domingo, 23 de outubro de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Mudanças climáticas: gestão ideal passa pela população e governantes

Daíza Lacerda


Seminário na FCA/Unicamp "abriu portas" para estudos em Limeira e região

Limeira é agora uma das cidades participantes da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima), e teve como primeira atividade o Seminário "Gestão de desastres ambientais, vulnerabilidade e políticas públicas urbanas", ocorrido na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA/Unicamp), na última semana.
Pesquisadores de diversas instituições estiveram no campus para falar sobre a geografia dos riscos e gestão de políticas públicas. Coordenador de uma das mesas, Eduardo Marandola Júnior, do Núcleo de Estudos de População (Nepo/Unicamp), lembra que três pontos principais foram analisados. O primeiro é a necessidade de as cidades conhecerem suas próprias dinâmicas naturais, como o próprio clima urbano - aquecimento e vento. "A maioria das cidades não tem e por isso falta também um mapeamento dos riscos", diz.
Entender a vulnerabilidade das cidades, como a situação da população de cada área, suas necessidades e riscos que podem enfrentar é outro ponto. Determinados locais podem ser mais suscetíveis a desastres em eventos extremos do que outros, e as população também pode ser afetada de jeitos diferentes.
A união de ambas as questões para fazer um planejamento com conhecimento técnico e social foi outro foco da discussão, o que exige participação da sociedade e da administração pública. "Acontece de termos o conhecimento e não conseguirmos implantar políticas. Mas o principal é a relação sociedade-natureza, afinal, construímos em um ambiente que já existe", salienta.
CONSEQUÊNCIAS
Ele diz que a questão imobiliária merece atenção - tanto de quem autoriza os loteamentos quanto as construtoras, até o próprio morador. Uma ilha de calor pode ser formada, por exemplo, num local em que não foi levada em conta espaço para a vazão do vento e a contrução torna-se um "paredão". "Uma cidade do porte de Limeira precisa de um planejamento que leve em conta ainda o fator da localização, devido às épocas de queimadas", exemplifica.
A previsão é de que não haja novos problemas no que se refere às mudanças climáticas. No entanto, os atuais devem ser intensificados. "Mas ainda não resolvemos os problemas antigos, como a estruturação de redes de esgoto", lembra.

Se o excesso de chuva é desastre, 
escassez também é desafio

"Sempre que o ser humano lutou contra o meio ambiente, perdeu", expõe Alexandre Vilella, coordenador de projetos do Consórcio PCJ e professor do curso de Engenharia Ambiental do Isca Faculdades. Por isso, com o aumento populacional esperado, novos problemas ambientais são esperados, o que exige planejamento das ocupações.
O cidadão também tem responsabilidade na hora da prevenção. Entre uma reforma e outra, o modo como o morador "formata" seu imóvel pode ajudar a impactar negativamente em eventos extremos. "Quantas residências mantêm o mínimo de área permeável?", questiona, lembrando que, quanto mais concreto, menor espaço para escoamento do volume de água das chuvas. Arborização é outro item, já que algumas espécies conseguem reter até 40% de água.
A prevenção é para todos e, embora a população tenha papel determinante (dando destinação correta ao lixo, por exemplo), o poder público é o grande maestro para que ações sejam efetivas. "São politicas públicas, e não planos de governo", salienta, sobre projetos que devem ter continuidade para organização em relação aos impactos.
"O que podemos fazer é conviver da melhor forma com os eventos. Dois anos é uma série pequena para avaliar, mas nos próximos anos espera-se bastante mudanças na região".
O oposto ao excesso de água também deve ser considerado nas mudanças climáticas. Ele cita que a ONU vê como crítica a bacia hidrográfica inferior a 1,5 mil m³ por habitante por ano. Em época de estiagem, as bacias da região chegam a 408 m³. "A escassez ainda é um desafio, pois com dificuldade de captação de água os municípios perdem poder de investimento".
A comunicação é outra frente importante. "As cidades têm de saber informar o que significa quando o rio sobre e em que nível pode representar risco. E isso tem de chegar às pessoas. Às vezes elas sequer sabem que estão numa área de risco", defende Vilella.



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