domingo, 27 de fevereiro de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Avança restauração do casarão da Boa Morte, que abrigará Centro Cultural

Daíza Lacerda

Começou em agosto o trabalho de resgate do passado da casa da esquina da Rua Boa Morte com a Presidente Roosevelt, no Largo da Boa Morte, que foi construída em 1876. Após sediar estabelecimentos comerciais e quase ter sido demolida, a casa recebe restauração com a busca da arquitetura mais fiel possível de sua fundação, para sediar um centro cultural.

No imóvel que teve o então senador da República, Ezequiel de Paula Ramos, como primeiro dono, restam da construção original algumas vigas de madeira e poucas janelas, além do ladrilho hidráulico, piso da época, e algumas portas de madeira.
O segundo dono foi Rui Barbosa, antes de a família vender para o proprietário do Covabra. No ano passado, a Engep comprou o imóvel e assumiu a obra, além de fazer a gestão do local assim que estiver tudo pronto.
O imóvel chega a quase 300 metros quadrados e foi preciso levantar muita poeira para trazer o passado de volta à fachada e cômodos, conforme explica Gisele Pompeu, engenheira responsável pela obra. “Estamos reforçando a estrutura, que foi muito danificada com o tempo. Mantivemos o que foi possível da madeira original, porque muitas se deterioraram com cupins. As portas e janelas serão, na maioria, novas, mas feitas exatamente como as originais”, explica.
Vidros como os da época também estão previstos para compor o visual, mas a planta receberá ainda itens de acordo com as necessidades contemporâneas como rampas e elevador para a acessibilidade, além de reforma elétrica e hidráulica.
As madeiras usadas eram de espessura 20x20, com batentes de ipê. Os tijolos da construção original são de barro, também assentados com barro. Morador da Fazenda Quilombo, esta era a “casa na cidade” de Ezequiel de Paula Ramos.
“A arquitetura é típica colonial, com porões e grades de respiro, que ventilavam os pisos. É um imóvel de construção contemporânea ao Palacete Levy”, explica Juliana Binotti, arquiteta do Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico e Arquitetônico de Limeira (Condephali). Será feita ainda a pesquisa da pintura original.
Os porões serão mantidos e será feita a construção de novo assoalho, que já havia sido perdido, assim como cômodos anexos nos fundos da casa e as louças dos banheiros. “Tudo o que foi retirado será refeito o mais próximo possível do original”, frisa Gisele.
Após quase ter sido demolido em 2006, o que foi impedido pelo Ministério Público, a ideia é que o local receba exposições e também sedie encontros de cultura, como os de associações. A previsão é de que a obra termine até setembro.



Casarão recebe restauro com a busca de linhas originais
Casarão recebe restauro com a busca de linhas originais



“Se as paredes pudessem falar, contariam como a nossa história nasceu e correu ali”

“A sensação que eu tenho é que agora, sim, a minha avó descansará em paz”, define, emocionada, a dentista Lia do Carmo Barbosa, 45. Hoje ela vê da janela de seu consultório, do outro lado da rua, a nova fase da casa onde viveu várias fases de sua vida na companhia da família, que já era proprietária do imóvel no fim da década de 1930.
“Se as paredes pudessem falar, contariam como a nossa história nasceu e correu ali”, diz a neta de Rui Barbosa, que lembra da avó em uma das janelas chamando-a e os primos quando voltavam dos bailes de carnaval, além das reuniões familiares no casarão. “Era um porto-seguro onde passamos a infância, juventude e aniversários. Tive meu consultório por décadas ali e, mesmo após o seu falecimento, podia até se ouvir o arrastar das pantufas de minha avó, chamando para o café com bolo no fim da tarde”, recorda.
Apesar da tristeza pela família ter se desfeito do imóvel, o que a avó reprovaria, em seu entendimento, agora ela acompanha e auxilia no restauro, por meio de fotos de época em que detalhes da arquitetura possam ser identificados e aplicados na nova obra. “Praticamente nasci ali. Aquela casa guarda histórias da família inteira”, diz ela sobre a época em que antecedeu o funcionamento de consultório, escola, comitê, restaurante e loja. Pelo andar das obras, a próxima - e possivelmente última - parada será a da cultura, e não nos escombros.



Local tem poucas peças originais, como esta porta de madeira, além de vigas que não sucumbiram com os cupins
Local tem poucas peças originais, como esta porta de madeira, além de vigas que não sucumbiram com os cupins


Segundo Juliana, pintura original será pesquisada; a arquitetura é típica colonial, com porões e "respiro" para o piso
Segundo Juliana, pintura original será pesquisada; a arquitetura é típica colonial, com porões e "respiro" para o piso


Publicado na Gazeta de Limeira.


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