quinta-feira, 15 de setembro de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Jovens pedem diálogo para aumento das opções de lazer

Daíza Lacerda


Falta de meios de entretenimento é queixa também de adultos que migram para a região

"A gente não quer só comida / A gente quer bebida, diversão, balé / A gente não quer só comida / A gente quer a vida / Como a vida quer". A célebre música dos Titãs ilustra o anseio de jovens limeirenses que, como frequentemente registrado pela Gazeta, pedem mais opções de lazer na cidade. Satisfazer esse público, diante com a concorrência da oferta de opções na região, é um dos desafios da próxima administração.
Para Guilherme Barbosa Nogueira, 15 anos, o novo prefeito deve preocupar-se, de fato, com esta questão. Ele reclama que, agora que pode sair mais de casa, não tem aonde ir, e sugere a criação de um espaço fixo e que tenha eventos frequentes, que interessem para o público jovem. "Eles não sabem e não perguntam o queremos", diz.
A necessidade afeta as demais faixas etárias. O professor de Educação Física Rodrigo Jerônimo, 31, lembra que muitas vezes é preciso recorrer às cidades da região para se divertir. A deficiência se mostra também na disponibilidade de locais para atividades físicas. "Temos poucas opções de parques para as pessoas praticarem esportes. O Parque Cidade é ótimo, mas Limeira precisa de mais parques", avalia.
Para André Ribeiro Bontorim, 16, falta variedade de entretenimento nos finais de semana. "Há alguns bares e ocasionalmente festas, mas na maioria das vezes os adolescentes são forçados a irem pra o mesmo local várias semanas seguidas, por falta de opção", reclama.

OUVIR E FAZER
"Acredito que o primeiro passo é abrir canais de comunicação e adotar uma forma de trabalhar o que faz diferença para o jovem. Educação, esporte e lazer não são acessórios, mas de importância para a formação básica. Na correria diária, o lazer o fundamental", expõe Roberlei Cidade, empresário do ramo de eventos.
Diante de reclamações de tumultos provocados por jovens, Roberlei pondera que o jovem tem energia para gastar. Devido a essa necessidade de extravasar é que é preciso ouvir dele o que é importante. "Skate, música, dança, poesia, arte? Entretenimento não é só balada. Se houvessem mais opções, os jovens não estariam em points, sem rumo. É um desperdício de energia para eles e para a comunidade. Sem opções, é uma energia mal utilizada".
Ele defende que Executivo e Legislativo devem estar afinados para a destinação do orçamento e também com parcerias junto ao governo estadual e federal, quesito no qual Limeira vem perdendo em relação às outras cidades. "Falta uma unidade cultural, o orgulho da cidade. Na época de ouro da Inter, por exemplo, a cidade se mobilizava e isso era reconhecido no Brasil inteiro", exemplifica.
Vestir a camisa e buscar alternativas para manter movimentada a rotina dos jovens, como eles querem, passa pelo estímulo ao esporte e artes. "A questão não é só verba, mas ter ideias e vontade de fazer acontecer, unir esforços. Há muitos centros comunitários parados, e dá para fazer mais com o pessoal disponível".
Em relação aos atos de vandalismo realizado nesses mesmos locais, Roberlei reflete que, com maior proximidade, a comunidade dá mais valor. "Para que serve? Se tem grafite, dança ou outra atividade, a pessoa não vai pichar. As pessoas dão valor ao que é bom para elas, embora sempre haverá vândalos, o que muitas vezes não é questão de escola, mas da forma que a pessoa foi criada, por falta de orientação ou oportunidade. Ainda assim os espaços devem ter um plano de manutenção. Construir e manter, o que não acontece". Assim, se o jovem precisa extravasar, que seja com coisas boas.
"Se o poder público tiver vontade, pode arrumar um espaço adequado para eventos sem pertubação do sossego. É preciso ter em vista o que é bom para todas as pessoas, não só para os jovens, em termos de qualidade de vida", afirma. (DL)

Mais opções dependem
de fatores econômicos

Quanto a situação do poder do município de atrair novos empreendimentos na área, Roberlei avalia que isso remete ao panorama econômico do município e, consequentemente, da população. "Se a cidade não estivesse tão inchada, talvez os moradores tivessem uma renda melhor, com recursos para gastar em lazer. A questão é desenvolvimento e não só crescimento", ilustra. Embora a maioria da população possa estar empregada, muitos desses trabalhos proporcionam salários muito baixos, também devido à baixa qualificação profissional, o que leva a serviços informais. "Educação de qualidade em todos os níveis e incentivo a empregos que agreguem bons salários são medidas que proporcionariam maior renda, com sobra para o lazer".
Esta seria a situação favorável para que empresários investissem em estabelecimentos na área do entretenimento na cidade.
"A questão da renda, mais cedo ou mais tarde, a cidade irá alcançar. Grandes fábricas não vêm sempre ao município, mas a instalação delas na região traz outras, satélites, com demanda de mão de obra. Mas é preciso trabalhar o outro lado. Projetos proibindo determinados tipos de festa não são o caminho. Deve-se disciplinar, mas não proibir", defende Roberlei. (DL)

"Fator Unicamp" sinaliza
mudanças e exige atenção  

Para Roberlei Cidade, o fato de o munícipio ter agora duas unidades da Unicamp deve levar à mudança do perfil de festas, com a demanda universitária.
Os campi atraem mais jovens à cidade, que não necessariamente está pronta para recebê-los. Natural do Acre, o estudante Kleiton Bueno Bezerra da Silva, 22, adotou Limeira como sua cidade há cinco anos, mas observa que alunos de outros locais não interagem com o município, pela questão da falta de abertura. "A cidade não está pronta para que a população universitária chegue sem impacto", analisa.
Kleiton é membro do Conselho Municipal da Juventude como representante do Movimento da Juventude Ambientalista e Movimento Universitário. Ele lista a necessidade não só de moradia, mas de um espaço de convivência entre os jovens e organização dos estudantes - que deve atrair a comunidade em geral.
"Falta oportunidade para que qualquer pessoa possa aproveitar um espaço para coisas diferentes que não estejam institucionalizadas. É discutida a questão de espaços de lazer, mas existe a necessidade de onde cada um poderá fazer o próprio lazer, seja andar de skate ou tocar violão", reflete.
Além da vida cultural, ele acredita que falta do poder público incentivo à dos próprios monumentos e história locais, além de espaços de lazer adequados. "Estereotipar jovens como 'moleques' é muito prejudicial. Não há espaço ou disposição para ouvir. Tentativas de 'normalizar' as noites da juventude são ações pouco efetivas, como fechar locais. A aglomeração existe em locais que não são adequados, mas que são usados por falta de opção".
Ele também aponta a falta de diálogo como uma dificuldade, e vê a descentralização de áreas de lazer como uma necessidade.
"O Centro deveria ser reocupado para atividades, mas outros locais também devem recebê-las. Muitos jovens de bairros mais distantes às vezes deixam de ir a um evento por falta de transporte na hora de voltar. Isso também é uma dificuldade de acesso para o lazer e cultura". (DL)

Município pode aumentar apoio a
artistas para estímulo de projetos

Para o presidente da Associação Cultural dos Artistas e Técnicos de Limeira (Acarte), Marcos Lima, o desafio na troca de administração é que os secretários sejam da área da pasta em que irão atuar. "Mesmo conhecendo a área, é preciso envolvimento, além do entendimento para administrar bem", salienta. Ele exemplifica com os diversos editais de captação de recursos para projetos disponíveis na área cultural e que a Prefeitura poderia aderir, como forma de oportunidade à movimentação artística na cidade. "É preciso ouvir mais e entender os novos processos.Ideias antigas prejudicam a adesão ao novo sistema", explica ele, se referindo às mudanças nas leis de incentivo fiscal que garantem recursos para os projetos.



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