segunda-feira, 18 de abril de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Estatuto do autodesarmamento

Daíza Lacerda


Uma suposta dificuldade de Wellington em conseguir armas o teria dissuadido do objetivo de acabar com vidas na escola a qual frequentou, movido seja lá por qual idealismo doentio fosse?
A falta de uma faca em mãos teria evitado que um filho assassinasse o próprio pai, caso que acompanhamos nessa semana em Limeira, movido sabe-se lá por quantas doses de drogas?
O debate sobre o Estatuto do Desarmamento, reaberto com a tragédia no Rio de Janeiro, nos levará efetivamente a uma solução contra crimes brutais? Afinal, como bem se sabe, no Brasil afora, não é a proibição que previne necessariamente irregularidades, que podem ser vistas tanto nos mais altos escalões do governo como nas mais reles sarjetas onde repousam outras vítimas inocentes - e anônimas.
Nem sempre é a arma física o maior perigo, apesar de sua letalidade. Revólveres são disparados e golpes de faca desferidos por almas armadas. As pessoas estão carregadas, por si só, com munição de ódio - ou indiferença - à vontade, para ser disparada na hora da revolta. E, em casos extremos - ou patológicos - o resultado é o que vimos no Rio de Janeiro e em Limeira. E que não vimos, nos confins onde a violência ainda é tão presente, que o silêncio é a melhor defesa.
A conivência e omissão matam tanto quanto gatilhos disparados. E não é só do governo. Quantas vezes, na hora da fúria, alguém já não bradou a “vontade de matar” fulano? Quantas pessoas você e seu vizinho conhecem que efetivamente levariam a força da expressão ao ato, se misturasse a raiva a alguma droga, doença ou ideologia?
Quando armados com nosso ódio ou soberba, todos somos criminosos em potencial. Ferimos o outro com palavras ou atos, mesmo que nenhuma gota de sangue seja derramada. Quando estamos alheios a isso, também.
O que nutriu, além das drogas, o jovem que matou o pai em Limeira, cujo estado preocupante já era conhecido por familiares e vizinhos? E qual desses dois tipos, o que se acha mais do que os outros, ou o indiferente, teriam abastecido Wellington para que ele descarregasse sua fúria sobre inocentes, fazendo um País inteiro de vítima?
Num País em que até um veículo de transporte pode ser usado como arma (conforme as intenções e condições mentais de quem dirige), se conseguirmos tirar um arsenal das ruas, liquidaremos também com a munição intrínseca que muitos de nós carregamos?

Artigo publicado na Gazeta de Limeira.





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