domingo, 19 de junho de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Missão resgata e muda a vida de moradores de rua

Daíza Lacerda


Eles vivem em meio à pena, desprezo ou indiferença, além de viadutos, praças e cantos escondidos (ou nem tanto) de Limeira. Convivem, além de vícios, com as ameaças típicas de quem não tem mais um lar, a não ser aquele onde tentam sobreviver: a rua.
Os moradores de rua, que despertam diferentes reações quando vistos, são a razão do trabalho da Missão Anjos da Noite, formado por membros da Comunidade São Judas Tadeu, da Paróquia Santa Isabel.
Acolher essas pessoas para que possam voltar ao convívio social é uma ideia que nasceu em 2007, quando o grupo passou a promover as pastorais às quintas-feiras e domingos, com a entrega de refeições.
"Vimos que não era suficiente. As pessoas precisavam de médicos e de um local para ficar. Conversamos com o padre Valdinei sobre a viabilidade de acolher e reintegrar essas pessoas", explica Albert Henrique Neves, o Betinho, que coordena os trabalhos.
O pontapé com este objetivo começou com um tanto de desobediência. Sem esperar a resposta do pároco, Betinho, junto de outros fiéis, deu início ao projeto e, no início deste ano, começaram o acolhimento.
Para isso, ele deixou o emprego para se dedicar à missão e procurar profissionais para ajudar na empreitada, como psicanalista, médico e nutricionista. "Passamos a oferecer regularmente café e almoço, mas ainda não havia espaço para acolher".

A MUDANÇA VEM DE KOMBI
A comunidade se transformou, com ajuda de comerciantes e parcerias como a da Rede Social Senac, na nova casa de quem vivia refugiado em calçadas ou praças. O vício em drogas ou bebidas alcoólicas faz parte da trajetória da maioria dos que chegam. Mulheres não ficam na casa, mas são encaminhadas para clínicas de recuperação.
A caminhada para oferecer oportunidades a quem tinha se desvinculado da família e estava entregue ao vício não para. Todo domingo, a bordo de uma Kombi verde, eles saem pela cidade para distribuir comida para quem está na rua. Este é um tipo de "isca" àqueles que ficam na área central ou debaixo dos viadutos, que serviu como porta de entrada para uma vida nova a dezenas de homens, entre os que passaram pelo abrigo e continuam nele.
Um deles é Marcos Caldas, 38, no abrigo desde março. Ele fez a opção de se unir à missão em vez de usar os trocados que tinha para comprar bebida. Hoje, ajuda a coordenar a casa.
Orações, refeições e trabalho, tanto para manutenção do abrigo como para gerar renda, como a fabricação de produtos de limpeza e artesanato, fazem parte da rotina dos que deixam a rua. Cozinhar, lavar e limpar são algumas das tarefas. "Hoje oferecemos diariamente almoço, jantar, café da manhã e da tarde", diz. São pelo menos 30 refeições no almoço, e outras 30 no jantar.
A casa tem atualmente 15 moradores. "Sete já saíram empregados e outros voltaram para o convívio familiar. Dos que estão conosco, procuramos regularizar os documentos e encaminhar para o trabalho", explica Betinho.

RESULTADOS E TENTATIVAS
"Estamos alcançando um resultado maravilhoso, com o apoio da Paróquia Santa Isabel e do padre Valdinei", garante Betinho. A iniciativa sobrevive de doações, e não tem faltado alimentos, embora os acolhidos tenham mais necessidades, como colchões e produtos de higiene.
Na vivência, também dormiram na rua. "O pouco que sabemos, vivemos. Muitos não se adaptaram com as regras e voltaram para as ruas. Mas vamos atrás de novo".
Solidariedade e amor incondicional são os segredos para continuar a missão. "As pessoas recebem a disciplina da rua. Convivem com drogas, prostituição. A necessidade existe em qualquer lugar. A maior dificuldade é reeducar", reflete.
Mas também existe a compensação. "A maior gratificação é as pessoas se reerguerem, se superarem. Deus nos usa para ajudar".
O preconceito com quem está no estado de mendicância também é outra barreira a ser superada. "Quando as pessoas chegam ao abrigo, estão sujas e com cheiros fortes. É mais fácil apontar do que dar a mão. É necessária a conversão da população".
Nas próximas reportagens será possível conhecer as dificuldades passadas por essas pessoas, que têm nome, sobrenome e família, além do desejo de reconstruir sua história com um final diferente do encontrado em becos e esquinas.



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