sexta-feira, 1 de abril de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Escolha é tema de livro lançado hoje em Limeira pelo ex-padre Dalcides Biscalquin

Daíza Lacerda


Em certos momentos da vida muita gente se pergunta, em tom de brincadeira, se deve se casar ou comprar uma bicicleta. Mas, intimamente, os questionamentos podem ser mais profundos como manter um casamento, trocar de emprego ou mudar de cidade. Situações que exigem escolhas, nem sempre - ou nunca - fáceis. 

A questão, tão complexa e que pode se mostrar em tantas nuances, como a profissional ou afetiva, é tema do livro "A vida é feita de escolhas", de Dalcides Biscalquin, editado pela Edições Loyola. Aos 37 anos de idade o autor se deparou no limite de uma escolha que precisava resolver: optar entre manter o sacerdócio, ao qual se dedicou por 23 anos, ou seguir a motivação afetiva de constituir uma família. No livro, que será lançado hoje em Limeira, às 19h30, na Livraria Catedral, ele divide o aprendizado proporcionado pela escolha ao deixar a vida eclesiástica para viver um grande amor.
"Toda mudança gera desestabilização e insegurança, por não termos todas as certezas em mãos, o que é da condição humana", disse Dalcides à Gazeta. Ele, que hoje é casado com a jornaliasta Mariana Godoy, da Rede Globo, alerta que não adianta negar que algumas situações merecem atitudes diferentes. "Por mais que protelemos, a vida cobra opções". Segundo ele, a grande mensagem do livro é que a vida não precisa seguir um rumo que não traz mais alegria, daí a importância das escolhas.

MEDO
"Ter um pouco de medo é bom, porque preserva, mas há o medo que imobiliza. É preciso repensar caminhos, sem certeza absoluta ou medo de decepções, porque a vida não é certa. O que existe é uma intuição, sinais. Mas é preciso querer e não se acomodar com medos, que não satisfazem sede de vida", diz ele.
Na obra, ele observa que muitas vezes o sofrimento não se deve ao mal em si, mas à ausência de perspectivas. "Quero ajudar as pessoas a perceberem que quando se vence o medo, a paz e bem estar são mais compensadores do que manter uma situação já esgotada, como um casamento falido. A infelicidade consome tanto que correr o risco da mudança é melhor. No emprego, às vezes se adoece no ambiente. Primeiro, o corpo vai dizer que tem alguma coisa errada, depois os amigos vão apontar que é preciso repensar, até que você mesmo, em sua solidão, constatará que algo deve ser mudado", declara.
A busca da "própria verdade" exige uma pausa na agitação do dia a dia para um mergulho interior. Ou, como define, um silêncio para se ouvir. "O que sou? O que preciso? Quais as coisas boas que tenho, mas que não servem mais?", exemplifica sobre os questionamentos da verdade interior.

DESAPEGO
Sobre a dificuldade de desapego do próprio mal, ele cita que muitas pessoas, na tentativa de proteger, ameaça e impede o crescimento do outro, o que exemplifica como a borboleta em seu casulo, com o tempo prório para se desenvolver e voar. "Às vezes é você e você mesmo, um processo solitário, quando precisa assumir a sua história e não viver em um modelo que as pessoas pensaram para você. Se está insatisfeito com o que vive, é preciso mudar", pontua.
Sobre o desapego material, ele reflete que, embora a valorização material seja importante, o problema é quando se vive em função delas. "As coisas não podem assumir papel mais importante e determinante, senão vive-se em função de ter. E o pior disso é em relação à pessoas, de instrumentalizá-las e usá-las, o que desumaniza as relações".

TEMPO E DECISÃO
Quanto tempo se leva mudar ou se adaptar às escolhas que se resolve encarar? "O tempo da mudança é quando se sente a paz interior. Mesmo com o mundo contra, sente-se em paz", diz Dalcides.
Em sua experiência, levou um ano entre o processo de discernimento e a mudança. Primeiro, a negação, seguida da consideração da hipótese de deixar o sacerdócio, antes de uma preparação solitária para se fortalecer para a mudança em si. Além de um novo plano profissional, foi preciso trabalhar a situação de amigos e familiares
"São sonhos sobre decisões que rompem com sonhos que pessoas depositaram. Minha mãe, por exemplo, era conhecida como 'a mãe do padre'. São escolhas que interferem também na vida dos outros. É preciso planejamento, pois são mudanças sérias", diz, reiterando que o tempo é que mostra claramente as situações e com ele se amadurece as decisões.
Exemplifica, por exemplo, que muitas pessoas não terminam um relacionamento por pensar em poupar a família do sofrimento. "É preferível a dor e sofrimento da verdade, do que viver uma mentira".

DOR
"A dor proporciona amadurecimento ou revolta. As pessoas mais lindas interiormente, que entendem mais de humanidade e são mais sensíveis são as que passaram por momentos dolorosos. Assim como há outras que tiveram a mesma experiência, mas são de mal com a vida, agressivas e olham pelo sofrimento alheio. São nessas situações que o importante não é o fato sim, mas como lida-se com ele", afirma, exemplificando com a morte onde uns seguem e outros se rendem.
No livro, escreve que a dor é uma grande escola, ilustrando com a situação em que sofre um sequestro. "A dor é uma oportunidade de crescimento. Quando estive perto da morte, dei mais valor à vida, vi o quanto podia viver melhor. São necessárias perdas para enxergar o quanto certas coisas são importantes". (DL)


Dalcides Biscalquin e sua obra

Lançado há três meses, "A vida é feita de escolhas" , que tem prefácio de Gabriel Chalita, entra na 5ª edição, com mais de 25 mil exemplares vendidos. O autor apresenta a obra em Limeira hoje, a partir das 19h30, na Livraria Catedral (Rua Senador Vergueiro, 993, Centro - 3451-9107), numa noite de bate-papo, reflexões e autógrafos.
Hoje casado com a jornalista Mariana Godoy, da Rede Globo, Dalcides Biscalquin deixou a vida eclesiástica após 13 anos de preparação e 10 de sacerdócio, quando não atuava em paróquias, mas em rádio e TV católicos, na Editora Salesiana e em palestras.
Nascido em Piracicaba (SP), o recomeço foi também na vida profissional. Mestre em Comunicação pela Università Pontificia Salesiana de Roma (Itália) e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), licenciado em Filosofia e bacharel em Teologia, hoje leciona na  Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Universidade São Judas Tadeu (USJT), além de ser cantor e produtor musical.
Em sua primeira obra trata de assuntos que fazem parte da natureza humana, das escolhas da vida e aborda temas como filhos, amor, bondade, tempo, mentiras e verdades, mediocridade, querer e poder, saúde, perdão e paz, perdas e ganhos, dor, envelhecimento, morte e eternidade, e sobre a descoberta da fragilidade do ser humano.

Publicado na Gazeta de Limeira, também na capa

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