domingo, 10 de abril de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Animação: mão de obra brasileira migra por falta de investimento

Daíza Lacerda

Com a sedução das cores e dos efeitos, sobretudo em 3D, desenho animado deixou de ser especialidade só para crianças. A graça, também para espectadores grandinhos, é uma brincadeira séria para quem as produz, do primeiro traço ao acabamento digital.

A nova aposta de sucesso de animação nos cinemas foi lançada anteontem, em número recorde de salas no País. O longa “Rio”, dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, retrata paisagens e marcas da Cidade Maravilhosa, que é cenário para a aventura de um casal de araras azuis, além de outras belezas da fauna brasileira.
Produzida lá fora com “gente nossa”, este é só um dos exemplos do que acontece no mercado de animação para cinema ou TV, de acordo com o animador Pedro Felipe Pizzolato, 22, que esteve sexta-feira no Arcoíris Cinemas de Limeira para falar sobre o assunto. Com formação em Design, ele, que atua em uma produtora e conta com três curta-metragens no currículo, diz que existe uma barreira nas emissoras nacionais para os produtos daqui. “Elas preferem investir em séries consolidadas no mundo todo, a arriscar no que é feito aqui. E os produtores nacionais precisam conquistar o estrangeiro para conseguir espaço aqui”, diz ele, exemplificando com a febre “Peixonauta”, animação brasileira vista em 65 países pelo Discovery Kids. A equipe do desenho é de pelo menos 200 animadores.
“É uma falta de visão, pois as séries têm vida longa e proporcionam uma renda maior, perdurando na programação, diferentemente das novelas, por exemplo. Os Simpsons são exibidos há 20 anos. A animação é uma vertente do audiovisual viável comercialmente”, defende.

TEMPERO BRASILEIRO
Há criação de brasileiros em outros sucessos como “A princesa e o sapo”, da Disney, que teve 12 minutos produzidos em uma produtora de São Paulo, numa concorrência com interessados de diversos países. O trabalho envolveu cerca de 40 pessoas e demorou um ano e meio, conforme Pizzolato.
Na oportunidade ele exibiu outros materiais, como um comercial de cereais feito por brasileiros, exibido no exterior. O mercado publicitário se transforma numa saída, com a falta de investimento voltado a séries e curtas. “Entre os anos 30 e 90, a maior parte de animações era de publicidade”, disse, exemplificando com mais vídeos.

ENGATINHANDO
Com a predominância do interesse em material importado, o mercado de animação no Brasil ainda está longe das altas cifras auferidas no exterior. Pizzonato cita um edital de R$ 4 milhões do Ministério da Cultura, que viabilizou o projeto Anima TV, com 46 episódios de exibição internacional. “As iniciativas devem continuar, para a atividade deixar de ser um mercado e se tornar uma indústria”. Esse tipo de apoio é recente, iniciado nos últimos 10 anos, aponta.
Por não poder “monopolizar” os editais para essa vertente, devido às demais necessidades culturais, como o teatro, o investimento privado ainda é de extrema importância para o segmento. Mas, pela falta de interesse, o Brasil perde não só em produção, como em profissionais, que seguem voo para as grandes produtoras internacionais.
Apesar disso, o Brasil sedia o terceiro maior festival, o Anima Mundi, que só perde para o Canadá e França. Além disso, há outros eventos menores e com temáticas definidas, como terror e infantil.

CUSTOS E PRODUÇÃO
As animações são bonitas de ver, mas são trabalhos caros e demorados. No Brasil, onde o orçamento é reduzido, cada minuto de um curta animado é estimado em R$ 10 mil. A média fica entre R$ 60 mil e R$ 110 mil, mas “Anjos no meio da praça”, do brasileiro Alê Camargo, custou R$ 150 mil, por ser produzido em 3D. “O curioso deste diretor é que ele voltou do exterior para agora só trabalhar no Brasil”, comenta.
“Shrek 3”, uma das maiores bilheterias entre as animações, rendeu mais de R$ 1 bilhão. Mas na indústria, mesmo o lucro pode significar fracasso. “A partir de 800% de lucro, o filme é considerado um sucesso. Até 500% está na média e, abaixo disso, pode ser considerado um fracasso”, explica.
A produção de dois minutos de cena pode levar um ano. E, embora a finalização seja digital (maior parte do processo, no caso do 3D), o trabalho começa no traço, com o desenho das poses principais dos quadros, delineamento e pintura. Nas grandes produtoras os personagens ganham, vida modelados e escaneados digitalmente, após esculpidos. Se no 2D sombra e luz são feitas no lápis, esses ajustes são todos computadorizados no 3D.



Publicado na Gazeta de Limeira.



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