domingo, 24 de julho de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Ao reescrever histórias, Casa da Criança completa 70 anos

Daíza Lacerda


Entidade atende 55 crianças e adolescentes de 0 a 18 anos, encaminhadas pela Justiça

A Casa da Criança Santa Terezinha comemora hoje 70 anos de atendimento, data de inauguração do prédio “Plácido Hipólyto Ribeiro”, onde são atendidas, hoje, 55 crianças e adolescentes.
Em setembro de 1941, o local começou a receber as primeiras crianças transferidas do Orfanato Santa Terezinha de Jesus, sediado no terreno da antiga Casa de Saúde, localizada na Rua Alferes Franco (atual Unimed).
Major José Levy Sobrinho era presidente do orfanato e a mudança teve contribuição do empresário Hypólito Pinto Ribeiro, proprietário da indústria de papelão Ribeiro & Parada.
Atual presidente da casa, Isabel Cristina Covaes Santos explica que no local são atendidos meninos de 0 a 2 anos (que depois são transferidos ao Lar do Moço) e meninas de 0 a 18 anos. As crianças chegam ao local devido a várias situações. Falta de condições, negligência familiar, situação de risco ou abandono são algumas delas. “Já chegamos a atender em nossa capacidade máxima, que é de 70 crianças e jovens”, diz ela, reiterando que todo encaminhamento é feito pelo Conselho Tutelar e Vara da Infância e Juventude. Ela estima, que em todos esses anos, devem ter passado pela casa cerca de 3,5 mil crianças.

VIDA NOVA
Apesar das dificuldades familiares que levam as jovens ao local, na casa elas recebem todo tipo de assistência, principalmente estudos. “Há suporte psicológico, assistência médica e social. Programamos também vários eventos das quais participam, além do encaminhamento ao trabalho, quando completam 16 anos”, lista Isabel.
De fato, tristeza não combina com a “cara” do prédio. A ocupação e o “jeitinho” feminino é visível nos quartos, divididos por faixas etárias. Bonecas, ursos e, claro, um pouco de bagunça. “Hoje elas saíram para um passeio e não deu tempo de arrumar muita coisa”, justificou a coordenadora Marta Puzzi Moreno. Ela explica que a saída das meninas é inconstante e relativa. “Há anos em que predominam as adoções. Em outros, é o retorno para a família, quando são atestadas as condições de retomar a guarda”.

DEMANDA E RECEITA
Nas primeiras décadas, o local contava com a própria escola, além dos cuidados de freira, até os anos 1980. Atualmente, dos atendidos, 16 tem até 4 anos, 18 têm de 4 a 10 anos e 21 meninas têm de 10 a 18 anos.
A receita é 40% de verbas municipal, estadual e federal, e o restante é por conta da própria entidade. “Desde 2008 contamos com associados, que contribuem mensalmente. A receita da Nota Fiscal Paulista também ajudou muito. Somos a 8ª intituição no Estado que mais arrecada com cupons fiscais. Também promovemos eventos para arrecadação”, explica a presidente.
Apesar das contas em dia, dificuldades sempre aparecem. “Agora, por exemplo, estamos precisando de móveis, como camas e guarda-roupas, porque nossa clientela cresceu”. Mas mesmo com alguns percalços, ressalta a presidente, a Casa da Criança se mantém forte no intuito de oferecer uma vida digna e feliz para suas crianças e jovens.
A comemoração do aniversário será em evento marcado para o dia 13 de agosto, às 9h, na sede. Haverá missa, seguida de uma cerimônia, em que serão homenageados ex-presidentes e outros voluntários que contribuíram e contribuem para o desenvolvimento e a manutenção da instituição.

Jovem divide sonho de trabalhar em empresa com a vida artística

Uma das jovens contou à reportagem as suas percepções sobre o seu lar atual. Ela tem 14 anos e mora na casa desde os 11, com outros três irmãos mais novos.
“Quem está do lado de fora, imagina que é uma prisão, um bicho de sete cabeças. Eu também pensava e não queria vir no começo. Mas, agora, quero ficar aqui e só sair quando estiver preparada para a vida. Sinto-me em casa, como se a equipe fosse a minha mãe e as meninas, minhas irmãs”.
Ela fala ainda do companheirismo entre as meninas, tanto quando uma chega à casa quanto uma dessas irmãs de consideração deixam o local para começar uma nova história. “Quando chega alguém, mostramos que podem contar conosco. Quando alguém vai embora, choramos bastante. Mas ficamos felizes quando são acolhidas por novas famílias”, declara.
Ela, que prefere não ser adotada, imagina um dia trabalhar numa empresa. Sonho este dividido com a vida artística, da qual pegou gosto participando de oficinas culturais em uma das parcerias da instituição. Teatro, dança, arte circense, música, ética e cidadania e encaminhamento ao mercado de trabalho são algumas das atividades que preenchem os seus dias.
A assistente social Ana Lúcia Massari explica que familiares podem visitar as crianças no local e que a saída também depende de ordem judicial. “Há um trabalho na tentativa de reorganização da família, mas a maioria é de casos difíceis com dependência química e alcoólica. Aqui prestamos atendimento mais próximo possível de uma casa, um verdadeiro lar. (DL)


Tia To: 27 anos de dedicação no voluntariado

No fundo da sala pequena, cheia de livros e cadernos, entre carteiras e estudantes terminando exercícios, fica Maria Jacon Dibbern, conhecida como Tia To. Prestes a completar 80 anos de idade, a professora aposentada se dedica há 27 anos na Casa da Criança. “Dei aula em várias escolas de Limeira e, quando aposentei, com 49 anos, a assistente social, na época em que Dalva Ragazzo era a presidente, falou da necessidade de uma professora aqui. Aceitei, afinal, o que iria fazer em casa?”.
Tia To, que ensinou o be-a-bá a inúmeras crianças, não se imagina sem o expediente diário e, às vezes, ao final de semana, dedicado às meninas. “Gosto muito dessas crianças. Não teria coragem de sair daqui. Sempre fui bem recebida por todos, inclusive os funcionários. O que posso fazer, faço, como a parte da mãe no reforço dos estudos. Também arrumo suas coisas, deixo as bolsas e cadernos em ordem, lápis apontados”.
Ela não dá moleza para a tristeza e alega ser enérgica nas aulas, o que se tornou marca própria com os alunos. “Mostro a elas que é preciso ser forte para que amanhã estejam bem, tenham um bom futuro. Elas têm de sair daqui fortes”.
Apesar da reunião na sala, o reforço é dado individualmente, já que cada criança está numa série e, mesmo as que estão no mesmo ano, ficam em classes diferentes, com atividades variadas. Para Tia To, o trabalho se mostra como uma verdadeira missão. “É gratificante. Já encontrei muitas que saíram daqui e vi que o trabalho não foi em vão”. (DL)


Publicado na Gazeta de Limeira.


0 comentários:

Postar um comentário