro no atletismo, em Joinville (SC). "Foi uma sensação diferente, dentro do que eu não conhecia. Eu sequer sabia como fazer parte. Minha maior frustração era imaginar que eu era o único deficiente no mundo, mas não era bem assim. Outras pessoas com deficiências, até mais graves, completavam provas como se não tivessem nada. As conquistas são possíveis quando há treinamento e dedicação, independentemende de deficiências", define.
De lá para cá, a lista de conquistas do atleta, que perdeu a visão gradativamente, é grande, com títulos internacionais e recordes, com medalhas das Paraolimpíadas e jogos ParaPanamericanos. E ele é um dos esportistas deficientes que compõem um time que já soma quase 90 integrantes, o Centro de Treinamento Limeira Paraolímpico (CTLP), presidido pelo treinador da seleção brasileira de atletismo, Fábio Breda.
Em cinco anos de existência, subsidiados por parceiros, os atletas do CTLP têm se destacado nas modalidades de treinamento. Odair já está convocado pela seleção brasileira, assim como as atletas Raquel e Adriana, pré-convocadas na modalidade, e a nadadora Taís Bobato, a partir das classificações nas disputas regionais e estaduais, que os têm levado para competições nacionais e internacionais. No início de setembro sai a convoção para o ParaPan de Guadalajara, no México, que acontece em novembro.

QUEBRA DE TABUS
"Estou no desporto paraolímpico há 11 anos e antes havia muita resistência das famílias, que temiam expor as crianças, tirá-las de casa. Hoje já não é assim e incentivamos as famílias a participarem, porque os benefícios do esporte vão além. Não é uma questão de campeonatos, mas proporciona ao deficiente um desenvolvimento como um todo, na coordenação e equilíbrio. Auxilia no dia a dia da pessoa e ser campeão é consequência", descreve Breda.
O número atual de atletas atesta o quão positivo são os treinos e o crescimento do interesse de ingresso no esporte, que pode começar já na infância para a criança deficiente. "Trabalhamos com três grades de treinamento, de acordo com a idade. O primeiro é mais lúdico, com inserção nas modalidades por meio de brincadeiras. Depois, a partir dos 12 ou 13 anos, é trabalhada a adaptação ao esporte, já direcionada a campeonatos escolares e juvenis. Com isso sobe-se de categoria em treinos com objetivo competitivo, quando o atleta se torna profissional", explica o treinador.

VIDA DE ATLETA
Odair conheceu Breda no ano de sua primeira vitória, em 2003, quando procurou o Centro Educacional João Fischer Sobrinho e passou a conhecer, de fato, o esporte adaptado. "Iniciei aos 10 anos, com professores de educação física", diz.
Garantiu ouro em sua primeira competição por já ter alguma experiência no esporte. Agora, o foco é no ouro paraolímpico, ainda que uma recente lesão o obrigue a um treinamento alternativo, em que não pode parar e nem abusar. "Não podemos fugir do foco e nem perder o que conquistamos durante o ano", ensina.



Breda, Odair e Carlos: afinados para garantir ouro nos jogos paraolímpicos
Breda, Odair e Carlos: afinados para garantir ouro nos jogos paraolímpicos

Odair e Carlos: nas provas, guia não pode ficar um milímetro à frente
Odair e Carlos: nas provas, guia não pode ficar um milímetro à frente



Corra, guia, corra!

Se a vida do atleta deficiente exige dedicação, o do guia não é diferente, no caso do atletismo. Anteriormente, por se enquadrar na categoria de baixa visão, Odair dos Santos não precisava de guias. Agora, tem dois: Samuel de Souza Nascimento e Carlos Antônio dos Santos, que o acompanha há dois anos.
Além de dar conta do pique de Odair, Carlos, que tem 30 anos, tem cuidados extras para regras de competições, muitas vezes desconhecidas pelo público. "Além das condições do tempo ou de dificuldade da prova, temos de fazer o possível para não interferir de forma contrária no desempenho do atleta paraolímpico", esclarece ele, que também compete em categorias convencionais e se reveza com Samuel nos treinos diários. "É preciso estar em sintonia e aguentar na hora de acompanhar, o que nos ajuda a aprimorar a técnica e prática", acrescenta.
É preciso correr, mas jamais chegar na frente do atleta deficiente. Um milímetro sequer. "Não se pode tomar a frente, nem puxar e nem parar. Certa vez o Odair alcançou um recorde, mas fomos desclassificados no tira-teima porque o meu nariz estava à frente", conta. Se o nariz não pode chegar primeiro, a roupa também não. Eles citam um caso de competição internacional em que uma brisa passou pelo colete do guia e também chegou na frente, o que também terminou com desclassificação no tira-teima das câmera.
Apesar dos infortúnios, agora contados aos risos, Carlos comemora o trabalho. "É uma experiência das melhores, e também treino muito mais do que antes". (DL)

Como participar e auxiliar os treinos do CTLP

Os deficientes que quiserem ingressar no atletismo, natação ou golbol, modalidade específica para cegos, podem entrar em contato direto com Fábio Breda pelo telefone (19) 9116-1880.
Outras opções são comparecer nos treinos. O de atletismo acontecem de segunda-feira a sábado, das 16h30 às 18h, no Tiro de Guerra (Rua Major Antônio Machado Campos, 39, Jardim Piratininga). Os treinos de natação acontecem as 13h na academia Acquação (Rua Cunha Bastos, 788, Centro) e os de golbol às sextas-feiras no Ginásio Domingos de Felice, no Jardim Santo André (Rua Albino Buzolin, s/nº).
Alguns treinos de condicionamento físico acontecem na Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), que é uma das parceiras do projeto, que conta ainda com apoio da Drago, Bunge e Prefeitura, além da renda obtida em eventos para os custos das viagens para as competições.
Além disso, há planos de ampliação do trabalho. "A ideia é ampliar o projeto, com o aluguel de uma casa para se tornar sede. O objetivo é manter a qualidade, e com o aumento de atletas será necessário maior número de profissionais", estima.
Quem quiser colaborar com a iniciativa também pode contatar Breda, pelo telefone. (DL)


Publicado na Gazeta de Limeira, também na capa.

0 comentários:

Postar um comentário