segunda-feira, 23 de maio de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Nada cairá do céu

COLUNA RELEITURA - 23/05/2016

Nada cairá do céu

Daíza Lacerda

Algumas situações recentes me levaram a pensar que, embora possivelmente estejamos na época mais intensa de atividades de todos os tempos, também há uma parcela considerável tomada pela inanição, pontual ou não. Muita gente reclamando demais e agindo pouco para, de fato, mudar o que lhe incomoda.
Exemplos não faltam. Há algumas semanas, alunos da Unicamp foram às ruas protestar contra a falta de segurança no entorno do campus. Mas quantos saem das festas nas repúblicas para registrar um boletim de ocorrência? Cadê os estudantes em peso para cobrar e discutir a situação nas reuniões mensais do Conseg?
Não para por aí. Também tem ocorrido reclamações de moradores do Jardim Ibirapuera, que alegam aumento da circulação de andarilhos após a implantação do Centro Pop no bairro. Mas quantos moradores abordados foram pedir providências justamente no Centro Pop, ou tomar a atitude de ligar para o 153 ou 199 para abordagem social da pessoa em situação de rua?
Sujeira na cidade afora também é queixa recorrente. Muita gente não se dá ao trabalho de registrar pedidos no 156, e "terceirizam" o serviço para o jornal. No entanto, há pessoas que colecionam protocolos sem serem atendidas pelo poder público, o que realmente justifica a divulgação do problema. Muitas vezes, moradores gastam mais tempo reclamando com vizinhos do que de fato fiscalizando e agindo em sua comunidade. A ineficiência está em não dar conta de limpar ou do povo não aprender a não sujar? Deixar a responsabilidade para os outros é fácil. E a nossa parte?
O trânsito também é campeão da má vontade. Só que nós também somos o trânsito. A partir do momento em que se opta pelo veículo particular, vamos inevitavelmente dividir (disputar?) espaço. Vai resolver mais reclamar ou se programar para sair em horários alternativos?
Ignoramos o quanto a passividade pode nos custar. Recentemente entrei numa discussão sobre a velhice, e a "obrigatoriedade" de filhos terem de cuidar dos seus idosos. Pensando daqui adiante, num contexto de longevidade muito maior do que a de nossos antepassados, como estamos nos preparando para os nossos anos finais? É justo contar que alguém cuide de nós quando temos plenas condições, agora, de nos preparar para viver mais e melhor? Não é responsabilidade nossa providenciar plano de saúde, exames periódicos preventivos, poupança e hábitos saudáveis para ter o mínimo de dependência possível quando isso for inevitável? E o que garante que haverá alguém por nós lá na frente? Como vamos saber por quais caminhos nossos entes serão levados, se eles terão disponibilidade ou interesse de olhar por nós? Amor da família é importante, mas o amor próprio também. Sempre é hora de se cuidar.
Se tanta gente não se mexe para garantir o mínimo, o que será do todo? Infelizmente não reina entre nós a cultura do planejamento, que é o essencial para qualquer objetivo. E por que terceirizar o que é do nosso interesse, em qualquer âmbito?
Há uma máxima que diz que não dá pra esperar resultados diferentes quando se faz as mesmas coisas. É fato. Sem ação ou reação, nada cai do céu. Nem mesmo a chuva, que depende de fenômenos e determinadas condições para se materializar.


Publicado na Gazeta de Limeira.

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