sexta-feira, 15 de julho de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Sobre vínculos - com pessoas e lugares



Bono canta que "a house still doesn't make a home". E tenho pensado: o fato de morar num lugar te faz pertencer a ele? O que nos faz sentir em casa, num lar?
Gosto de quando "tenho a oportunidade" de andar pelo bairro. Faço isso com curiosidade e um certo espanto, porque muito pouco me parece familiar, embora eu tenha nascido e crescido na mesma casa. Quando saio, boa parte das pessoas são desconhecidas minhas e não aquelas com as quais eu convivia há alguns (muitos!) anos. O próprio lugar já não tem a mesma cara. Este era o meu lar. Era?
Esse sentimento ficou mais marcante hoje. No acaso de chegar mais cedo em casa (coisa rara) encontrei um colega quando ele ia atravessar a rua que eu cruzaria, de moto. Encostei por ali mesmo e o mote do quanto tudo mudou foi inevitável na breve e bem-vinda conversa. Estudamos juntos no pré (lá se vão quase 20 anos!), ginásio e "colegial", na época em que todo mundo "estava ali", era só andar alguns quarteirões. Ou se falar amanhã na escola. O que era corriqueiro, hoje é quase utopia, afinal, o tempo e o vento cumpriram suas funções e levaram cada um para um canto, para a sua rotina, o cuidar da vida. Alguns mais longe, outros não. Perto, mas não necessariamente acessíveis.
O que mais me assustou foi ter a consciência de que isso acontece no ciclo familiar. De repente, há dias não vejo minhas irmãs, ou meu pai, senão por conversas rápidas ou na troca de mensagens eletrônicas. E o que é que a gente fez da nossa vida?
Esse é um dos aspectos do "deixar a vida nos levar". E ela nos leva para o trabalho, e para casa. Para o trabalho, e para casa. Me leva pra longe, mas nunca me mantém perto o bastante. Por isso perdi o vínculo com o meu meio, o meu ambiente, a minha área. Isso porque, diz a lenda (pai e mãe!), que fui o segundo bebê a nascer nessas quebradas no pós-loteamento...
Não é novidade o quanto me sinto em casa quando vou a Sampa e quantas críticas ferrenhas guardo ao lugar em que nasci. Ainda que haja coisas terrivelmente incompreensíveis e intoleráveis em SP e lindas em Limeira. Há diferença entre morar em um lugar e ser de um lugar. Mas, por que isso acontece?
Acho que, se os vínculos mudam, a nossa preferência também. E o pertencimento, por consequência. Todos querem ficar perto de quem e do que lhe faz bem. O que fazia me sentir em casa aqui parece perdido, em sua maioria. Círculo de amigos cultivados em fases e fases da vida que parecem ter desaparecido como fumaça que se dissipa, que era história viva e agora é só lembrança. Deixou de ser a minha área, para ser de outros que chegaram, que vão passar - ou não. Onde é a minha área?
Que as coisas mudam e vão mudar, é óbvio. Mas nem sempre parece tão claro até refletirmos sobre isso, depois que a situação é estampada em nossa (no caso, na minha!) fuça. Parece que a vida se tornou superficial. Não temos mais tempo para as pessoas, mesmo as mais próximas e queridas. Até que um dia elas passam e não damos conta, porque estamos ocupados demais com... Com o quê?

3 comentários:

Vieira Junior disse...

Com o quê? Essa é a pergunta. Vale a pena se preocupar tanto com... o quê? O tempo parece voar, entra seman e sai mês e parece que não vivemos. Talvez estejamos levando a vida a sério demais. É um processo natural. Precisamos mesclar a descontração de uma criança, a seriedade de um adulto e a pressa de viver de um idoso. O tempo não volta, deixa lembranças. Do que vamos nos lembrar no futuro?

Anônimo disse...

Pois é mana!

Você sempre foi paulistana.

Mas não sabia.

Welcome! :)

Anônimo disse...

Ah! Feliz dia do rock atrasado!

Olha que os caras da ESPN Brasil fizeram.

http://www.youtube.com/watch?v=Rt8sXP9zQHk&feature=player_embedded

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