quarta-feira, 19 de outubro de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Adepto do radioamadorismo, Trajaninho morre aos 89 anos

Daíza Lacerda


Experiências começaram na Machina S. Paulo, onde chegou a a fabricar rádios

"Ele era elétrico!". A definição de Renato de Almeida, 84, alegraria o amigo Trajano de Barros Camargo Filho. Amante do radioamadorismo e eletroeletrônica, o sexto filho de Trajano de Barros Camargo "apagou os filamentos na tarde de hoje [ontem], fazendo QSY para frequências muito mais altas", na definição de seus contemporâneos de rádio, em mensagens de homenagem.
"Trajaninho", como era conhecido um dos nove filhos do patriarca da família que marcou a história da indústria limeirense e desenvolvimento do município, morreu na casa de sua filha Silvana, 52, em Campinas. Aos 89 anos, de causas naturais, como explica a família. "Vivia comigo desde março, quando passou por alguns tratamentos contra pneumonia. Vivia todos os momentos da melhor maneira possível, mas dizia estar cansado", explica a filha.
No entanto, a paixão pelo rádio o acompanhou até os últimos dias. "Embora não mexesse mais com radioamadorismo, ouvia todos os dias. Tinha um com várias frequências e mudava a toda hora, da AM para FM e vice-versa", recorda Silvana, que salienta o interesse inverso pela TV.
Mas a transmissão de imagem também foi um capítulo importante na história de Trajaninho, como entrega o filho Júlio César, 56. "Entre seus trabalhos com eletroeletrônica, fabricou com Vicente Juliani retransmissores de sinal de TV, quando isso ainda estava chegando no interior".
ORGULHO
O peso do nome, valores e conquistas eram motivo de orgulho para Trajaninho, que tentava manter viva a história dos feitos da família por Limeira. Com a mudança dos tempos, sentiu-se um pouco injustiçado, como explicam os filhos. Mas um fato em especial o aborreceu. "Seu maior desgosto foi quando o prédio Coronel Flamínio Ferreira teve o nome mudado para abranger o museu", contam. Propriedade da família, o espaço foi doado pelo coronel, que era avô de Trajaninho.
Outros imóveis fazem parte das lembranças dos filhos com o pai, como o da EE Ely, que foi um barracão usado para dar cursos aos funcionários da Machina S. Paulo, em outro empreendimento pioneiro. A casa do zoológico, que era o quintal da família, também tem suas histórias. Além de gostar de pescar no lago, Trajano Filho ouvia músicas clássicas e MPB. Alto e em bom som. "Quando construíram um dos edifícios na Rua Boa Morte, os moradores ficavam na janela para ouvir com ele as músicas que deixava em volume alto", conta Júlio.
Outro hábito cultivado nos últimos anos era praticado, no início, na casa da família. Quem conta é Renato de Almeida, que trabalhou 13 anos na Machina S. Paulo e acompanhou as experiências de radioamadorismo de Trajaninho. "Ele costumava nadar no Nosso Clube todos os dias. A casa dele era a que tinha a mior piscina de Limeira, numa época que provavelmente só ele nadava!", declara.
Paralelo ao esporte, Trajaninho tinha na Machina S. Paulo sua própria sala para experiências com rádio. "Chegaram a fabricar rádio, que era montado pelo Lauro Guriel, que trabalhava na Educadora. Imagine a diferença, de máquinas de café para rádio", recorda Almeida.
HISTÓRIA PRESENTE
Além de familiares e amigos, alunos e professores da Etec Trajano Camargo também se despediram de Trajaninho, que visitava a escola em comemorações e eventos cívicos. "Passeava com os alunos e contava histórias da infância", lembra a professora Franciane Boriollo. "Sempre que podia ele aparecia, e sentia-se muito à vontade pelo elo que tem com a escola e o orgulho da família e de ser de Limeira", completa a professora Marlene Benedetti.
Trajaninho era pai também de Edson, além de viúvo. Entre seus irmãos, outros três (Maria Thereza, Flamínio e Renato) vivem em outras cidades. "Ele soube viver a vida", resume Silvana. E não deixa de acentuar o desejo pelo qual o pai lutava: "Aproveitem o legado". O enterro foi ontem, no cemitério Saudades, aos cuidados da Funerária Bom Pastor.



0 comentários:

Postar um comentário