domingo, 17 de abril de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Deficiência é coadjuvante em histórico de vitórias da nadadora Taís Bobato

Daíza Lacerda


“Quando entramos na piscina, não existe deficiência. O esporte permite ao deficiente sair de um mundo fechado para mais oportunidades, para se sentir melhor, outra pessoa”. As palavras são de Taís Bobato de Souza, que aos 18 anos já coleciona títulos paraolímpicos de natação, inclusive de vice-campeã brasileira.
A exemplo de muitos jovens, Taís fazia aulas de natação aos 13 anos, além de futebol e atletismo. Sem maiores pretensões no esporte, naquela idade, dores e inchaço na perna esquerda foram os sintomas para a descoberta de um tumor, que levou à amputação de parte do membro. “Quando soube que seria necessário, chorei o dia inteiro. Mas concluí que o câncer levaria parte da minha perna, mas não a minha vida”, disse a jovem.
O tumor, no osso, já havia alcançado os nervos da perna, ainda que não crescesse, por conta do tratamento. Parte sadia do membro também foi retirada, para prevenir a reincidência do câncer. Pouco depois de um mês da amputação, ela recebeu uma prótese. A quimioterapia, que começou cinco meses antes da retirada, continuou por mais quatro, para adaptação.
A volta às piscinas foi por recomendação médica, mesmo a natação sendo a última em preferência entre os esportes até então praticados por ela. Apesar de tantas dificuldades com tão pouca idade, não houve espaço para drama na vida de Taís. E o estigma de pena, um mal ainda comum aos deficientes, não faz parte dos treinos. “Os treinos são puxados, mas com cabeça boa e foco, o difícil se torna fácil, em tudo. Os resultados dependem da vontade do atleta”, revela ela, que nada cinco mil metros diários em duas horas de treino. “A dor é temporária, mas o orgulho é para sempre”.

RESULTADOS

A primeira competição marcou também o primeiro prêmio conquistado por Taís, nos Jogos Regionais de 2008. “Estava muito nervosa, sem ideia de como seria, era tudo novo. Mas depois que ganhamos, a realização é muito grande. Uma sensação diferente de qualquer coisa que eu tenha sentido. É quando vemos o valor dos treinos e dedicação, com resultados”, exprime.
Agora ela treina para o campeonato brasileiro, cujas provas começam em agosto, em três etapas, cada uma em um Estado. “Nunca imaginei ir para um brasileiro. E antes também não tinha o pensamento da importância do esporte para o deficiente, o que vejo principalmente pela experiência dos outros, que deixam de ser dependentes, inclusive de remédios. Ficam muito mais animados, sem o sentimento de ‘coitadinhos’, pois são capazes de fazer qualquer coisa. Os portadores de necessidades especiais não devem ter vergonha, mas encontrar algo que não os esconda. O esporte traz isso”.
A jovem foi surpreendida neste ano com uma homenagem do Rotary Club Limeira Sul, no Dia Internacional da Mulher. “Fiquei muito contente com o reconhecimento do meu trabalho, por darem valor ao que tenho feito. Também gosto muito do trabalho que fazem”, declarou.

Superação não tem idade ou limitaçãoPara mostrar que deficiência não quer dizer, necessariamente, limitação, a idade também não passa de desculpa para iniciar algum treino. Ricardo Félix da Silva, 34, treina junto com Taís Bobato, orientados pelo treinador Júlio César Pistarini, 23, do Centro de Treinamento Paraolímpico (CTLP).
Até pouco mais de um ano, Ricardo, que é cadeirante, não havia se aventurado em uma piscina. Das primeiras aulas iniciadas com coletes em janeiro de 2010, tornou-se revelação e iniciou competições em abril passado. “Comecei do zero. Antes não tinha objetivo algum. A ideia era aprender a nadar, não competir. Mas fui inspirado em figuras como o nosso treinador, o que aumentou a força de vontade. E também a cobrança”, explica.
Júlio credita o sucesso do grupo à união e esforço. “A equipe está em sintonia e 100% comprometida. Temos um treino convencional, muito focado na técnica, para tirar o máximo. E os resultados estão aparecendo”, diz o treinador.
A equipe de natação da CTLP (além da de atletismo) conta com 13 atletas, a maioria crianças, com deficiências, tanto físicas quanto mentais. “Convidamos crianças, adolescentes e adultos a conhecerem, fazerem uma aula de teste para aprender a nadar”, reitera Júlio.
Diante do susto de algumas pessoas que acompanham os seus treinos, Taís e Ricardo lembram que o desempenho melhora gradualmente, conforme a dedicação. Logo, ninguém inicia no esporte nadando a mesma distância que treinam hoje.
“O deficiente já chega com muitos problemas, e o esporte não deve ser mais um. Pelo contrário, é para ajudar a se livrar das preocupações. É o melhor remédio”, concordam.


Publicado na Gazeta de Limeira, também na capa.



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