sexta-feira, 5 de agosto de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Cine Iracema abrirá as portas novamente em 2012

Daíza Lacerda


Usina Iracema reforma local para receber atividades culturais em investimento de R$ 2 mi

"A história se repete, 50 anos depois". Assim resume Ângelo Denadai, presidente da Associação de Movimento Arte e Cultura de Iracemápolis (Amaci) sobre a reabertura do Cine Iracema, que passa por reforma promovida pela Usina Iracema, do Grupo São Martinho, junto à instituição.
Há cerca de um mês teve início a reforma que deve devolver o espaço à cidade em meados do próximo ano, para receber, além de projeções de filmes, demais manifestações culturais como peças de dança, música e teatro. Desativado desde 1984, o local tem novo projeto no qual serão investidos mais de R$ 2 milhões, parte financiada pelo Grupo São Martinho com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além da Lei Rouanet, cujo valor do incentivo fiscal será repassado à Amaci.
"A comunidade está ansiosa para receber esse espaço novamente. Temos grupos na cidade que levam sua arte para outros Estados e não têm estrutura a contento para suas apresentações aqui o que acontece, muitas vezes, em locais improvisados. Será um marco na vida cultural da cidade", declara, Denadai, que estará à frente da administração do local.
Ontem à noite foi realizado evento na Câmara Municipal de Iracemápolis para apresentação do projeto de recuperação, que reuniu autoridades locais, executivos do Grupo São Martinho, da Usina Iracema e representantes da área cultural de Iracemápolis.

O INÍCIO
Com instalações mais modernas, com capacidade para receber 316 pessoas e novo palco de 12 metros de comprimento, nos 716 m², o espaço guarda ainda as antigas máquinas de projeção da época da fundação do Cine Iracema, que teve as portas abertas dia 15 de novembro de 1959, com a exibição do filme italiano "Donatella". História que começou com um pedido singelo para a reforma do cinema que antecedeu o Iracema na cidade, o Cine São José. Quem conta a história é José dos Santos, o "Seu Zé do cinema", que trabalhava com os cinco irmãos no campo. Já na juventude, com atuação no comércio, chamou-lhes atenção "um sujeito que passava fitas com uma maquininha".
"Vimos aquilo e não ficamos contentes. Então decidimos fazer um cinema de verdade, com uma máquina grande. E abrimos o cinema em barracão vizinho à padaria da família", relembra ele, que já conta 90 anos de idade. O ano era 1945.
Os irmãos foram desistindo, mas mesmo diante das dificuldades, ele manteve o funcionamento até 1955 quando fechou o Cine São José, que estava com problemas estruturais. Foi quando pediu ajuda à família Ometto para reabrir o espaço. Quatro anos depois, recebeu a resposta: um prédio novo em folha construído pela Usina Iracema, que o cedeu para que seu Zé administrasse.

AUGE E DECLÍNIO
O Cine Iracema tinha capacidade para receber 572 pessoas e os filmes de Mazzaropi garantiram os recordes de público. Além deles, a lotação aconteceu devido a uma estratégia inusitada. "Quando iam lançar o King Kong, com o filme, o cinema recebia uma réplica do gorila, que media do chão ao teto. Ficou um mês exposto antes da estreia, acorrentado na entrada. Quando o filme finalmente chegou, teve sessões lotadas", lembra seu Zé. "Era mais caro o macaco do que o filme", acrescenta, aos risos.
O cinema teve outro companheiro negro, conhecido da cidade. Chico, um corvo de estimação da cidade, que também "visitava" o cinema, embora isso não acontecesse durante as sessões.
O local recebeu muitos casais que formaram as futuras famílias da cidade. "Eu conhecia todos que entravam. Um por um. Certa vez uma mãe achou que eu estava escondendo a filha dela, quando garanti que a menina não estava no cinema. E, de fato, não estava e a mãe a encontrou em outro local", conta.
Nos anos 80 as coisas começaram a ficar difíceis, como a aquisição de filmes pela nova distribuidora, que impunha exigências que inviabilizavam o negócio. Assim, a exibição de filmes parou em 1984 e deu lugar a um cineclube que funcionou por pouco tempo. O local foi utilizado para cursos, treinamentos e atividades na área de Recursos Humanos. Entre 2000 e 2006 teve manutenções pela usina, como a reforma do telhado.

NOVO PROJETO
A fachada e os painéis de gesso trabalhados nas paredes do prédio com cenas de atividade agroindustrial da cana-de-açúcar, serão mantidos no novo projeto.
Uma bonbonnière, quatro banheiros e um mezanino com capacidade para 56 pessoas são algumas das novidades. Todo o projeto foi constituído a partir de padrões de acessibilidade que garantem totais condições de deslocamento para pessoas com deficiência, inclusive os camarins e o palco. As instalações elétricas e hidráulicas terão reforma completa. Além de pintura, haverá espaçamento maior entre poltronas para proporcionar mais conforto ao público.

Célia e João: o casamento
que começou no cinema

"Nosso namoro começou no Cine Iracema, em setembro de 1966. Conhecemo-nos no jardim. Aceitei o seu convite e nos casamos três anos depois". A lembrança é de Célia Regina Blumer Martinatti, 58, e já foi contada à exaustão para os filhos e netos no resgate da história do casal e também da antiga Iracemápolis.
"Na época, ficávamos no jardim, que hoje é a praça. As moças andavam de um lado e os rapazes, do outro", explica João Edmundo Martinatti, 67, sobre o ambiente em que fez o convite para a futura esposa. Ele tinha 23 anos. Ela, 13.
Eles contam ainda o "esquema" do namoro no cinema. Sempre iam acompanhados de um amigo, que guardava o lugar do par. "Antes de começar o filme os meninos ficavam conversando na frente e as meninas ficavam no meio. Quando se apagavam as luzes, cada um ia sentar-se com o seu par", lembra Célia. Afinal, no cinema podiam se beijar, já que no jardim o máximo permitido na época era dar as mãos.
A expectativa do casal é que a reabertura do espaço proporcione às próximas gerações a mesma alegria das lembranças que cultivam. "Esperamos que possam resgatar a memória, a fim de que nossos netos aproveitem para ser incluída na história da vida deles. Torcemos para que dê certo e que a reabertura seja realidade", declara Célia. (DL)




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