domingo, 17 de fevereiro de 2013 | By: Daíza de Carvalho

"Antigamente nossa mão cheirava notícia"


Geraldo Luís relembra os tempo de rádio e de repórter policial na Gazeta de Limeira

Daíza Lacerda

Geraldo Luís lembrou com o diretor da Gazeta de Limeira, Roberto Lucato, os tempos em que correu pela cidade e redação como repórter de polícia. Com atuação no rádio, elege a dinâmica do jornal impresso como a sua real faculdade
Feliz com o seu momento profissional à frente do "Balanço Geral", da Rede Record, ele quer mais. "Estou como apresentador, mas sou eternamente jornalista. Vivo momento maravilhoso, tenho uma audiência fantástica com um programa popular, mas almejo mais. Sonho com um programa diferenciado para a TV brasileira. Estou trabalhando para me aprimorar como profissional cada vez mais".
Permanece, no entanto, o "cara do rádio". "A grande pós-graduação do que vivo hoje na TV trago do rádio. E a importância de quem escreve bem, extremamente importante, foi com os textos que aprendi a redigir na Gazeta. Hoje vejo o quanto o texto é importante em televisão e o quanto que um jornalista que escreve bem em televisão é valorizado. Hoje, graças a Deus, tenho a independência de escrever os meus próprios textos, então é um grande presente. Buscando pela origem, passo pelos corredores da rádio e da Gazeta".
Sobre a responsabilidade de falar para telespectadores dos mais diferentes estados brasileiros, e também de outros países, o princípio é a disciplina exigida num programa ao vivo. "Se errar, é uma vez só. A dimensão do erro é muito maior".
Com transmissão da Record em 160 países, ele fala da repercussão de um programa de exibição simultânea em Portugal. "Imediatamente brasileiros que estavam morando lá comentavam a violência em São Paulo, cidade em que moravam poucos anos antes. Essa é a loucura da dimensão do poder da televisão, que traz disciplina. Hoje, o bom profissional está fora. Agora só há espaço para os ótimos. A exigência da rapidez da notícia é outra, o pensamento do redator e do pauteiro são outros", alerta ele, que renovou o contrato com a emissora, onde fica até 2017.
CORRERIAS E LAUDAS
"Infeliz o homem que não tem gratidão. E tenho imensa pelas pessoas que me ajudaram aqui, como Roberto Lucato, Rubens Pinheiro Alves. Sempre fui muito 'peitudo', falava muito, mas não tinha faculdade. Na época na Gazeta, o Roberto teve a paciência de colocar um cara que tinha força nas ruas, captava a notícia, mas precisava colocar tudo em 15 linhas. Isso é muito difícil. Eu falava na rádio por duas horas. Mas aqui não, você tinha uma lauda. Aqui para mim foi a grande faculdade de texto. Ele investiu e ele próprio cobrou que estudasse", conta.
Da rádio para as ocorrências e delas para o Instituto médico Legal (IML), onde lavou corpo com Vicente Metitier, chegou o momento quando não pode mais fugir da faculdade formal. "Foi quando o Beto chegou e disse que eu não poderia mais colocar o meu nome nas laudas. Aquilo foi um tiro no coração. Eu dizia que estava no rádio, mas ele retrucava que rádio era rádio e jornal era jornal, e eu tinha que estudar. Daí fui para a faculdade".
Faltou ajuda das notícias. Que, é claro, aconteciam em momentos inoportunos. "Ninguem sabe, nunca contei, mas eu era tão louco aqui na Gazeta, que tinha que sair às 18h para a faculdade e a notícia, a pior, a mais importante da semana acontecia às 18h30 ou 19h. O tiroteio, o ônibus que caía, o prédio que pegava fogo, e eu não ia para a faculdade. Entre a faculdade e uma boa notícia, eu ficava com a notícia. Com isso, quando eu terminei, eu tinha 23 dependências. Conclusão: mais dois anos estudando. É claro que não ia perder a notícia, brigava pela notícia".
COBERTURA
Roberto Lucato lembra quando Geraldo e o repórter fotográfico Mário Roberto partiram para São Paulo, na cobertura de um acidente aéreo, numa época em que as fotografias precisavam ser reveladas, sem a rapidez do digital. "A Gazeta sempre esteve à frente, e recebia texto e fotos das agências. Mas e se tivesse a nossa foto? O leitor da Gazeta que abriu o jornal no outro dia tinha o fato que estava na Folha e Estadão. Mas coberto pela Gazeta, entrevistado pelo repórter de Limeira, com fotos exclusivas. Foi uma grande cobertura. Quer melhor faculdade do que essa?", declara Geraldo.
Com processos bem mais fáceis para o jornalista de qualquer área atualmente, o encanto da máquina de escrever compunha a notícia. "Antigamente, a nossa mão ficava cheirando notícia. Precisava trocar a fita da maquininha, você pegava no papel. Feliz o jornalista que pegava no papel, ouvia o ronco da máquina, realmente sentia o cheiro da notícia. Era motivado. Então eu dou graças a Deus por esse esse currículo, de ter passado por aqui e ter aprendido"
JORNALISTA
Ele reflete que os grandes textos saem dessa forma, desse ambiente e correria. Para os que estão acostumados com a barulheira da máquina, o texto escrito no notebook não tem graça. "Tem que ter barulho para o jornalista ser consumido por aquele som, e ficar mais rápido, e fazer um bom texto".
Do costume para o texto de jornal contra a narrativa do rádio, teve que lidar com os cortes da editora Fabiana Lucato. "A linguagem do rádio é diferente do texto de jornal. E o Roberto falava que parecia que estava me lendo no rádio. E a Fabiana tinha a mão pesada, cortava tudo que era desnecessário".
Para os aspirantes, a primeira pergunta que faz é por que quer ser jornalista? "Ah por que eu desejo... se começa assim, esquece, não é, não tem competência. Porque quem é jornalista, de alguma forma já foi tocado. Ou porque gostava de escrever ou porque gostava de falar. As redações estão cheias de currículos fantasmas, principalmente na televisão. Todo mundo quer ir para a televisão. Não é fácil você chegar na redação de jornal. Sentar e fazer um texto é muito difícil. Tanto que não existem mais bons redatores".
Não basta escrever bem, mas lidar com a dificuldade de buscar a notícia, o que é mais difícil hoje, em sua avaliação. "A busca da notícia, da fonte, da informação, está mais complicada. Se você tem esse sonho, desista, porque isso não é sonho, com isso já se nasce e a gente consegue ver. Está na pessoa, é dela, nasceu para escrever, para falar".


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