quarta-feira, 27 de julho de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Limeirenses de 1,7 mil casas estão em situação de miséria

Daíza Lacerda


Dado se refere a domicílios em que pessoas ganham até ¼ de salário mínimo

A faixa de 1/4 de salário mínimo per capita é considerada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) pobreza extrema ou miséria. Os moradores de Limeira nesta condição, que recebiam até R$ 127,50 no ano passado, ocupavam 1.749 residências. É o que apontam os resultados preliminares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Censo 2010, considerando o salário mínimo de R$ 510.
Porém, a maioria dos domicílios particulares permanentes de Limeira tem moradores com renda entre meio e um salário mínimo. O Censo, que considera 84.441 domicílios no município, revela que, dos ocupantes, 28,68% (24.356 residências) recebem entre meio e um salário mínimo per capita. Os que recebem entre 1/4 e meio salário (R$ 127,51 a R$ 255) somam 18,48% (8.659). Limeira tem ainda 2.312 domicílios (4,27%) cujos ocupantes não têm rendimento e a renda per capita é somente em benefícios . Esse universo de pessoas que recebiam, em 2010, até R$ 510, representa 60,59% das residências particulares permanentes de Limeira.
Nos domicílios em que o rendimento passa de um salário mínimo per capita, em 28.624 a renda é de até dois (R$ 1.020). Esta é a maior parcela em número total, mas, proporcionalmente, este público fica em segundo lugar (21,9%). A renda per capita de 2 a 3 salários (R$1.020,01 a R$ 1.530) está em 8.861 domicílios e, de 3 a 5 salários (até R$ 2.550), em 5.925 residências. Em 3.938 domicílios (5,13%) a renda per capita é maior do que 5 salários mínimos.

PROGRAMAS SOCIAIS
Por meio do Cadastro Único, gerido pelo Centro de Promoção Social Municipal (Ceprosom), pessoas de baixa ou nenhuma renda podem aderir a três modalidades de programas. "Dependendo da carência, a família pode acumular dois benefícios", explica Cíntia Araújo de Sá, coordenadora do Cadastro Único.
Além do Bolsa Família, do governo federal, que pode pagar de R$ 32 a R$ 242 por família que recebe de R$ 71 e R$ 140, existe o Renda Cidadã, em que o Estado paga R$ 80 para 165 famílias limeirenses que ganham até meio salário mínimo. O Renda Mínima, municipal, paga R$ 130 para 488 famílias inscritas cuja renda é de até 1/4 de salário.
Até junho, 9.042 famílias da cidade recebiam o Bolsa Família. "Este número oscila mês a mês, pois caso a família não cumpra itens, como frequência escolar e peso ideal dos filhos ou mantenha o cadastro atualizado, o benefício é suspenso", explica Cíntia.
Vinculadas aos benefícios estadual e municipal, as famílias se comprometem ainda a participar de reuniões socioeducativas.
Esses dois programas permitem renovação de até três anos.
Após esse tempo, a família tem de esperar pelo mesmo tempo que foi beneficiada para voltar a receber. Para o Bolsa Família não existe esta regra e, caso a pessoa não consiga colocação profissional ou aumento da renda, pode recebê-la por tempo indefinido, desde que atendidas as exigências.

Maioria dos beneficiados vive de "bicos"

Segundo Cíntia, a situação de carência existe em famílias residentes em toda a cidade, mas predomina em bairros como Odécio Degan, Ernesto Khül e Belinha Ometto. "A maioria é de autônomos, que vivem de 'bicos', como trabalho com joias, além de funções como pedreiro ou empregada doméstica, sem registro", diz.
É o caso da dona de casa Isabel Cristina Camargo, 38, que tem uma filha de 14 anos. "Esporadicamente faço algumas faxinas, porque a pensão da minha filha é de valor muito baixo. Recebo cesta básica do Ceprosom e tenho ajuda da minha mãe às vezes, mas minha renda não chega a R$ 100", declara ela, que tenta o cadastro em benefícios.
A maior parte das famílias tem até quatro filhos, mas há mães com até 10 crianças que vão requerer benefícios. Há ainda pedidos individuais, como idosos que vivem sozinhos. Sirça Pereira Querubim, 56, com os filhos já casados, não recebia pensão quando separou do ex-marido e faz "bicos". “Às vezes vendo coisas na rua ou faço faxina, mas a principal renda é o Bolsa Família", diz.
 "O que predomina é a mãe chefe de família, com os filhos", ilustra Cíntia. Esta é a situação de Soraia Antunes, 32, que tem três filhos entre 13 e 2 anos. Separada, recebe R$ 100 do Bolsa Família. (DL)



Soraia e um dos três filhos: família depende do Bolsa Família
Soraia e um dos três filhos: família depende do Bolsa Família



Educação e emprego são soluções
para miséria, avalia sociólogo

"Não me espanta a maioria ter baixa renda num País em que 90% da população é assalariada e não tem acesso aos meios de produção. Para mudar isso, é preciso criar frentes de empregos, estimular o desenvolvimento e a reforma agrária". Esta é a avaliação de Emílio Carlos Asbahr, que leciona no curso de Ciências Sociais do Isca Faculdades e é diretor da EE José Marciliano.
Para ele, o fomento de parques industriais e tecnológicos pode, com o aumento de vagas, melhorar a renda da população. Já para as classes cujo rendimento é considerado como situação de miséria, a raiz da mudança está na educação. "É preciso exigir mais enquanto aluno, numa cobrança mais expressiva para aprender. Há alunos que chegam à 8ª série analfabetos, o que é fruto da progressão continuada", declara.
Por meio da educação é que a pessoa poderá alcançar ascensão social, já que a escolaridade é requisito para a colocação profissional. "Os programas de benefícios sociais exigem atestado de frequência escolar das crianças, mas isso não está atrelado ao efetivo aprendizado. É preciso comprovar que a criança vai à escola, mas não necessariamente se ela sabe ler ou escrever. Por isso é preciso mudar a cobrança que se faz para o indivíduo". (DL)

Publicado na Gazeta de Limeira, também no novo siteManchete da edição. 




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