domingo, 11 de setembro de 2011 | By: Daíza de Carvalho

"O terror não está dominado", avalia cientista político

Daíza Lacerda

Apesar de aperfeiçoamento na segurança, mundo não está imune a ataques

Há dez anos os norte-americanos presenciaram ao vivo cenas até então imagináveis para os roteiros de suas superproduções. Mas a destruição real "em casa" culminou não só com a caça implacável a terroristas e consequente aperfeiçoamento na segurança. Para o cientista político Roberto Gonçalves, foram três as consequências mais expressivas para os Estados Unidos da América (EUA) e para o mundo.
"A primeira delas é que o atentado abalou a arrogância americana. Os EUA agiam de forma unilateral como a polícia do mundo, sem ouvir aliados europeus e sem saber administrar as alianças árabes", pontua.
Como reflexo, o governo saiu das mãos dos republicanos para os democratas e mudou o tom. "Agora ouvem mais e estão mais cuidadosos, ainda que não deixem de lado os cuidados com os árabes", explica Gonçalves.
Outra consequência, positiva, foi o refluxo do terrorismo, que abalou também a comunidade islâmica. "Depois do ataque, as ações da Al-Qaeda foram coisas muito menores". O "espírito justiceiro" dos EUA, um pretexto para a caça que deu origem às guerras no Iraque e queda de Saddam Husseim, freou e enfraqueceu o terrorismo, tanto que culminou com a morte de Osama Bin Laden neste ano.
Apesar disso, a "calmaria" não remete necessariamente à tranquilidade. "Ainda assim o fanatismo religioso não deixou de ser uma arma muçulmana, que secularmente é uma religião associada à guerra", pondera.
O último dos principais desdobramentos na análise de Gonçalves é o resgate democrático da humanidade. "Nos setores mais organizados, a democracia teve um avanço significativo. Um bom exemplo é a Primavera Árabe", ostenta, se referindo às manifestações que questionam regimes autoritários em países do Oriente Médio e ocorrem desde o fim do ano passado.

SEGURO, MAS NEM TANTO
O ataque às torres gêmeas deu abertura para o avanço nos sistemas de segurança, sobretudo em aeroportos. Embora tenha alcançado um nível de paranoia, sobretudo nos EUA, o contexto atual também merece preocupação com possíveis ataques nos moldes do 11/09. "É raríssimo ocorrer desvios de aviões, e isso em nível mundial. Mas o mundo ainda está sujeito a grandes ataques. Temos a Líbia com a disputa do poder e as ações dos talibãs que podem extrapolar os princípios de racionalidade. O Paquistão saiu humilhado e o Irã tem a bomba atômica. O terror não está dominado".

Entre mocinho e bandido, piedade mundial 
oculta "rótulo" dos EUA como vilão 

Para o cientista político Roberto Gonçalves, além de a destruição e morte causados nos ataques ao World Trade Center terem abalado junto o orgulho americano, por outro lado isso criou uma piedade mundial ao país. "Os EUA eram os vilões do mundo, mas o sofrimento despertou a piedade. Quando se fala dos EUA contra o terror, a associação é do mocinho contra o bandido", explica Gonçalves.
A imagem de vilania herdada desde a Guerra Fria caiu principalmente por força da mídia, pontua Gonçalves. Outro "lobby" foi a da indústria cinematográfica, cujas produções com a temática do terrorismo totalizou 79 filmes na década, ilustrando as guerras do bem contra o mal.
Mas outra arma mais letal do que aviões foi "esquecida" pela mídia, na avaliação do cientista. "A bomba atômica no Japão matou mais de 300 mil pessoas, além das que vivem com sequelas. O que é o 11 de setembro diante disso? É um 'troco' que não tem a mesma dimensão e o ataque de Hiroshima fica À margem da pauta de crimes da humanidade". (DL)

"Ninguém cede ao terrorismo"

A ideia de espalhar o pânico é a única forma de atacar uma potência. "O terrorismo se mostrou como um inimigo mundial e não focado. No terror, qualquer um é alvo, o que causa a instabilidade a um país. No entanto, nunca na história nenhum grupo conseguiu alcançar os objetivos com ataques, como derrubar governos. Ninguém cede ao terrorismo", afirma Frederico Czar, professor de História do Colégio Acadêmico.
Ele avalia que o número de radicais tende a aumentar. E, embora seja estimado que 98% dos ataques terroristas estejam ligados a grupos muçulmanos, não quer dizer que todos da religião sejam terroristas. "No terror, o alvo é a questão ideológica, o que não justifica a ameaça contra civis inocentes. Até mesmo porque no World Trade Center havia muitos muçulmanos trabalhando", explica.
O medo e o reforço da segurança foram as principais mudanças na rotina de todos na avaliação de Diego Lopes Silva, professor de História da Pandora Vestibulares. "Os anos de 2001 a 2011 foram a pior década da história dos Estados Unidos, como uma década perdida. Aumentou ostensivamente a segurança em aeroportos, além das dificuldades de imigração nos EUA e investigação e atuação da CIA".
Outra questão é o financiamento da guerra contra o terror. "Os EUA investiram um dinheiro absurdo na guerra. E agora estão sentindo falta". (DL)

Escombros em museus
O ataque transformou as torres gêmeas em milhões que quilos de escombros. Além de se transformarem em registros históricos e peças de museus pelos mundo, parte das estruturas foram reaproveitadas. O aço, por exemplo, foi revendido para países como China e reutilizado na fabricação de itens como talheres. Parte do entulho foi entregue também a soldados que serviram na Guerra do Afeganistão, como uma forma de "lembrete" do motivo da luta.


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