quinta-feira, 4 de outubro de 2012 | By: Daíza de Carvalho

Limeira tem projetos pré-selecionados no PAC


Documentações ainda são necessárias; obras totalizam R$ 324 milhões

Daíza Lacerda

Limeira está entre as 29 cidades brasileiras com projetos selecionados pelo governo federal para o PAC 2 da Mobilidade Urbana - Médias Cidades. O anúncio foi feito ontem pelo prefeito Orlando José Zovico e pelo deputado federal Arlindo Chinaglia (PT).
Pleiteavam o convênio 75 cidades, e Limeira ficou entre as contempladas ao atender as exigências, como explicou o deputado. Dois projetos do município foram aprovados. Um deles prevê subterminais de transporte coletivo, sendo quatro urbanos (Nossa Senhora das Dores, região Oeste; Jardim Aeroporto, Sul; Parque Hipólito, Leste; e Egisto Ragazzo, Norte). Outros quatro terminais serão na zona rural (Bairro dos Lopes, Tatu, Pires e Parronchi). O outro projeto é de uma rodovia de conexão (rodoanel) da Anhangüera e Bandeirantes entre outras ligações com as cidades vizinhas, prevista para tirar o tráfego do anel viário.
Ainda faltam documentações para que os projetos sejam efetivamente aprovados. "Pela velocidade do trabalho de Limeira em atender às regras e exigências é possível que o convênio seja assinado ainda neste ano, para iniciar o projeto em 2013", estimou o deputado. A verba destinada aos dois planos é de R$ 324 milhões, incluindo a contrapartida da Prefeitura.
TRÂMITES
Chinaglia explicou que os critérios de seleção das cidades é técnico. O atendimento às regras, com a documentação exigida entregue no prazo foram alguns dos trâmites feitos pelo município desde julho, quando foi feita a pré-seleção das cidades. Em cada etapa, a documentação é conferida e o município deve fazer as correções e complementos no prazo, para a efetivação do convênio.
"É uma colaboração para o progresso da cidade, já que não haveria condições de o município arcar sozinho com obras desses portes", disse Zovico, que elegeu o projeto dos subterminais como um dos principais para a mobilidade.
O prefeito lembrou da posição geográfica privilegiada do município, próximo de importantes rodovias, para possibilitar um corredor para novas indústrias ao longo do rodoanel projetado, o que ficará a cargo do próximo gestor do município. "O rodoanel será um impacto no desenvolvimento do município, já que no trajeto poderão ser feitas faixas para novas indústrias.

Chinaglia e Zovico: convênio pode ser assinado ainda neste ano
Chinaglia e Zovico: convênio pode ser assinado ainda neste ano



Com confirmação de convênio, 
obras podem começar em 2014

No projeto que contempla o transporte público serão implantadas linhas coletoras até os subterminais, e desses para o terminal central. O objetivo é também melhorar o fluxo na área urbana. É prevista ainda a expansão de 28 quilômetros do anel viário, com corredores de ônibus. Conforme o secretário dos Transportes, Rodrigo Oliveira, a acessibilidade é um dos critérios dos projetos, e são previstas cerca de mil rampas.
Já as conexões do rodoanel, de 35 quilômetros, devem interligar a Anhangüera à Bandeirantes a partir do trevo de Cosmópolis, com acesso próximo à Washington Luís. A conexão deve passar pelas rodovias Deputado Laércio Corte (SP-147 - Limeira-Piracicaba), Dr. João Mendes da Silva Júnior (SP-151 - Limeira-Iracemápolis) e Dr. Cássio de Freitas Levy (SP-017 - Limeira-Cordeirópolis), fechando o ciclo na Anhangüera, próximo da altura do Atacadão.
Ambos os projetos serão executados simultâneamente. Os subterminais têm o custo previsto de R$ 189 milhões, dos quais R$ 9 milhões serão de contrapartida da Prefeitura. Já o rodoanel deve custar R$ 135 milhões, com R$ 6 milhões bancados pelo município. A verba deve ser liberada pelo Ministério das Cidades à medida que cada passo do projeto for cumprido.
Com a aprovação da documentação final, a verba estará assegurada ao município, e as licitações devem ter início em 2013. Nos primeiros 12 meses deve ser licitado o projeto executivo, que determinará cada etapa e uma visão total das obras.
Aprovado o projeto, daí haverá a demanda de execução, quando deve ser o início das obras, possivelmente em 2014, se os trâmites ocorrerem como o esperado. Segundo Oliveira, a data limite para a confirmação da aprovação é dia 14 de dezembro, o que pode ser anunciado antes, caso o município seja, de fato, contemplado. (Daíza Lacerda)

















sábado, 22 de setembro de 2012 | By: Daíza de Carvalho

O insustentável peso da imobilidade

Daíza Lacerda

É incomum vermos governos fecharem o cerco contra os carros. Porém, irracionalmente, pouquíssimos levam a sério meios alternativos de transporte, como o coletivo e a bicicleta.
Limeira tem um novo viaduto prestes a ser entregue, outros em planejamento. Porém, ainda que se derrube metade dos imóveis próximos às áreas de maior fluxo, nunca serão suficientes as vias (e as verbas) para comportar o mar de metal que já é insustentável hoje em Limeira. Afinal, quem nunca teve vontade de largar o carro enquanto estava ilhado tentando chegar ao acesso de um rotatória? Eu já, na condição de passageira, durante as coberturas diárias na Gazeta, em que já levamos tempo insano para atravessar poucos quarteirões do centro, para sair ou chegar à redação.
A frota não vai parar de crescer, e o espaço físico não vai aumentar. O que poucos governantes perceberam é que o cidadão só cogita largar o carro quanto tem outra opção viável, mas não só economicamente. O transporte coletivo que, primeiramente, respeite o usuário e não lhe preste um desserviço, como o que temos em Limeira, seria um bom começo. Trajetos que levam 10 minutos de carro ou moto chegam a custar duas horas no transporte coletivo. Isso acontece também pela falta de linhas que contemple mais trajetos, que obriga o usuário a pegar mais de um ônibus, sempre cheios. E ainda paga-se (muito) por isso. Bom frisar que isso é necessidade e não opção. Logo, está longe de ser mobilidade.
É difícil abandonar o conforto dos veículos, mesmo que custe tempo e dinheiro. Mas me forcei a voltar a usar a bicicleta como transporte, esporadicamente. O trajeto de 6,5 km de casa à Redação, no Centro, dura em média 25 minutos (boa parte de espera para atravessar rotatórias na condição de pedestre). Mais rápido e barato do que de ônibus. Porém, ao abrir mão do motor, o que descobri foi uma cidade que anda (anda?) ao avesso da mobilidade. Além de o pedestre ser relegado ao décimo plano de preferência, as ciclofaixas levam nada a lugar nenhum.
O incentivo para ciclistas é necessário. Mas não meramente pintando ciclofaixas onde há espaço, como nas duplicações do anel viário. A bicicleta é muito usada em Limeira, por mais que ignorem, mas as pessoas precisam atravessar regiões com ela, e muitas rotatórias, onde não existem as necessárias ciclofaixas.
A nossa geografia de morros não é desculpa. Sorocaba não é uma cidade plana, e faz exemplo com as rotas de bicicleta que efetivamente ajudam o cidadão a se locomover na cidade. E o prefeito que fez isso não pensou apenas na mobilidade, mas na saúde. Todos culpam o ar péssimo pelas queimadas e baixa umidade, esquecendo da colaboração do próprio motor que os move. Por mais que a emissão de poluentes tenha sido reduzida e otimizada com a tecnologia, não adianta poluir dez vezes menos com uma frota vinte vezes maior.
É preciso que os administradores tenham consciência de que  mobilidade urbana não é só pensar em construir viadutos e avenidas, ceifando o espaço das pessoas em prioridade aos veículos. Mobilidade é dar a chance de o cidadão poder optar (ter opções, dar opções) por um modal que o auxilie em seu tempo e qualidade de vida. Para que ele justamente se mova, não fique atado a ineficientes opções saturadas. É uma questão de planejamento a longo prazo, de compromisso com cidade, não com mandatos, algo que parece não existir nas gestões brasileiras.
Ouso dizer que, guardadas as proporções das dimensões das cidades, Limeira já tem um panorama semelhante ao de São Paulo, no quesito transtorno. Há dias que até para passar de moto fica difícil. Lá e cá, por experiência própria.
Nas últimas semanas, a revista Época publicou como destaque reportagem abordando hábitos, e como mudá-los para melhorarmos as nossas vidas. Um das personagens falou da dependência do carro, até para locais próximos e como ganhou mais tempo com a família ao abdicar do veículo para fazer caminhadas com o marido e a filha.
Infelizmente, num país em que o prefeito da maior metrópole usa helicóptero para se locomover enquanto gestores do primeiro mundo vão de bicicleta ao trabalho, é difícil ser otimista. O que não é motivo para desesperança. Quando não houver mais monumentos a derrubar, ruas para alargar, canteiros para estreitar, qual será a ação para continuar priorizando veículos? Esse cenário é mais possível do que parece.
Todos têm responsabilidades. O cidadão no que consome, no que cobra das autoridades e no que colabora, e o poder público em não mais adiar um planejamento sério que já deveria estar em curso há tempos, com resultados práticos.
Por fim, um exemplo do quanto disposição política conta para a mudança de paradigmas - para o bem. O ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, deu um jeito no caos viário da cidade colombiana. Uma de suas mais célebres falas é uma reflexão para todos os cidadãos e gestores, principalmente aos que insistem em "tapar o sol com a peneira" assegurando que nosso transporte coletivo é bom, quando não dependem deles para se locomover.
O homem que tirou a cidade dos carros e a devolveu às pessoas sustenta o seguinte: "Uma boa cidade não é aquela em que até os pobres andam de carro, mas aquela em que até os ricos usam transporte público".

sábado, 14 de julho de 2012 | By: Daíza de Carvalho

Elza Tank: figura única na lembrança dos contemporâneos

Amigos contam do apelido de infância ao apreço pelo desfile vencedor

Daíza Lacerda

No local que acolhia idosos, ela era a "Menininha". Esse era o apelido de Elza Tank na infância, no Asilo João Kühl Filho, fundado pelo seu avô que também é o patrono. Elza nasceu e viveu no asilo, tendo se mudado após o seu casamento. Se para Limeira ela era a vereadora ou presidente da Câmara, Elza Tank,para Hilze Soares Dibbern, de 77 anos, ela ainda era a "Menininha".
Hilze conta que conviveu com a família durante anos, tendo morado com a irmã de Elza. "Limeira não teráoutra mulher como ela. Por tudo o que ela representou, era uma pessoa muito simples".
O porte de Elza não lembrava em nada o apelido. Não passava despercebida. Ninguém nega o seu gênioforte. "Mas ela sabia reconhecer quando estava nervosa além da conta", diz Hilze, que já recebeu deMenininha pedidos de desculpa após episódios de fúria.
Fúria, porém, seria o sentimento da mãe de Elza, dona Quinha, diante do idealismo político da filha. "DonaQuinha ficava muita braba. Não queria que Menininha se envolvesse com política, por conta do que o pai jáhavia sofrido", declara, referindo-se a Lázaro da Costa Tank, que foi vereador. "A mãe temia pelo que o paisofreu. Na época da ditadura, ele precisou se esconder no porão de casa", diz. Não adiantou. Nos relatosde Hilza, Elza saía escondida da mãe. E a própria Hilze ajudava a acobertar, com desculpas.
Alegre por natureza, o dia em que esbanjava felicidade era em seus aniversários, como ilustra a idosa.Porém, quando estava braba, o que não era raro, erá facil saber. "Principalmente com a política, quando acontrariavam, saía fogo. Não podia nem falar com ela. Mas era uma pessoa transparente, tanto na vidapública quanto na pessoal".
BANDEIRA BRANCA
Pelo menos por uma década, antes de o carnaval de rua de Limeira ser esquecido, Elza se dedicou à suaescola de samba, a Bandeira Branca. "'Nós saímos para vencer. Bandeira Branca não perde nunca'. E nãoperdia", testemunha Claudinéia Franco, a Néia, enfermeira que esteve durante 15 anos com Elza, inclusive em seus minutos finais. Ao repetir o brado de Elza nos ensaios e nas apresentações, Néia lembra que aescola reunia duas mil pessoas, com tudo nos mínimos detalhes, para garantir, ano a ano, o título decampeã. "Ela sempre desfilava como rainha das baianas, que era a ala da qual cuidava. Toda a famíliaajudava", recorda.
Néia diz que foi muito triste acompanhá-la nos últimos dias. "Era muito emotiva, chorava com as visitas. Era autoritária, mas amiga. Ela não aceitou a doença, lutou. Foi uma guerreira". Ela se lembra ainda quehá cerca de dois meses Elza ainda falava em serviço, mesmo debilitada. Falava de reuniões e escalavapessoas para substituí-la.
O único desejo pós-morte externado por Elza a Néia, em outras épocas, foi de que, quando partisse, fossetocada a marcha carnavalesca Bandeira Branca. Se o pedido for atendido em seu sepultamento, hoje, Elzalevará para a eternidade os versos que também eram cantados por ela e a enfermeira em suaconvalescência: "Bandeira branca, amor / Não posso mais / Pela saudade / Que me invade eu peço paz".

"Nunca se perdeu no discurso, peitava autoridades"

João Valdir de Moraes, repórter da Gazeta, foi assessor de Elza Tank durante 13 anos, a partir de suaprimeira candidatura, em 1982. "Além da Câmara, neste tempo ela atuava também na Prefeitura comatendimentos sociais, principalmente voltados à saúde da mulher", recorda.
As campanhas políticas eram marcadas com comícios de grandes shows. De artistas e de Elza. "Desde oinício, seu discurso era inflamado. Quando pegava o microfone para falar, era um silêncio total. Nunca seperdeu, sempre se impôs, ao estilo 'dedo no nariz'. Peitava autoridades, dentro de suas razões", descreve.
A vereadora era também sentimental, tendo publicado livros de poesias. Apesar do estilo "linha-dura" napolítica, gostava de dançar e cativava crianças. "Era exigente e perfeccionista. Porém, muito humilde,sincera e humana, além de vaidosa", conta.
Sua popularidade sempre foi alta e beneficiava também outros candidados pelos partidos que disputava.Moraes lembra que ela sempre dizia que não tinha inimigos, apenas adversários políticos. O maisdeclarado deles seria o ex-prefeito falecido Paulo D'Andréa. (Daíza Lacerda)

Da braveza à delicadeza, amigos descrevem Elza Tank

Uma das paixões de Elza era a dança, destacada por seus contemporâneos, como Moacir CamargoSilveira Filho, que atuou com ela em dois mandatos de vereador. "Ela dizia que eu era orgulhoso, porqueela sempre quis dançar comigo e eu não quis. Porém, isso foi antes de convivermos de forma maispróxima na Câmara", lembra. Depois disso, é claro, ele não negou uma dança com Elza. Irmão do ex-prefeito falecido Memau, ele lembra ainda o esforço dela de trazer ao município a primeira Delegacia deDefesa da Mulher do Estado.
"É uma pessoa que nunca disse não. Desde a juventude sempre foi muito alegre, de chorar e rir aomesmo tempo", relembra Marilene da Cunha Bagnato, da Associação Limeirense de Combate ao Câncer (Alicc). Ela pontua a luta de Elza no auxílio a tratmentos contra o câncer muito antes da formalização dainstituição. "Ela participava ativamente e nunca deixou de ajudar. Na necessidade, um telefonema bastava.Na juventude, estava sempre voltada à comunidade, que era um sinal que se devotaria ao povo".
"Era braba, sim, geniosa. Mas muito humana", disse Glória Cruañes de Souza Dias, que a acompanhou também em seus últimos momentos. A educadora Célia Pressinatto lembra do engajamento de Elza na época do antigo colégio Mobral, "que fez de Limeira um modelo reconhecido no Brasil, com sua determinação de sempre fazer as melhores coisas". Ela também contribuiu na implantação do primeiro modelo de curso supletivo. "O que começa a surgir agora, ela pensava há 20 anos, como o hospital da mulher, que era o seu sonho. Era uma mulher de energia positiva, feita para o povo. Limeira perde uma grande líder".
Contemporâneo de Elza, o promotor aposentado Cássio Mônaco lamenta que Elza não tenha realizado, em vida, o que seria o seu maior sonho. "Certamente ela realizou muitos, entre eles a instalação da delegacia da mulher. No entanto, o hospital da mulher foi um desejo frustrado". (Daíza Lacerda)


http://www.gazetainfo.com.br/site/index.php?r=noticias&id=10409







quinta-feira, 26 de abril de 2012 | By: Daíza de Carvalho

Quando o veículo define (?) a pessoa

Por mais que eu tente ficar indiferente, ou neutra, a todas as "provocações" em relação a moto, não consigo. Por mais que eu já tenha "lavado as mãos" de segurar a bandeira de defesa de quem usa a moto. Não posso mais defender quem quer se matar. Agora só falo por mim.
Na sexta-feira, achei que era brincadeira quando minha colega de redação e vizinha de baia Renata Reis voltou de uma entrevista com o delegado seccional falando sobre um possível projeto que obrigasse os motociclistas/motoqueiros a terem, no capacete, uma etiqueta padronizada com o número da placa da moto. Hein? Será que estou em São Paulo, com aquelas leis esdrúxulas propostas pelos deputados e não sei?
Bom, no dia seguinte, levantei para o plantão de sábado, ouvindo uma música que adoro no rádio, aliás. Mas tinha que conferir o jornal na internet antes de sair. E lá estava a manchete, com o capacete do também colega de redação e motociclista, Denis Martins, servindo de modelo na foto. Cheguei na redação com um humor do cão, sem esconder da Renata, que também estava de plantão naquela manhã cinza de chuva torrencial, que a matéria dela tinha estragado o meu dia. Embora não fosse culpa dela, que só apurou e escreveu.
Depois de algumas leves considerações no Twitter, e a promessa de destilar a minha ira mais tarde, o que faço agora, consegui me concentrar no trabalho. E, agora, nessas horinhas livres, vou me dar ao trabalho de pensar sobre o trabalho da polícia.
Por quê sou contra ser padronizada com um adesivo na cabeça? Primeiro porque não sou gado para ser marcada. A "ideia", importada de uma iniciativa em La Paz, na Bolívia, que derrubou os índices de crimes com motos, para mim não é mais do que outra medida preconceituosa, da mesma cesta de ideias "incríveis" de edis São Paulo afora como andar com colete com a placa da moto ou proibir garupas. Segundo, porque não acredito que irá trazer efeito prático, dado o brilhantismo de improvisação dos bandidos tupiniquins (sem ofender a classe criminosa da Bolívia, é claro).

Na matéria, o delegado seccional - excelente profissional que também já tive o prazer de entrevistar e respeito muito - explica que a ideia da padronização humana com etiqueta, válida para quem tem o azar de precisar da moto, mesmo veículo usado por ladrões, não é multar, mas identificar criminosos que, presume-se, não se adequariam à lei e seriam descobertos.
Criminoso tem malícia até para roubar joalherias nos shoppings mais chiques de São Paulo, meu caro delegado. Por que não teriam ao praticar qualquer outro crime aqui, de moto? Quer dizer que, se é padronizado, não é criminoso? E, se anda sem o adesivo, é um bandido e não ignorante sobre a "lei"? Não vejo efeito prático nisso.
O ponto central é que é sempre mais fácil generalizar, para, digamos, facilitar o trabalho das autoridades. De autoridades em várias esferas. Motociclistas que usam a moto como sustento é quem tem que se virar para provar que não são bandidos. Os bandidos só precisam continuar improvisando para não serem pegos. Se uma lei dessa for aprovada, teremos que andar etiquetados para facilitar o trabalho da polícia. Policiais vão gostar se eu generalizar que todos não cumprem o seu trabalho de caçar bandidos (seja de moto, carro ou barco)? Não, porque essa afirmação não é verdadeira. Mas é muito mais fácil jogar o ônus para nós. Gasta com a tal da etiqueta (por que, tal qual como padronização de placas e 1001 outras coisas, imagina o mercado que isso iria movimentar) e, se não andar na linha, se vira com a multa também. Mas acreditamos que tudo o que a polícia quer é pegar bandidos. Principalmente porque toda pessoa que anda de moto - não importa o tamanho ou a marca - já é um bandido em potencial declarado. Não é?

Já pago um seguro obrigatório surreal, além do seguro opcional de valor tão surreal tanto, pra ficar menos frustada caso o bem que trabalhei para comprar seja levado por um bandido. Ei, autoridades, eu sou motociclista e também sou vítima. Cadê o Estado para me proteger? Já chorei a morte de amigos motociclistas que o facínora trânsito levou, assim como rezo pela recuperação de quem se salvou uma, duas, três, várias vezes sobre uma moto. Muitos próximos já tiveram uma moto roubada ou furtada. Foi sempre culpa deles mesmos? Motociclista só serve como culpado nas estastísticas? Onde está registrado, que eu vou lá conferir.
E tem outra coisa, Estado (e município): se eu tivesse um transporte público decente e com preço justo, apesar de eu gostar tanto os senhores acham que eu me arriscaria de moto? Sou a primeira a querer iniciativas para conter a criminalidade com motos. Mas não a qualquer preço para a coletividade. Cada um com o seu trabalho. Eu evito me tornar ameaça no trânsito: não dirijo carro. Eu sei, mas não tenho experiência. Desde que tenho a carta na mão, só sei o que é pilotar moto. Vou me arriscar, e aos outros, pra quê? Mas eu posso falar por mim. Pelos outros, que oferem perigo em potencial e não estão nem aí, não cabe a mim fiscalizar - e punir. Certo?
Eu sei que é só um adesivo, não custa nada colá-lo nos meus dois capacetes, ou trocar de capacetes quando estiver na garupa da minha irmã, pai ou namorado, eles, idem, se precisarem da minha carona. Ainda mais eu, nojenta com a higiene dos meus próprios capacetes. Trabalho nenhum, complicação alguma. Eu só tô cansada dessa coisa de sempre generalizar, generalizar, genralizar, e nunca aparecer um santo disposto a separar o joio do trigo. Cansei de ser tratada como bandido por ser motociclista. Será que posso chamar os direitos humanos, pra não ser marcada como gado?

E O QUE ERA PARA SER LEI?
E O QUE JÁ É OBRIGAÇÃO?


Bom, no mesmo sábado em que surtei de manhã com tamanha bizarrice, à noite, foi exibida uma matéria no Jornal Nacional sobre as fraturas feias de quem cai de moto. Uma menina até diz no depoimento que, depois que se recuperar nas fisioterapias, não vai mais andar de sandália ou roupa aberta de moto. Tomou, bicudo? Fico imaginando o couro das piriguetes que sobem e descem a serra mostrando as suas pernas na garupa, com o mochilão detonando as costas. Lindo de ver, mané? Imagine a fratura quando o vida loka sair voando no túnel e aterrissar na serra. É falta de noção total.
É claro que na cidade, para trabalhar, não piloto encapotada, como quando estou na estrada. Mas, mesmo no calor de 30 graus, não abro mão da blusa pesada. Pode não impedir ferimento algum, mas pelo menos amenizar de uma queda.
Aí fiquei pensando no que o Estado faz pela segurança do motociclista. Limita os locais em que ele pode rodar, é claro. Tipo, "quer se matar, se mate só na faixa local". Não tem iniciativa tipo "viu, você não deve se matar ou tentar matar os outros, vida loka imbecil".
Por que um deputado, vereador ou delegado não têm a ideia de fazer uma lei que obrigue o motociclista a andar protegido, com jaqueta e botas? Ué, não estão tão empenhados em nossa segurança e na de terceiros? Porque isso não renderia, pelo menos diretamente, nada ao Estado, mas às lojas de equipamentos. De imediato, alguém iria refletir o alívio no tratamento de traumas na rede pública de saúde, que nós mesmos bancamos? Se dariam ao trabalho de fiscalizar adesivos, mas teriam a mesma vontade de conferir algo cujo uso o privilegiado é, primeiramente, o próprio motociclista/motoqueiro?
As fiscalizações, muito bem-vindas, do estado do veículo, ainda são insuficientes. Gente andando com a moto (e carros) caindo aos pedaços, até o dia em que isso acontece, literalmente. Gente andando com aquelas mochilas gigantes escorregando para um dos lados, num desequilíbrio total, e mortal. Capacetes em estados terminais, que com viseira fechada não se vê a um palmo. Regatas, chinelos, bermudas. Fora da praia (não que se justifiquem no litoral). Não se fiscaliza o suficiente o que deve ser fiscalizado, e querem inventar mais medidas sem efeito prático. Mas não, não é indústria de multas. "Só querem a nossa segurança".
Falando em multas, no recente balanço da prefeitura de Limeira, foi justificado o aumento de multas ao da fiscalização. O número de agentes dobrou. O de multas, triplicou. Equânime, não? Bons de vista esses agentes, que só não aparecem quando cometem infrações contra nós. Mas não, não estamos numa indústria de multas e, antes que a gente esqueça, os acidentes continuam aí, claro, com aqueles números lindos para as motos envolvidas. Mas sabe que, até hoje, das pesquisas que não acabam mais falando do envolvimento cada vez maior de motos, NENHUMA especifica se a culpa da ocorrência era de quem estava de moto ou com outro veículo? Eu nunca vou saber se a maioria de motociclistas/motoqueiros é vilã mesmo e deve queimar no inferno, ou se é vítima e deve ter seu lugar no céu reservado para uma partida na próxima esquina. Assim até eu vou demonizar as motos o resto da vida, ainda que um motociclista perca a vida, ou uma perna, fechado por um carro.
O departamento de Transportes de Limeira também anunciou nessa semana que usará parte dos quase R$ 5 milhões de multas arrecadados no ano passado para investir em blitze educativa para motociclista. Acho ótimo, isso. Mas, como já vimos, planejamento e execução decentes não são o forte nesta secretaria. No ano passado, ao mesmo tempo que a campanha pró-pedestre fez o maior barulho e muitas multas em SP, a mesma iniciativa foi ensaiada aqui. Só ensaiada. Na época, usei a bike como transporte alguns dias, também na condição de pedestre, empurrando-a, nas travessias, nas faixas, na calçada. Fosse um pouco mais bobinha, não estaria aqui para contar a história. A campanha para defender o pedestre foi uma campanha fantasma em Limeira. Mas acho que nem quem tem visão sobrenatural conseguiu ver. Nem no sonho.
Só pra lembrar: também é dever do Estado/município oferecer vias seguras e bem sinalizadas. A gente pagar por isso. Não é nenhum favor pra ser comemorado como "presente" em campanha eleitoral. Lembre-se disso, no próximo buraco ou rotatória suicidada, onde não são fiscalizados os abusos.

O QUE EU QUERO DIZER É: VIVA

As autoridades querem nos limpar do mapa para que paremos de dar problemas e trabalho para eles (escrevo isso lembrando dos lemas do Jackson Five... mais verdadeiro, impossível). Por isso, caros amigos motociclistas de bem, estamos fadados à generalização. Desculpe se sou a última a dar conta disso. Só não queria me conformar. Para tributos (das motos, dos produtos, dos documentos, dos registros), servimos. Para cobrar nossa parte em segurança, estamos no grupo dos maus.
Nesta semana fui procurada para dar um depoimento numa matéria sobre motos, que seria produzida para um dos jornais da Rede Família. Como já tinha xingado muito no Twitter, o colega Guina até me tranquilizou: "não é sobre os capacetes não!". Era sobre os dados da Prefeitura, que já comentei anteriormente.
Bom, aceitei de pronto, e fiquei imaginando como conseguiria transmitir, da forma mais sintetizada possível, o que gostaria de falar sobre essa condição numa edição de TV, sendo otimista que minha fala teria uns 2 segundos. Admito que comecei errado, porque não estava com o sapato apropriado para pilotar, e nem com o melhor dos capacetes. Mas não sou exemplo sempre, e nem tenho essa pretensão. Aí fui batendo um papo com a Grá Félix, enquanto íamos ao estacionamento para eu buscar a moto e dar uma voltinha para o vídeo. Contei pra ela sobre o meu primeiro e, graças a Deus, único tombo com três meses de moto, quando descobri que não existe preferencial. Nem pra mim, nem pra ninguém. Contei sobre o camarada na marginal Tietê que passou voando do meu lado no corredor, e que o encontrei alguns quilômetros adiante, estatelado no chão, homem num canto e moto noutro.
Outra coisa, que nossa hipócrita sociedade jamais irá admitir: que é muito fácil levantar o dedo pra eleger o motociclista/motoqueiro de todas as mazelas do trânsito e do mundo, quando se quer que a pizza, a marmita, o remédio, ou o documento cheguem urgentemente a um destino. Por que não é quem pede que está arriscando o couro. E depois você ainda pode chamá-lo de imprudente e causador de acidentes, ainda que fosse pela sua encomenda que ele estivesse correndo.

É claro que nada disso justifica a imprudência, tanto de moto quanto de carro ou ônibus. Mas o principal que consegui falar na entrevista, e gostaria que as pessoas refletissem, é que se cada um pensasse na esposa, mãe ou filhos que estão esperando em casa (os que ficam), iriam refletir se vale a pena correr ou se descuidar para ganhar um minuto, um segundo que seja. Pra quê? Pra chegar primeiro no PS? Ou no cemitério? Se as pessoas não pensam na própria família, como vão pensar na do próximo, ao sair voando pra cima de alguém, tirar uma fina com quem está do lado? É uma terra de ninguém e não há veículo para determinar isso. Há condutas.

Em toda a minha vida já rodei quase 80 mil km de moto, a maioria numa CG 125. Fiquei imaginando.. Com Kashmir, fui e voltei, ilesa, de Curitiba, passei pela "rodovia da morte". Não seria ridículo me acidentar numa das rotatórias de Limeira, um pacto tremendo com a engenharia do mal - e da morte? Ou seja, aonde está o perigo? Com quem está o perigo?

No Brasil, como é de se esperar - mas não para se conformar - as autoridades vão continuar lavando as mãos e fazendo o que convém a elas. É cada um por si na terra de ninguém. Não acho que tudo seja obrigação só do Estado. Pelo contrário. É no desconfiômetro de cada um que as coisas podem ser mudadas. Mas enquanto todo mundo se acha um Vettel, sobre duas, quatro, ou quantas rodas for, o caminho será livre para a imprudência e impunidade no dar de ombros das autoridades para o que realmente importa e faz vítimas. Mas é só mais um, não é mesmo? No que é obrigação do Estado, enquanto não tirarem bandidos das ruas, eles continuam agindo por aí, de moto, carro, a pé, de bicicleta.
Não defendo mais quem anda de moto. Quer se matar, vá, por conta e risco. Todos vão continuar nos culpando, de qualquer jeito. Mas poupe a vida dos outros. É o que tento fazer por mim. Me cuido porque não quero minha família chorando por consequências de um gosto que, apesar dos pesares nos apontamentos da sociedade, me dá mais alegrias do que tristezas nesses seis anos e meio e 80 mil km. Para autoridades são números. Para mim é vida.

quarta-feira, 25 de abril de 2012 | By: Daíza de Carvalho

Circuito Sesc traz atividades a Limeira e Cordeirópolis

Apresentações artísticas acontecem nesta sexta-feira no Parque Cidade

Daíza Lacerda

Nesta sexta-feira, o Parque Cidade de Limeira será palco para diversas atrações culturais no Circuito Sesc de Artes. Em Cordeirópolis, no domingo, as apresentações acontecem na Praça da Matriz.
O Circuito, que engloba 88 cidades, traz aos municípios artistas de diversos estados com artes visuais, circo, dança, literatura, música, teatro e vídeo.
As atividades começam com "Substantivo Feminino", exposição e intervenção compostas de retratos em vídeo, em foto, vídeocorrespondências e intervenção sonora.
Na literatura, em "Histórias ao do Ouvido", as narradoras percorrem os parques, as praças e as ruas das cidades contando histórias variadas ao do ouvido, mesclando poesias, músicas e narração de histórias.
"Seja noite ou seja dia, viva o palhaço Alegria" será a apresentação de teatro, enquanto no espetáculo circense o argentino Marcelo Luján é "Marcelino em Pente Fino", com números de manipulação, música, movimento, equilíbrio em cabo tenso e clown.
Na dança, o espetáculo "Sapatos Brancos" traz ao palco pesquisa cênica-coreográfica que investiga as tradições do carnaval paulistano, as suas escolas de samba e especialmente o ritual presente na dança do Mestre-Sala e Porta Bandeira.
Para encerrar as atividades, o destaque será Marcelo Jeneci, de São Paulo, com show baseado no disco "Feito pra acabar", primeiro trabalho autoral do pianista, acordeonista, cantor e compositor, lançado em 2010.
“É muito importante Limeira receber um evento desse porte, que proporciona uma opção de entretenimento cultural diferenciado”, avaliou o secretário da Cultura, Evandro Leite da Silva.
Todas as atividades são gratuitas. Além do Serviço Social do Comércio (Sesc), o evento é realizado em parceria com as prefeituras e Sindicato do Comércio Varejista (Sicomércio).



Espetáculo de dança Sapatos Brancos será apresentado pelo Núcleo Artístico Luís Ferron
Espetáculo de dança Sapatos Brancos será
apresentado pelo Núcleo Artístico Luís Ferron


Programação - Circuito Sesc de Artes 2012

Parque Cidade 27/04
Rua José Botelho Veloso, s/n

Cordeirópolis 29/04
Praça Jamil Abrahão Saad (Praça da Matriz)

11h - Retrato: Substantivo Feminino - Tatiana Devos Gentile e Laura Tamiana (PE / RJ)
17h - Histórias ao do Ouvido - A Fabulosa Companhia - Teatro de Histórias (SP)
17h - Seja Noite ou Seja Dia Viva o Palhaço Alegria - Carroça de Mamulengos (CE)
18h - Marcelino em Pente Fino - Marcelo Luján (Argentina)
19h - Sapatos Brancos - Núcleo Artístico Luís Ferron (SP)
20h - Curtas de Animação
20h30 - Marcelo Jeneci (SP)

Publicado na Gazeta de Limeira, também na capa. Original em pdf aqui.



terça-feira, 24 de abril de 2012 | By: Daíza de Carvalho

Cerca de 70% dos carnês do IPTU foram entregues

Contribuinte que buscar carnê terá mais cinco dias de prazo para pagar

Daíza Lacerda

Encerra no dia 30 o prazo, prorrogado pela Prefeitura de Limeira, para pagamento da primeira parcela ou cota única do Imposto Predial Territorial Urbano, o IPTU. No número mais recente fornecido pelos Correios à Prefeitura, até o dia 16 haviam sido entregues quase 77 mil carnês, dos cerca de 109 mil emitidos. "Isso representa cerca de 70% do total e, se essa média se mantiver, acreditamos que até o dia 29 sejam completos ao menos 100 mil carnês entregues", estima Marcos Laurito, diretor do Departamento Tributário da Secretaria da Fazenda.
Segundo Laurito, a expectativa é que a média de carnês não entregues após as duas tentativas dos Correios, que deverão ser buscados pelo contribuinte na Prefeitura, deve ficar entre 6 e 7 mil, a mesma quantidade do ano passado.
Assim como nos últimos finais de semana, no próximo, que antecede o fim do prazo de vencimento, os Correios devem manter o mutirão de entrega dos carnês. "Isso foi garantido à Prefeitura", lembra Laurito.

MAIS PRAZO
Quem ainda não recebeu o carnê, pode fazer o pagamento imprimindo a segunda via do site da Prefeitura (www.limeira.sp.gov.br), no link IPTU 2012. Basta colocar o nome do titular do imóvel e número de inscrição.
Apesar dessa opção, pela internet não é possível obter mais dados da cobrança e sobre o imóvel, que vêm descritos no carnê. A prorrogação não se estende entre a segunda e nona parcela, que devem ser pagas até o vencimento original, que varia entre os contribuintes.
Para quem não receber o carnê, será determinada a partir da segunda quinzena de maio a data para retirada dos mesmos na Prefeitura. A partir de quando o contribuinte fizer a retirada (quando deverá levar um carnê do exercício anterior), terá cinco dias a mais de prazo para fazer o pagamento da parcela com vencimento em abril sem juros, e com o desconto de 10% garantido, no caso da parcela única. "A única desvantagem para o contribuinte, é que esse prazo poderá coincidir com o vencimento da segunda parcela, com o acúmulo das duas. Mas quem não recebeu terá esses dias a mais para fazer o pagamento da primeira parcela ou da parcela única".

Publicado na Gazeta de Limeira. Original em pdf aqui.



No fim do prazo, quase metade falta declarar IR em Limeira

Na região, Cordeirópolis é a que concentra mais declarações, com 62% do esperado

Daíza Lacerda

O contribuinte tem até o dia 30 para fazer a declaração de Imposto de Renda, para não pagar multas. Em Limeira, das 49.988 declarações esperadas, 26.198 haviam sido feitas até domingo, o que representa 54%. Em 2011, a Receita recebeu do município 47.608 declarações.
Na região, as declarações estão mais adiantadas em Cordeirópolis, com 62%. Dos 3.398, 2.117 declararam até domingo. Em Iracemápolis, foram 2.319 declarações entre as 3.831 esperadas (60%). Em Engenheiro Coelho, 55% declararam (791 entre os 1.422 contribuintes).
Para quem não fez a declaração, o programa gerador está disponível na página da Receita na internet. O contribuinte deve baixar ainda o Receitanet, aplicativo para transmissão dos dados, disponível no mesmo endereço.
Para facilitar o preenchimento, a Receita atualizou a página com o tutorial que simula o desenho de uma linha de metrô, em que cada estação representa uma etapa a ser cumprida até a entrega da declaração. O contribuinte deve acessar o endereço eletrônico www.receita.fazenda.gov.br/irpf2012. No site da Receita Federal, está disponível ainda uma lista de perguntas e respostas para orientar o contribuinte.
Em todo o Brasil, a Receita Federal já recebeu 13.336.291 declarações. A estimativa é receber neste ano 25 milhões de declarações.

MULTA E FRAUDES
A multa para quem não entregar a declaração até 30 de abril é R$ 165,74. Se o contribuinte tiver que pagar tributos em atraso, a situação fica ainda mais complicada. Nesse caso, terá que pagar a multa e o imposto devido corrigido pela taxa básica de juros (Selic).
De acordo com o Fisco, foram identificados 14,7 mil formulários eletrônicos com indícios de fraude apenas no dia 1º de março, início do prazo de entrega da declaração do Imposto de Renda Pessoa Física 2012. Essas tentativas de burlar os sistemas informatizados do Fisco foram feitas por 6,5 mil contribuintes, que procuraram mais de uma vez enviar declarações com irregularidades.
A Receita intimou até agora 158.094 contribuintes que tiveram problemas com declarações irregulares até 2011 e abriu mais 200 mil procedimentos de fiscalização até o dia 15 de abril de 2012.
De acordo com a Receita, existem vários filtros para identificar problemas com a declaração. Entre eles, um é usado pelo contribuinte e outro pela própria Receita Federal.
Entre as operações irregulares, a área de inteligência da Receita Federal tem identificado justamente o pagamento a entidades de previdência privada inexistentes e despesas a profissionais de saúde fictícios. Outras situações são curiosas, como uma localizada no Maranhão, onde 185 declarações foram enviadas, provavelmente pelo mesmo escritório de contabilidade, com despesas de instrução e médicas em valores idênticos.
Além de investigar as informações enviadas até o dia 30 de abril, quando acaba o prazo para o envio dos dados, a Receita Federal garante que, nesses casos, fará novas verificações, incluindo declarações de anos anteriores. (Com informações da Agência Brasil)

Publicado na Gazeta de Limeira, também na capa. Original em pdf aqui.





Escolas recebem feira de adoção de animais até o fim da semana

domingo, 22 de abril de 2012 | By: Daíza de Carvalho

Dona Ana, a mulher que atravessou o século

Enquanto costura, a centenária pensa em voltar a plantar, colher, e cuidar de animais

Daíza Lacerda

Sentada no quintal, dona Ana Moreira costura, à mão. Coloca a linha na agulha, e não usa óculos. Assim, une retalho a retalho, no qual forma um lençol. As roupas que usa também foram montadas com suas mãos. "Em vez de pedir ou roubar, costuro".
Ela conta 111 anos. Mas seu nascimento seria datado de 1898, em Ribeirão de São Félix, em Minas Gerais. "É longe, minha filha. para caminhar quase um mês para chegar", mensura.
Dona Ana não se prende a datas ou idade que tinha em cada fase da sua vida. Se atém apenas à sequência dos fatos que culminaram com sua vida e velhice em Limeira, onde vive com duas filhas. Dos outros quatro filhos, três deles homens, não tem notícia. "Estão longe".
Seu semblante não é frágil. Tanto impõe autoridade quanto se desfaz em gargalhadas. O lenço na cabeça cobre os cabelos brancos, mas as rugas estão à mostra nas grandes bochechas. Descalça, também não esconde os calos dos pés, que quer levar de volta ao campo onde nasceu e viveu. "Me ensinaram a fazer casa, plantar, roçar, colher arroz. Mas ler ninguém ensinou não", conta ela, que não vai à cidade. "As meninas é que vão para mim", emenda, sobre as filhas, idosas.
Dona Ana enterrou pais, enterrou marido, ainda em sua terra natal. Foi quando vendeu sítio, cavalo e bode, antes de fazer pouso breve no Paraná, e seguir para Limeira. "Mas a minha vontade é de roçar, plantar e colher, criar porco, galinha e cachorro", diz ela, que de todas as vontades conserva uma única galinha, seu elo com as lembranças do passado de trabalho.
"Numa hora dessas da tarde, estava com o saco de feijão na cabeça, para levar para venda na cidade", transporta-se.
Sua mãe morreu quando a centenária era bebê. "Madastra? O diabo arrasta!", pragueja, sobre a que teve e não a deixava comer. "Daí eu matava passarinho mato afora para comer", conta ela, que gosta de tudo. "Como tudo quanto . não como sapo. Tudo o que não tem veneno. Como de tudo e nada me faz mal".





De ponto em ponto, o conto de dona Ana Moreira remonta há mais de um século, sobre sua origem em MG
De ponto em ponto, o conto de dona Ana Moreira
remonta há mais de um século, sobre sua origem em MG


VIDA MODERNA
Ela tem medo de hospital e não gosta de médico. algum tempo passou mal e gastou com remédios. "Passei por sete médicos, que não garantiram que eu sairia da mesa". Na inquietação de quem viu os dias nascerem e morrerem preenchidos com trabalho, numa feita rachou a testa, ao cair na calçada. "Precisaram coser acima do olho. Sete pontos", diz, com certo riso de criança travessa.
Remédio, para ela, é o que tinha ali no quintal, no campo. "Bebo remédio do mato. Trata tudo quanto . Farmácia é para gastar dinheiro". Palavra de quem teve todos os filhos em casa, alguns com parteira. Com os outros, Deus ajudou. "Nesses, quando a parteira chegou, eu estava tomando uma pinguinha", diverte-se ela, que apreciava a "branquinha" enquanto podia, assim como as danças noites adentro.
Ela fala da falta de firmeza de uma das pernas, depois de escorregar da escada, em outro trabalho às escondidas das filhas. Confessa que foi ao mercado escondida. Mas com responsabilidade. "Os carros estão matando gente na estrada. Mas não ando no meio da rua. Carro, bicicleta, moto. Tudo mata gente". Ao ser contrariada da sentença que acabava de dar, dispara. "Mata não? deixa aleijado!", retruca, antes de cair na risada.
Nunca dirigiu carro, nem voou de avião ("Ave Maria!"). O comando da máquina de costura também deixou. Andou muito. Pegou muitos ônibus. Mas cavalo ela ainda gostaria de voltar a montar. "Mas um manso, não tenho mais segurança", admite. "Quando se é novo, é uma beleza. Mas o velho fica enjoado com qualquer pessoa, não aguenta nada".
Em Minas Gerais, não tinha dia nem noite em que não pudesse andar. "Fazia o cavalo passar onde fosse. Andava com duas esporas, uma garrucha boa, de dois canos, e o facão. E, olhe, a garrucha não negava". E garante que ainda é boa de briga. Além da galinha sassaricando no quintal, não fica sem arma: o facão fica guardado, mas sempre à mão. Caso precise.
Depois de coser os olhos num Dia das Mães e ter os joelhos azuis da cor do anil, ela não deixa de se impor. "Conversa comigo é alta. Esse negócio de resmungar em me-me-me pra mim é gato".


Dona Ana passa os dias cosendo; de retalho em retalho, faz lençóis e a própria roupa
Dona Ana passa os dias cosendo; de retalho
em retalho, faz lençóis e a própria roupa


VÍCIOS E VIRTUDES
Ela mostra tão rápido, que quase não para ver o cachimbinho guardado no bolso da saia. "O doutor proibiu, mas às vezes tiro uma fumacinha", confidencia. O cachimbo chegou depois da morte do marido. Mas o cigarro de palha, ainda quando era criança, e o pai fazia para afastar os mosquitos. Daí para o vício, um passo. Mas o doutor também cortou.
Não seria necessário perguntar, mas ela responde: quando acorda, pensa em trabalhar, "livre da palavra dos outros, graças a Deus". Sem carteira de trabalho, aposentou-se pelo fundo rural.
O mundo além de sua agulha e linha e lembranças da roça se resume ao pouco que vê de TV. Alheia a política, mercado financeiro, imobiliário, conflitos entre países, ou viagens do papa, ela diz que não gosta de ver muita coisa. E irrita-se com o pouco que vê. "Mulher pelada? Não fui criada desse jeito", reprova ela, que teve oito irmãos.
Fora a roça e a costura, do que gosta dona Ana? "Gosto de tudo quanto há. Só não gosto de pedir ou roubar", remenda, para traçar firmes os pontos de sua dignidade.
Conselho bom, quem dá é o velho. O jovem não está ouvindo conselhos. Mas e se algum ouvisse? "Diria para tratar todo mundo bem, não andar com cachorrada. Conselho ruim a gente não pega. O bom, aceita se quiser".
De tanto andar, plantar e cuidar, o que aprendeu, a dona Ana? "Aprendi foi emendar retalho. É a cabeça, minha filha", sinaliza a autodidata no ofício.
Entre um ponto e outro, dona Ana almoça e janta, com tudo preparado por suas meninas. Casa, arruma cedo. As roupas elas lavam. Na casa dos outros, não gosta de ir.
No intervalo das costuras, com sua caixa de retalhos e carretéis, onde a agulha vez ou outra teima em se esconder, bebe água e café, que adora, tanto quanto um pagodinho. "Só não sei roubar. Mas meus servicinhos eu faço", diz, entre um amontoado de linhas e outro, a centenária que gosta de tudo quanto há.

Publicado na Gazeta de Limeira, também na capa. Original em pdf aqui