domingo, 3 de março de 2013 | By: Daíza de Carvalho

Menor é morto com tiro perto de base da GCM


Testemunhas alegam que guarda atirou para o alto; pai diz que filho foi alvejado nas costas

Érica Samara da Silva/Daíza Lacerda


Felipe de Campos Albino, de 17 anos, morador do Residencial Vitório Lucato, foi morto com um tiro na madrugada de ontem, por volta das 2h30, a cerca de 100 metros da base da Guarda Civil Municipal (GCM) do Jardim Aeroporto. Ele foi encontrado caído na rotatória que serve de acesso ao Jardim Odécio Degan, ocupado há dez dias pela Prefeitura de Limeira. A Gazeta apurou que o tiro atingiu as costas, próximo ao ombro, mas a informação ainda será confirmada, após resultado da perícia. Segundo duas testemunhas, um guarda teria atirado para o alto instantes antes do crime, cuja autoria ainda é desconhecida. De acordo com a delegada plantonista Nilce Segalla, um grupo de quatro rapazes (dois adolescentes e dois maiores de idade) se dirigiam a uma festa no bairro Ernesto Kühl, quando teriam chutado cones em frente à base, e corrido em seguida. Os dois maiores de idade alegaram que o guarda atirou para o alto. Uma adolescente de 15 anos, prima do adolescente assassinado, registrou boletim de ocorrência por estupro no plantão policial. O guarda apontado pelas duas testemunhas trabalhava anteriormente no Tiro de Guerra (TG). Segundo Moisés, a GCM está sendo ameaçada desde o início da operação, o que motivou o reforço por meio de deslocamento de mais guardas para o bairro. O prefeito Paulo Hadich (PSB) disse que lamenta a fatalidade, solidariza-se com a família do adolescente e assegura que a Prefeitura vai prestar todas as informações para facilitar a investigação e apurar o caso.




Menor é morto na região do Degan e GCMs são afastados; pais querem justiça
Menor é morto na região do Degan e GCMs são afastados; pais querem justiça


No bairro, mãe de testemunha vê

desconfiança exagerada em ações

Pouco tempo após o início das ações voltadas à pacificação no Jardim Odécio Degan, os moradores acordaram ontem com o homicídio de Felipe. Um jovem morador do bairro testemunhou, após ter visto a vítima, ainda com vida. "Ele estava caído no chão, tinha levado um tiro por trás. Com ele estavam outros três. Dois foram buscar ajuda na base, e um ficou com ele. Uma viatura passou e pediram ajuda, mas quando viram que era um corpo, se assustaram e aceleraram. Depois, outra viatura parou".

A mãe do garoto que chegou a ver a vítima disse que foi acordada e informada que o filho seria detido, para depor como testemunha. Segundo ela, a versão que ouviu foi de que os garotos teriam saído correndo após chutar em um cone. Um tiro para o alto teria sido disparado, quando saíram correndo. O outro acertou Felipe. "Não sei dizer o que aconteceu. Mas se deram um tiro para o alto, poderiam ter disparado o outro", considerou a mãe.
Ela conta que, após a ocupação do bairro pela Prefeitura e órgãos de segurança, a situação melhorou por um lado, mas também piorou. "Às 21h, não se encontra mais ninguém na rua. Mas basta caminhar em qualquer lugar para ser revistado. Não respeitam mãe ou criança, pensam que qualquer menor é traficante", disse ela, reclamando ainda da falta de agentes femininos para fazer a revista em mulheres.
A mãe declara não saber como deve ficar a situação no bairro agora, após a fatalidade e lamenta o ocorrido. "Não o conhecíamos, mas até onde sabemos, não era um jovem envolvido em crimes ou com drogas. É revoltante". (Daíza Lacerda)


"Queremos justiça"

Daíza Lacerda

"Não importa quem matou. Meu filho está morto e ninguém vai trazê-lo de volta. Tinha dois filhos, agora não tenho nenhum". A tristeza de Sônia Silva Campos Albino, de 44 anos, mãe de Felipe, era a de quem estava para enterrar o segundo filho exatamente quatro meses após velar o outro. 

Ela e o marido, José Henrique Albino, de 47 anos, foram acordados na madrugada de ontem com a notícia de que Felipe havia sido baleado. "O que nos contaram é que atiraram para cima, quando eles saíram correndo. Depois, foi disparado outro tiro que o acertou nas costas", disse o pai. 
Eles asseguram que Felipe era um garoto normal, sem envolvimento com ilícitos ou problemas com a polícia. "Não bebia e nem fumava, não andava com gangue. Seus amigos não frequentavam a nossa casa, mas eu sabia com quem ele andava", complementou a mãe. Os pais tinham conhecimento de que Felipe iria a uma festa com os amigos no Jardim Ernesto Khül, o que era frequente, e consideravam comum pela idade. 
O jovem, que completou 17 anos em 8 de janeiro, preparava-se para o alistamento militar. Não trabalhava e no momento não estudava. Segundo a mãe, estava inconformado com a perda do irmão, Fernando, que morreu aos 19 anos devido a complicações renais em razão de uma doença de nascença. "Ele queria saber porque o irmão sofreu tanto. Não insistimos para que voltasse à escola, pelo menos por enquanto", contaram. 
A confirmação da morte foi feita à mãe pela delegada Nilce Segalla. "Os amigos dele vieram nos avisar em casa, dizendo que ele tinha sido baleado pela polícia. Fomos até o local, próximo da base, e um comandante nos disse para a ir à delegacia. A delegada Nilce me atendeu e perguntou se ele estava envolvido em problemas. Eu disse que meu filho não era violento, mas um adolescente normal, e pedi que me dissesse a verdade, se ele estava vivo", declarou Sônia. 
Avó do garoto, Maria dos Reis Silva, de 69 anos, reforça que o jovem procurava se afastar dos problemas. Segundo a família, ele não aparentava mudança no comportamento, e não era grosseiro ou violento. "Nada explica alvejarem pelas costas. Queremos saber o que realmente aconteceu. Queremos justiça", finalizou o pai.



Sônia e Albino: filho não era envolvido com ilícitos e não andava com gangue
Sônia e Albino: filho não era envolvido com ilícitos e não andava com gangue

Publicado na Gazeta de Limeira, também na capa. Original em pdf aqui.







0 comentários:

Postar um comentário