domingo, 3 de fevereiro de 2013 | By: Daíza de Carvalho

Quantos dias de trabalho custa um bem material?


Consumidor deve considerar custos fixos e planejar para evitar endividamento

Daíza Lacerda

Se você não foi um dos sortudos que acertou os números da Mega-Sena da Virada ou de outros sorteios, o jeito foi começar o ano um pouco mais longe de sonhos materiais, como um carro novo ou uma casa. Enquanto o jeito é trabalhar para garantir algum desses bens, o planejemento pode ajudar também nos cálculos de quantos dias de suor são necessários para colocar as mãos num eletrônico de última geração, os pés para o alto numa viagem de férias ou nas chaves do novo lar.
Uma calculadora desenvolvida pelo professor Samy Dana, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra quantos dias de trabalho são necessários para adquirir produtos, considerando o salário médio do brasileiro de R$ 1.224, estimado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O cálculo serve como um argumento para evitar as compras por impulso, que facilmente leva ao endividamento, situação que fica mais crítica no início do ano. Múcio Zacharias, docente do MBA em gestão financeira da IBE-FGV, alerta para o fato de as famílias ainda não darem o deivo valor à poupança, e de o cartão de crédito "ajudar" quando falta o dinheiro que não foi controlado.
"Se compararmos a poupança com os juros do crédito pessoal, um ano de aplicação corresponde a 22 dias de cobrança do cartão de crédito", exemplifica.
CAMINHO DAS PEDRAS
As dívidas devem ser prioridade antes da aquisição de um bem, já que, além delas, existem os gastos fixos, como alimentação, educação e saúde, além dos tributos. Zacharias recomenda que o primeiro passo é saber o quanto se deve, o quanto se tem em caixa, e quanto há a receber. "As pessoas sentem-se atentadas a comprar em liquidações, sem se importar se já têm dívida". E, se não há dinheiro na mão, não há tentação que resista ao cartão de crédito. "Mais da metade do crédito disponível no mercado é de cartão de crédito. São contas sem programação, que levam a dívidas e o consumidor a entrar no rotativo". Os juros do cartão chegam a 100% ao ano, considerando-se a redução de juros, que fazia passar dos 200%.
Além de organizar as contas com os gastos e receitas, seja com um rascunho simples ou com planilhas, a segunda orientação é usar a poupança para quitar dívidas, caso o consumidor tenha, já que a "bola de neve" do crédito aumenta muito mais rápido do que a aplicação.
PLANEJAMENTO
A terceira dica é a disciplina. "Todos têm sonhos e o grande ponto é o planejamento. Deve-se programar tendo em vista o quanto ganha". Pode parecer óbvio, mas o economista diz conhecer pessoas com grandes salários, dos quais não sobra nada, enquanto dependentes de salários de R$ 800 conseguem fazer o dinheiro render.
Ele exemplifica com a aquisição de um financiamento imobiliário que, apesar dos juros mais baixos, representam perigo se considerado o cenário da inflação. "Para um financiamento de 35 anos não deve-se considerar só os juros, mas a inflação, já que todos os contratos são corrigidos e a conta pode ficar grande para o mutuário".
Outro erro é ver vantagem em sair do aluguel para pagar altas parcelas numa moradia própria, acrescenta Zacharias. "É um erro analisar dessa maneira, pois a escolha de um imóvel envolve outras questões como a adaptação aos locais, além de mais custos inerentes.
Gerente regional da pessoa física da Caixa Econômica Federal, Francisco Carlos Cavalcante Silva endossa a necessidade de atenção nesse quesito. "O consumidor se atém no valor da prestação e não compara o custo efetivo total, com todos os encargos de um contrato. (com informações da Folhapress)


O custo da tentação de gastar 

Se a vitrine é tão interessante que faz o consumidor esquecer das contas acumuladas, é hora de fazer a distinção entre desejo e necessidade. Se o preço é interessante, e fator psicológico e ambiente são favoráveis, como fugir da tentação?
Francisco Carlos Cavalcante Silva, da Caixa, reconhece que não é uma separação fácil. "Se a pessoa não compra por impulso ou necessidade, mas tem a oportunidade, pode comprometer o orçamento. Isso pode levar o consumidor a restrições que o tiram do mercado bancário". A não ser que o consumidor esteja livre de dívidas e considere o custo de possíveis novas parcelas, o ideal é refletir com as contas na ponta do lápis.
São esses tipos de gastos que ajudam a avançar degraus rumo ao endividamento. Cavalcante salienta que muitos devedores têm vergonha de procurar a instituição no início da dificuldade, mas é o que deve ser feito para que a conta não vire uma bola de neve. "Se procura no primeiro momento, evita mais encargos ao renegociar a dívida".
O gerente avalia que atualmente há uma geração de consumidores que ascenderam de classe, mas passaram por restrições e lidaram com as dificuldades. "Aprenderam pela dor. Por isso, voltam mais conscientes". (Daíza Lacerda)

Aquisição de crédito 
deve virar consultoria

Com informações mais acessíveis do mundo financeiro para o público leigo, os beneficiados serão os próprios clientes, que detêm o poder de escolha. Uma das orientações pertinentes é o uso correto do crédito, que começa a ser incentivado nas instituições. Afinal, para que pagar juros de um crédito direto para construção, se uma linha apropriada para este fim prevê menor custo?
O financiamento ideal para determinada finalidade, como a compra de um imóvel ou de um veículo é apresentada de forma mais clara aos clientes, como explica o gerente regional da pessoa física da Caixa Econômica Federal, Francisco Carlos Cavalcante Silva. Tudo para evitar o endividamento. "A inadimplência é ruim para todos, tanto para a instituição, que quer emprestar e receber, quanto para o cliente, que precisa do crédito. Por isso investimos na educação financeira". Em breve, o banco lançará um portal na internet com informações, cartilhas e planilhas para contribuir no planejamento financeiro.
ASCENSÃO
Ele argumenta que é visível o número de pessoas que adquirem o primeiro crédito, num público ascendendo economicamente, como as classes C e D, que estavam fora do mercado e agora estão incorporadas. Daí a tendência de "transformar o crédito numa consultoria", como define.
Na instituição, o crédito imobiliário movimentou R$ 5 bilhões em 2003. No ano passado, foram R$ 100 bilhões. Tem ganhado força a aquisição de produtos da linha branca e automóveis.
Essa consultoria é bem-vinda pelo consumidor, como avalia Cavalcante. O problema é a disponiblidade da mesma de forma generalizada nas instituições financeiras. "Por isso o cliente precisa saber o que quer e extrair informações do banco para saber se o que oferece é compatível com as necessidade". (Daíza Lacerda)


Publicado na Gazeta de Limeira.



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