terça-feira, 26 de abril de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Ode à cidade

COLUNA RELEITURA 26/04/2016

Ode à cidade

Daíza Lacerda

Os entusiastas da corrida urbana podem dividir o campo de prova, a rua, com os melhores e mais rápidos, enquanto isso não é possível em muitos outros esportes. Afinal, não há simples mortais dominando a bola num Allianz Parque ou jogando tênis no Roland Garros. Na manhã de domingo, nas ruas de São Paulo, eu era uma das milhares de mortais passando pelo rastros (já frios!) de quenianos e da elite brasileira nos 42 km da maratona, cruzando ao menos uma vez com os heróis da resistência física e mental, ainda que anos-luz atrás deles. Embora o alto rendimento separe os nossos mundos, eles enfrentaram o mesmo asfalto que eu, quilômetro a quilômetro.
A cidade foi minha cúmplice. Para vencer a distância, nada melhor que o próprio quintal como campo de treino, com o que de mais desafiador a terrinha tem a oferecer, entre ladeiras e falta de sombra. Diversas sugestões de matérias e ideias para artigos neste espaço saíram dos treinos no asfalto ou parques de Limeira, onde gastei muita sola de tênis e litros de suor. Sabendo o que tinha a cumprir, independentemente do tempo, foi possível absorver as belezas (e tristezas) além do asfalto.
Nos parques, é bonito de ver os velhinhos tentando dar um chega pra lá no sedentarismo, arriscando trotes entre as caminhadas. Na pista, nada como a criançada querendo apostar corrida para dar uma animada nos treinos. Nas vias de comércio forte, o trânsito é de donas de casa sob cheiro de almoço no ar. Pra lá e pra cá, gente esperando o ônibus. Gente indo de bicicleta.
As belezas e carências estão por toda parte. Gente deixando a cidade linda plantando flores nos canteiros públicos, ou cuidando de hortas como o seu Ayrton, no Vitório Lucato. Gente deixando a cidade imunda largando móveis velhos na calçada quando o Cacareco não está programado para aquele bairro. Áreas que recebem manutenção, outras que o mato e sujeira tomam conta. O cheiro dos eucaliptos nas trilhas do horto e o odor do lixo deixado por quem não respeita o próprio ambiente. Se as cidades são as pessoas, nosso habitat também é o nosso reflexo.
Buracos que nascem, buracos que pioram. Treino da arte de sobreviver sem tropeços ou tombos em calçadas de péssimas condições. Motoristas que querem passar por cima, outros que dão passagem. Satisfação quando a corrida está mais rápida que os carros tentando entrar na rotatória do anel viário em horário de pico. Raiva quando o longo tempo para conseguir atravessar coloca a média do treino lá embaixo.
Na longa distância, a mente manda mais do que os membros. E foi a mistura de estímulos de tantos cantos da cidade que, talvez, ajudou a talhar o autocontrole para alcançar a chegada, no mesmo organismo de um coração molenga. As ruas da cidade formaram a trilha do caminho de um sonho possível.
Enquanto treinava, via a vida acontecer. Imaginava o que movia tantos anônimos, se a força do cotidiano ou a esperança de dias e condições melhores. Na corrida e na vida na cidade, cada metro adiante é um desafio. Talvez, em ambas, para sermos acolhidos, seja necessário desbravá-las.

Publicado na Gazeta de Limeira.


Um sonho possível chamado maratona

Este conteúdo é do meu blog "esportivo". Mas, como reportar é viver, reproduzo aqui também um testemunho reduzido da experiência da minha primeira maratona :)



Pura ostentação... agora eu posso! 


Boa parte de todos os meus dias dos últimos sete meses foram resumidos em 42 km distribuídos em 4h40 de suor, sal, lágrimas e luta mental e física. Por ter vencido essa luta, tenho muitas pessoas a agradecer, a começar pela minha mãe Luiza Carvalho e meu namorado André Pelayo, que literalmente sofreram comigo as dores e alegrias de toda essa jornada.
Agradeço à Andrea Silva, que desde o início me orientou nos treinos, à Ala Limeira, equipe na qual dei minhas primeiras passadas para nunca mais parar e fiz amigos que estimo demais. Agradeço de coração a cada um que torceu por mim e me incentivou.
Agora, a regra é dar férias forçadas para o corpo, algumas semanas até voltar de leve. Não vejo a hora de correr com companhia de novo (certo, Bete, Kelly, Carla?...). Apesar do sofrimento, não tenho dúvidas que foi o momento certo de tentar, e só o começo para aprender sobre esse mistério dos limites do corpo e da alma. Mas que fique muito claro que uma maratona NÃO É BRINCADEIRA. Ao embarcar nessa, além de me adaptar com um ritmo insano de treinos com volume que jamais havia sonhado em correr, fiz muitas mudanças na alimentação e check-up médico. O ideal seria procurar profissionais especializados em medicina do esporte, mas o time do meu plano Medical não deixou nada a desejar, mesmo com as minhas necessidades específicas. Foram vários exames, nos quais descobri que meus joelhos, coração e pulmões estavam muito bem, obrigada! Graças à corrida e outros esportes, minha capacidade pulmonar teve melhora em dois anos, quando a regra é ser reduzida gradualmente com o avanço da idade. Também consegui um "recorde pessoal" de resistência naquele maldito exame da esteira... ha!
Massss... Exames com bons resultados NÃO são passaporte livre para a doidera dos 42km, não garantem que nada vá acontecer, como os próprios médicos avisam. Podemos tanto ter surpresas com o funcionamento do organismo quanto ser muito afetados pelas condições externas, a exemplo do calor e secura.

Disfarçando a tensão antes da largada...


A PROVA

Sobre a prova de domingo, tenho a dizer que meu corpo está em frangalhos (só sentindo na pele a revolução que acontece aqui dentro entre o primeiro e último km de uma maratona!). A temperatura de 32 graus na chegada por volta das 12:15 foi o menor dos problemas quando as pernas parecem funcionar involuntária e "bagunçadamente". Mas funcionaram até o fim, mesmo eu parecendo uma bêbada desnorteada na chegada! Por ter terminado a prova com as próprias pernas, sem desidratar, vomitar, desmaiar ou precisar de amparo médico, estou mais do que satisfeita!
A principal reclamação foi do calor. Nisso eu fui feliz em ter treinado no sol a pino, e favoreceu o percurso da prova ter muito mais sombra dos que os trajetos nos quais treinei. Difícil foi aguentar as pernas depois dos 25k... Errei em não ter levado o fortalecimento mais a sério. Sim, academia é uma chatice muito necessária!
Meu paredão não foi nos 30 ou 32k, mas no km 37, em que passei a me arrastar, praticamente. O foda é que as poucas subidas foram justamente nos 10k finais, quando o psicológico e físico estão sumariamente abalados... Porém, em nenhum momento pensei em desistir, mesmo caminhando nas ingratas subidas das saídas dos túneis. Aliás, parece que a caminhada fazia doer mais... Fora isso, o percurso foi favorável, plano. Talvez a minha ignorância sobre o trajeto também tenha ajudado!
Os primeiros 10k são só alegria, e até os 21k cumpri num pace recorde nessa distância. Todos dizem que o pior erro é puxar muito no começo, mas mantive um ritmo que considerei confortável, sem esperar milagre com a progressão da quilometragem. Seria muito bom poder ter mantido até o fim, mas ali o meu objetivo não era nenhum recorde, mas terminar inteira. Fiz o que deu em todas as fases.
No km 16 encontrei novamente o Antonio Pimentel (que saiu do face porque hackearam o perfil dele), que foi nas 15 milhas (24 km). Ele estava andando e mais tarde me explicou que, não fosse aquela parada, não teria concluído a prova devido ao calor. Pimentinha também é um herói em cumprir aquela seca jornada com os seus quase 70! Aliás, heróis é que não faltaram. Deficientes, idosos... todos firmes e fortes e sem mimimi naquele sol de lascar e percurso que não acabava nunca. E pra gente o desafio estava só começando quando as 15 milhas terminaram...
Foram 20 postos de hidratação. Água não foi o problema, só não estava tão gelada quanto gostaríamos. Distribuíram uma água de côco que pra mim não desceu (puro açúcar!) e o isotônico estava quente na lonjura do km 25. Também teve batatinha cozida (só consegui comer uma) e laranja. Fora isso, ingeri 3 dos 8 sachês de géis que levei. Na parada rápida que fiz na última subida, o estômago ameaçava se mobilizar. Àquela altura não podia nem pensar em gel e, mesmo com a boca seca, também não descia mais água. Em resumo, me abasteci praticamente com 1,5 litro de líquido e gel. Nos dias anteriores, mantive o hábito para refeições e hidratação, resistindo às tentações gordurosas. Idealizei muito toda a orgia gastronômica que faria depois da prova mas, durante, não podia nem pensar em comer nada!

A CHEGADA

Cruzei o pórtico de chegada pouco depois das 12h, com o melhor refresco do mundo: ter a família me esperando! Não existe time melhor do que este! Não consigo descrever a sensação... Mal pisei naquele tapete, chorei igual criança, não sei se por alívio ou alegria. Mentalizei tanto aquele momento, em cada subida, em cada longão, em cada treino sob o sol rachando... Parecia tão distante! É uma conquista que custa demais e, ao mesmo tempo, pode-se dizer que não tem preço.
Das mentiras que os corredores contam: "não estou preocupado com o tempo"! Espalhei por aí que minha meta era fazer qualquer segundo abaixo de 5 horas, mas no íntimo eu queria mesmo era cravar 4h30. O que teria sido possível se eu estivesse mais preparada para resistir melhor ao final. No relógio deram 43 km em 4:32, mas no chip o tempo líquido foi de 4:39:57. Estimo que a minha parada para ir ao banheiro e reabastecer a água da garrafa no km 23 consumiu uns 8 minutos, então cheguei muito perto da meta real. De qualquer forma, estou muito satisfeita com o pace que consegui manter para uma distância dessas. Não tinha objetivo algum de classificação também, mas fiquei em 37ª entre 79 da categoria 30-34 e na colocação 212 das 575 mulheres concluintes. Parcela muito tímida perto dos quase 4 MIL homens concluintes! Quem quiser ver os detalhes sórdidos da saga, é só add no Strava ou Garmin: daizalacerda.
Eu parecia um zumbi quando a minha família me encontrou. Parecia que meus músculos não respondiam, não conseguia beber e nem comer nada. Fiquei estendida no papelão sobre o gramado por um tempo que nem sei quanto durou. Na primeira tentativa, não consegui levantar. Minha roupa era puro sal do corpo e eu não conseguia beber ou comer nada. Meus pés estavam inteiros, mas meu amado Nimbus 17 ganhou um furo do dedão do pé esquerdo... marcas da luta!  Mesmo com um banho de vaselina e outro de protetor solar, além de micropore para todo lado, meus únicos ferimentos visíveis foram deixados pela cinta do Garmin e costura do top. Digo visíveis porque a pancadaria de verdade é aquela aqui dentro, nos músculos e células, que não dá pra ver...

Nimbus guerreiro ganhou saída de ar graças ao dedão...


O que sobrou de mim, tentando se movimentar...

Apesar de não ter anseio algum em relação à colocação, até que não fiquei mal na fita para uma estreia...
37ª de 79 na categoria 30-34 e colocação 212 entre as 575 mulheres concluintes


CONCLUSÃO

Ainda não sou capaz de avaliar o tamanho do aprendizado proporcionado por esta prova, principalmente pelo aspecto do autocontrole mental e emocional. A única certeza é que a pessoa que largou não é a mesma que chegou (muito menos a que se inscreveu!), e isso não se limita à condição física. Todo o processo foi de muito aprendizado, exige responsabilidade e persistência. Não é fácil abrir mão das companhias de treino, acabar com os planos de finais de semana do namorado, que me acompanhou de bike em todos os longões, deixar a mãe de cabelo em pé e ainda ter os lanchinhos e as marmitas na medida da reposição...
Agora, "difícil" é um conceito muito relativo para mim. Até que ponto as coisas parecem tão difíceis justamente por que não tentamos? E não estou falando só de uma prova esportiva. É muito clichê, mas a maratona é a vida... Toda a jornada, todo o esforço...
Não vou dizer que recomendo uma experiência dessas, cada um sabe dos próprios anseios e desafios. Mas, de fato, não é brincadeira para estreante. Meus meses de treino me ajudaram a dar conta do recado, mas reconheço que poderia ter me empenhado mais na preparação. De qualquer forma, assim que esquecer a dor do parto (hahaha!!), vou me preparar muito mais e melhor para a próxima (calma, mãe, vai demorar um pouco!!). O sofrimento é inevitável, mas é prudente tentar reduzi-lo...
E, acima de todas as dores, o principal sentimento é o de gratidão!

Se tenho instinto guerreiro, é graças a ela!
Minha mãe, minha inspiração!

Feliz de quem tem mais que um par, mas um companheiro!
Essa foi uma prova pra você também, né amor? 
segunda-feira, 25 de abril de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Preparação de idosos a todo vapor para disputas do Jori

Atletas de Limeira participarão de diversas modalidades, como dança e atletismo

Daíza Lacerda

A busca é por medalhas, mas eles já ganham em disposição. Engana-se quem pensa que têm tempo sobrando. Eles não têm tempo a perder. E foi na correria que a enfermeira aposentada Lourdes de Jesus Souza, de 60 anos, falou das suas corridinhas, que a levarão pela primeira vez à disputa de medalhas dos Jogos Regionais do Idoso, que acontecem em maio, em Americana. Com uma família de 15 netos e um casal de bisnetos, para ela não há dificuldades em conciliar as atividades do lar, a família e os treinos. "Correr é tudo. É muita emoção. Canseira às vezes dá, mas é só dar uma paradinha. Mas na primeira oportunidade a gente estreita o cabelo de novo", descreve a atleta, que mal terminou a entrevista e saiu correndo para a próxima parada, o treino de vôlei.
Também com 60 anos de idade, o aposentado Clóvis Gama de Souza só observava quem corria, há cerca de dois anos. A esperança de se livrar dos quilinhos a mais foi o principal incentivo. "Via as pessoas correndo e se dando bem. Entrei nessa e me dei bem também. Passei dos 77 para os 63 quilos e não paro mais", diz ele, que corre três vezes por dia. O atleta é só elogios para a modalidade. "Correr tira o estresse e o pensamento ruim. Mexe com tudo, com o corpo e a cabeça. Algumas dorzinhas sempre temos, mas o saldo é muito bom".
Professora de educação física e treinadora deles e de outros dois idosos que participarão dos jogos, Marly Inácio de Oliveira salienta que, para competir nesta idade, é preciso já ter algum preparo anterior. Porém, justamente na idade em que aparecem problemas crônicos, os praticantes são exemplos do resultado do esporte a favor da saúde. "Para eles, é também um lazer. Fazem porque gostam", ressalta.
Neste ano, o time limeirense contará também com José Carlos da Silva, o Fumaça, que retorna às pistas após um ano afastado das competições devido a uma inflamação no nervo ciático. "Estou treinando pouco, mas bem, pois só fui liberado em janeiro. Pretendo garantir a medalha, mas a disputa é difícil. Quero fazer os 1.000 metros abaixo de cinco minutos", considera. Apenas os três primeiros são premiados, sendo que dois são classificados para o estadual.
SAÚDE E ALEGRIA
A idade não reduz a dificuldade da disputa. E é esperando concorrentes fortes que a nadadora Ayde Gazotto, de 67 anos, fará a sua estreia nos jogos. Com cinco anos de braçadas que renderam 125 medalhas e quatro troféus top 5 do ano, ela treina ao menos 2.000 metros por dia. Mais do que os reflexos na saúde, ela destaca o convívio. "Tenho muito mais disposição e também fazemos muitas amizades competindo". Mas reconhece que o páreo não será fácil. "Vamos tentar a medalha, mas enfrentaremos os melhores de cada cidade, gente que já competiu até no exterior, que nada desde criança", considera.
Mais do que esporte, a arte será aliada do grupo que disputará com coreografia. A preparação corporal começou no ano passado, em ciclo com trabalho das capacidades físicas. "Vida - Jogo de encaixe" é o tema trabalhado por meio da dança, com 12 participantes entre 60 e 85 anos. Nos movimentos, a reflexão do contexto da vida e potencialidades do idoso.
O casal Neyde Amaral Beduschi, de 79 anos, e Jonathas Beduschi, de 85, atestam os benefícios da atividade. Eles, que já praticavam dança de salão, só veem vantagens na participação. "Nos sentimos maravilhados, felizes, sem contar a amizade com o grupo. É uma alegria tanta gente diferente formando uma só família".


Delegação limeirense reunirá ao menos 100 atletas

O entusiasmo dos competidores vai longe, mas é preciso saber se o corpo, de fato, aguenta a exigência, já que algumas modalidades são mais intensas, como o atletismo. Por isso, todos passam por uma avaliação médica para serem liberados para as provas, como explica Glaucia Perrielo, assessora de esporte e lazer da Secretaria de Esportes.
A estimativa é levar ao menos 100 atletas para os jogos, que ocorrem de 11 a 15 de maio, em Americana. Embora haja representantes para todas as modalidades, oscila a participação na faixa etária, como a categoria acima de 70 anos. Serão 14 modalidades disputadas: atletismo, bocha, buraco, coreografia, damas, dança de salão, dominó, malha, natação, tênis, tênis de mesa, truco, voleibol adaptado e xadrez. (Daíza Lacerda)



Publicado na Gazeta de Limeira.



domingo, 24 de abril de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Integração entre ensino e esporte projeta atletas em potencial

Adesão às práticas esportivas por meio do ensino integral rendem resultados positivos

Daíza Lacerda

Numa época em que crianças brincando na rua tornou-se raridade, e que os eletrônicos despertam mais interesse do que se movimentar e suar, a incursão do esporte na rotina de crianças da rede municipal de ensino tem ido além das expectativas.
Se, por um lado, crianças não conheciam brincadeiras clássicas da infância de outras gerações, como pega-pega e esconde-esconde, do outro, a oportunidade aflora talentos promissores. "Já conseguimos identificar potencial em alguns grupos que, se continuarem nesse caminho, podem se tornar atletas profissionais", conta o professor de educação física George Luiz Cardoso, que orienta turmas do ensino integral na pista da ALA, no Jardim Piratininga.
Ele explica que, quando iniciaram as atividades voltadas ao atletismo no ano passado, as crianças não tinham base motora e não conheciam as brincadeiras populares. Mas já são observados avanços como melhoria na força, resistência e flexibilidade nos participantes, que têm entre 6 e 10 anos.
Na pista, elas se espalham em práticas que vão desde a corrida ao slackline, passando pelo salto e arremesso. "O atletismo é a base de todos os esportes, e sempre tem algo que atrai a criança. Uma pode não gostar da corrida, mas se identificar no arremesso", exemplifica.
Mais do que o auxílio no desenvolvimento psicomotor e intelecto, a pluralidade de opções visa evitar traumas sejam carregados até a idade adulta. "Se a criança tem uma experiência ruim, ela não vai querer praticar, e vai passar a fugir disso. Por isso é importante deixar que ela escolha o que mais gosta, sem imposição, como alguns pais fazem", alerta.
DIVERSÃO E APRENDIZADO
No Centro Comunitário do Jardim Nossa Senhora do Amparo, a euforia é grande para entrar na piscina, mas a aula não é brincadeira. "Mais do que diversão, é um aprendizado", destaca a professora de natação, Flávia Girardello. A experiência que a criançada não teria se não fosse a integração da educação com outras áreas também traz destaques na piscina, com a participação em festivais. "Vemos o resultado e também a motivação. Além de desenvolver as habilidades motoras, há reflexos como melhoria nos índices de alfabetização". Diariamente são 12 grupos, com crianças do serviço de convivência e fortalecimento de vínculos e de escolas como Maria Aparecida de Luca Moore e Aracy Guimarães.
As atividades vão além da pista e piscinas, ocupando outros centros com modalidades como judô, kung fu, ginástica rítmica e basquete, como explica Glaucia Perrielo, assessora de esporte e lazer da Secretaria de Esportes. Cada turma tem duas atividades por semana, além das oficinas de cultura.
O professor George lembra que o fato das crianças serem provenientes de áreas mais vulneráveis não limita o destaque que podem ter numa eventual carreira esportiva. Em geral, na pista, treinam descalças, mesmo com campanha em curso para arrecadação de tênis. "São nessas regiões que encontramos mais potencial. Já vimos crianças de escolas particulares com muito menos habilidade, por falta de estímulo. Mas a carência não impede o acesso ao esporte. No atletismo, não dependemos de equipamentos. O principal é a disposição".

Noção de cidadania e uso dos espaços públicos

O acesso às práticas não é privilégio só de quem está na escola. Trata-se de opção disponível para quem quiser. A união do útil ao agradável se deu com um esquema de organização de horários e logística, que tornou espaços públicos de esporte e lazer extensões da escola, como explica a secretária de Educação, Adriana Ijano Motta.
A integração é prevista em portaria de dezembro de 2014. Com as opções disponíveis, a união da pasta com secretaria de Esportes, Cultura e Ceprosom levou à organização para que as crianças vivenciassem as atividades nos centros. "São crianças que estão na idade de experimentar. Essa união possibilita diversas vivências, além da possibilidade da criança de procurar o serviço na modalidade que mais lhe agrada", explica, exemplificando com alunos que deram continuidade às práticas nos centros comunitários independentemente da escola. "A criança tem de ter a noção que é cidadã, que pode e deve usufruir do patrimônio da cidade".
Outra vantagem listada por ela é o fato desses equipamentos contarem com professores da área do esporte com olhar mais detido sobre detalhes como postura, por exemplo, podendo identificar eventuais problemas mais facilmente.
São 31 escolas envolvidas, sendo cinco do período integral e o restante com atividades descentralizadas. O resultado está nas provas. "Nos resultados das avaliações prévias do Saresp, as escolas de período integral subiram seu desempenho. Embora o grande mote seja a melhora no desenvolvimento acadêmico, elas mostram avanços na possibilidade de convivência e fortalecimento de vínculos". (Daíza Lacerda)


Publicado na Gazeta de Limeira.


 





terça-feira, 19 de abril de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Show de horrores

COLUNA RELEITURA - 19/04/2016

Show de horrores

Daíza Lacerda

Confesso que não tive estômago para assistir toda a votação do impeachment, mas, no que consegui, só pude concluir que os brasileiros têm, de fato, os governantes que merecem. Em rede nacional, o desfile das bizarras estirpes que colocamos no poder. Dos tipos que não conseguem conjugar um verbo àqueles cujas dedicatórias me lembraram o Xou da Xuxa na minha infância dos anos 80. Como pode a situação mais delicada da atualidade resgatar o que de mais banal e irrelevante eu guardava nos confins da memória?
A megalomania chegou a proporções tão surreais, que não nos demos conta da gravidade de ter um muro entre nós. Uma barreira erguida no meio da Esplanada dos Ministérios para separar os anti e pró-governo. Nem as torcidas organizadas do futebol, que deixam espancados e mortos pelo caminho, teriam feito melhor, pela obsessão ao time. No país dividido, a obsessão é pelas siglas, não pelo bem comum.
Em entrevista à Folha no último sábado, o Nobel de Literatura, o peruano Mario Vargas Llosa, defendeu que o interesse tem de ser no fortalecimento das instituições, no aperfeiçoamento das democracias. Considerou que, nos últimos anos, houve um populismo muito tolerante com a corrupção e que a "autocrítica que o Brasil está fazendo é terrível, mas muito necessária". Em minha humilde opinião, essa autocrítica está é muito torta, quando são tão massivamente aplaudidos os votos de tanta gente que tem muito a explicar, tanto quanto a presidente. Como é que se fortalece uma instituição à sombra da hipocrisia, como aceitar o julgamento daquele que é réu?
Sempre achei um desperdício mobilizações para jogos da Copa. A festa para alguns e fim de festa para outros no domingo durante e pós votação só serviu para mostrar como o termo fanfarrão se aplica ao brasileiro. Porque não se compara a decisão dos rumos políticos de um país com a de um jogo que, ao final, os jogadores ainda embolsam seus milhões e a nossa vida continua, ainda que com o ego abalado, prontos para o expediente amanhã. Desta vez, por mais que cervejas e petiscos distraíssem, no fim do jogo, foi a nossa moral em xeque. Só acho que essa mobilização toda deveria ser regra em dias de eleição, quando os protagonistas do jogo somos nós. Ainda temos a cultura de votar em qualquer um, no que que rouba mas faz, ou em fulano para não eleger ciclano, ou só na sigla mesmo para ver no que dá. Quem vota de acordo com a consciência, de verdade? Tipo votar em ninguém, se ninguém te inspirar confiança para representação em quaisquer esferas?
Quem é que tem razão para cobrar política decente depois de eleger figuras como as que vimos anteontem? Gente caricata que fez a alegria das redes sociais, mas que é cercada de todo o luxo que tem e não tem direito, bancado adivinha por quem?
Se não deu certo pela via reconhecidamente democrática, do voto, passar uma borracha na escolha não será mais promissor. Os culpados são eles ou nós?
A esta altura, não importa o lado do muro, quem colocou ou quem quer tirar. No jogo ardiloso que nos trouxe até aqui, todos saímos perdedores. Para você que também desperdiçou o seu voto anos a fio, aquele abraço.
terça-feira, 12 de abril de 2016 | By: Daíza de Carvalho

No trânsito, a crise é de conduta

Coluna Releitura - 12/04/2016

No trânsito, a crise é de conduta

Daíza Lacerda

A vítima não conseguia conter o desespero, que ainda era maior que o alívio. Consolada por quem estava mais perto, tentava descrever a tênue linha do "quase" a algum conhecido, por telefone. Na cena, dois carros destruídos numa avenida movimentada pelos veículos e pelas pessoas. Nenhuma vítima grave. Mais inexplicável do que a colisão não ter terminado em tragédia pior é o fato dela ter sido causada. Um terceiro bateu em dois carros, em alta velocidade, em ocorrência publicada ontem na Gazeta. Com que coragem colocar o pé na rua se um veículo pode aparecer, do nada, a toda?
E não importa o número de rodas. Reportagem da jornalista Érica Samara, deste sábado, traz o balanço do primeiro trimestre do Samu, que registrou alta nos atendimentos envolvendo motociclistas. Uma das causas atribuídas à preferência da moto é a crise, por proporcionar mais economia. Mas essa motivação é muito anterior à piora da situação econômica. O problema não é a crise que cerca as variáveis de aquisição os veículos. É aquela que domina os condutores.
O clássico desenho do Pateta no trânsito (https://youtu.be/RMZ3bsrtJZ0) ainda é o que melhor representa a fúria que domina tanta gente quando se está atrás de um volante, ou guidão. Mas os outros é claro. Nós? Jamais. Todos sempre têm na ponta da língua um caso de abuso ou região perigosa. Mas poucos ousam reconhecer suas falhas ou mesmo refletir sua própria conduta quando está no lugar do Pateta. Com crise ou sem, a frota ainda é imensa, e a paciência, minúscula, assim como as vias para abrigar tantas máquinas guiadas com sangue nos olhos.
Se a perda da vida não for um bom motivo, qual argumento usar? Sofrer um acidente, mesmo sem gravidade, muda a nossa visão. Mas, passados alguns meses, o excesso de confiança está lá, com carga completa. Uma fina aqui, uma acelerada ali e está tudo bem. Nisso, quanta gente encontrou o caminho da morte na economia de segundos?
O trânsito é o melhor reflexo da nossa sociedade. Individualista. Não se compartilha, mas se apossa. Talvez os males fossem reduzidos à metade se os protagonistas se dispusessem a trabalhar os seus vícios. Não de ir mais rápido ou devagar, mas na toada que não atropele e nem atrase desnecessariamente ninguém. De que adianta onda verde no semáforo, se dos 10 segundos abertos o motorista leva 5 para sair do lugar? Para que demarcação de faixa se tanta gente usa as duas e mata um espaço e agilidade de tráfego preciosos? Nossa razão aqui é a falta no próximo quarteirão.
Com a tal da linha de produção, Henry Ford deu a faísca para uma explosão. A geração que jamais veria a transformaria num desafio urbano sem precedentes. Em sua esperteza, perpetuou também que o vilão não é a sua criação, mas a criatura que se dispõe a domá-la. A não ser que um raio ou árvore atinja um veículo, nenhuma acidente acontece. Todos são provocados pelo fator humano. Isso abrange tanto o descaso de autoridades para oferecer vias mais seguras quanto a imprudência na direção e negligência com a manutenção por parte do motorista. Enquanto não se alcançar senso e ações de comunidade, o desespero da vítima de ontem pode ser o meu ou o seu amanhã.

Publicado na Gazeta de Limeira
sábado, 9 de abril de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Fumaça será um dos condutores da tocha olímpica em Limeira

Veterano do atletismo vê oportunidade como inspiração para os mais jovens

Daíza Lacerda

Uma das patrocinadoras do revezamento da tocha olímpica Rio 2016, a Coca-Cola confirmou que José Carlos da Silva, o Fumaça, será um dos condutores em Limeira da tocha olímpica dos Jogos Olímpicos Rio 2016. O principal símbolo dos Jogos chega ao município dia 20 de julho.
Além de Fumaça, foi confirmada também a participação de Eduardo Ferreira dos Santos, de 33 anos, que treina atletismo desde 1996. Por enquanto, não há outras confirmações. Conforme a assessoria da Coca-Cola, alguns nomes ainda estão em fase de aprovação.
O revezamento começa em Olímpia, na Grécia, com a cerimônia de acendimento da tocha dia 21, 100 dias antes da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016 . De lá, a chama olímpica viaja até o Brasil, onde começa a trilhar o seu caminho rumo ao Rio de Janeiro, sua parada final. Os Jogos acontecem entre 5 e 21 de agosto.
A menos de um mês do início da viagem da tocha no País, que começa em 3 de maio em Brasília-DF, a Prefeitura de Limeira ainda não informou detalhes da passagem, como locais, horários e esquemas de segurança. Campinas, que receberá a tocha no mesmo dia, já divulgou os principais pontos da rota. Na data, a ordem das cidades será Rio Claro, Limeira, Americana e Campinas.
FUMAÇA
Aos 74 anos, Fumaça é responsável pela formação de gerações de atletas. Ele falou da emoção de participar do momento mais marcante do esporte mundial. "É motivo de muita honra e satisfação. Poder carregar a tocha é como uma premiação de alto nível, um troféu. Agradeço a todos os atletas de Limeira que apoiaram meu nome para este momento".
A expectativa do atleta, que passou o ano passado afastado das competições devido aos cuidados com a saúde, é estar bem no dia do percurso. "Quero representar a cidade à altura. Não trabalhamos pensando nisso, mas ajuda a ter mais ânimo para continuar batalhando. Nunca esperei. Deus me abençoou bastante".
Fumaça começou no esporte aos 18 anos, no Tiro de Guerra. Jogava futebol, mas logo enveredou pelas pistas, como testemunha da construção da área dedicada ao atletismo no município, a pista anexa ao Tiro, na qual atuaria nas décadas seguintes. Determinado a participar dos Jogos Regionais do Idoso este ano, ele vê a oportunidade olímpica como inspiração para os mais novos. "É um incentivo, e mostra que, trabalhando, chegamos lá. Ninguém nasce no topo. Agradeço a cidade e todos que me ajudaram".
Outros condutores cotados são o nadador Guilherme Guido e o atleta paralímpico Odair dos Santos, que ainda não foram confirmados. Nesta semana, reportagem da Folha de São Paulo abordou a dificuldade de alguns atletas olímpicos em participar do trajeto, devido a incompatibilidade dos termos de participação com contratos de patrocínio.
Foto: JB Anthero/Arquivo Gazeta de Limeira
Fumaça tem mais de meio século de história no atletismo limeirense

Publicado na Gazeta de Limeira.

terça-feira, 5 de abril de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Entre a futilidade e a utilidade

COLUNA RELEITURA - 05/04/2016

Entre a futilidade e a utilidade

Daíza Lacerda

No meio da tarde, na sala de espera do consultório, a TV estava ligada no programa da Sônia Abrão. A pauta nos primeiros dez minutos de espera era sobre se a Joelma estaria se encontrando às escondidas com Chimbinha, com direito a diversas consultas de posts nas redes sociais de pessoas próximas ao suposto ex-casal da banda Calypso. Como uma profissional que se dedica à informação útil e livre de qualquer especulação, fiquei assustada em imaginar a dimensão de telespectadores que passa as tardes se nutrindo de coisas do tipo.
No dia seguinte, no atendimento do laboratório de análises clínicas, havia um painel generoso para os pacientes escolherem o que ler durante a espera. Tinha a edição da Gazeta fresquinha naquela manhã, mas uma mulher preferiu pegar a revista Caras, que estava ao lado. Me perguntei por quê. Talvez já tivesse lido o jornal. Talvez as férias dos famosos sejam mesmo imbatíveis em relação ao que de mais urgente acontece na cidade.
Não é difícil perceber que os jornais estão enxugando, mas as revistas de celebridades aparecem aos montes. A análise da motivação desses públicos merecia algum tipo de estudo sociológico (se é que já não há). Por mais sedutora que seja a imersão temporária no mundo da fama e fortuna, é inevitável a hora de nós, pobres mortais, encararmos a vida real sem o mesmo glamour.
Me pergunto qual o tamanho da parcela de pessoas que estão cansadas demais da política, da violência, das carências, e se refugiam na realidade paralela do bordão que está em alta, da plástica das famosas, da nova namorada do galã ou do barraco da vez. Não me preocupa o gosto, pois os públicos devem ser plurais. O que assusta é a falta de critério para o que se vê e o que se lê. O quanto disso "forma" um cidadão?
Perdeu-se a linha entre o entretenimento e a banalização, num círculo de inutilidades que tomam um tempo precioso e fazem a cabeça das pessoas, o que elas não necessariamente percebem. Quem trabalha com comunicação sabe que dez minutos na TV é uma eternidade. Tempo inestimável para editar uma reportagem especial, sendo que as cotidianas não passam dos dois minutos, se muito. Imagine quanta informação caberia numa tarde inteira em rede nacional, se esse fosse o interesse?
Também não mensuramos o valor do tempo nas redes sociais, tampouco aplicamos o filtro da utilidade no que acessamos do outro lado da tela. Um exemplo foi outra discussão da semana, sobre a barriguinha da Luana Piovani nas fotos de bastidores de seu ensaio para a Playboy. Ela foi julgada por pessoas que devem ter o porcentual de gordura três vezes maior que o dela, mas perdeu-se a oportunidade de analisar que o anormal não é a modelo ter barriga, mas o excesso de edições nervosas que as fotos das famosas são submetidas, praticamente desfigurando gente como a gente. Mas parece que a vida real perde a graça. Bom mesmo é ter uma deusa produzida no Photoshop para servir de parâmetro de beleza, imagino.
Não é pecado nenhum se deixar levar pela ilusão. Mas, na vida real, ela tem um custo, que pode ser muito alto. Porque é o telespectador da Sônia Abrão e o leitor da Caras que também vão escolher gestores em outubro. E, como quem se preocupa com informação sabe, o mundo aqui fora é outro bem diferente daqueles que preenchem a grade televisiva das tardes e as ilhas paradisíacas.