terça-feira, 2 de fevereiro de 2016 | By: Daíza de Carvalho

A Barbie mudou. E as pessoas?

COLUNA RELEITURA - 02/02/2016

A Barbie mudou. E as pessoas?

Daíza Lacerda

A Barbie mudou. Sua extensa linha agora tem um exemplar com mais massa abdominal, por assim dizer, e outra de estatura mais baixa, unidas a outras representações como a negra. A intenção da fabricante Mattel é "refletir melhor o mundo de suas consumidoras". E, é claro, remediar a expressiva queda nas vendas dos últimos anos. Interessante que a mudança de padrões impostos possa obrigar a indústria também a se mexer. Não a deixa menos hipócrita, mas é um começo.
A verdade é que a Barbie mais gordinha ou mais baixinha não vai melhorar a autoestima de ninguém. Mesmo com características mais próximas de uma mulher real, a idealização está no cerne da boneca. E das bitoladas de plantão. Eu também fui uma criança que sempre quis ter uma coleção e me perder, numa tarde, naquele mundo de sonhos de cuidar da casinha ou viajar nas férias com alguém sarado como o Ken. Afinal, o que mulheres deveriam sonhar em fazer?
O sexismo começa no berço e se alastra na infância, com bebês de brinquedo (seja uma boa mãe!), cozinhas (seja uma boa dona de casa!) e Barbies (tenha um corpo perfeito!). Mas felizmente, ainda que tarde, isso começa a mudar. É o que prova o show que uma menina deu no programa da Fátima Bernardes (bit.ly/20jphGU), questionando o motivo dela ter que gostar de rosa ou do sinal de pedestre do semáforo ser um menino. Por mais carrinhos para meninas e casinhas para meninos.
Mas a necessidade de uma discussão sobre isso em pleno 2016 mostra o tamanho do desafio cultural e social que teremos para as próximas eras, num mundo que ainda trata a mulher com estereótipos, e nem sequer tolera negros, homossexuais e deficientes. É um mundo que não precisa de homem ou mulher como referência, mas de pessoas. De carne, osso e ações. É o que brilhantemente vem fazendo uma editora argentina, a Chirimbote, que já lançou dois volumes da coleção "Antiprincesas", colocando mulheres latino-americanas como protagonistas. As primeiras são Frida Kahlo (pintora mexicana) e Violeta Parra (artista chilena). Mulheres que se impuseram pelos seus ideais e pela arte. Infâncias precisam, cada vez mais, de heroínas e heróis reais. Afinal, de mocinhas que se submetem à magia e aos príncipes, o catálogo da Disney está cheio.
Agora, não é a Barbie sem cintura fina que vai fazer uma futura mulher se descabelar menos com aquela calça que não entra mais. Nem a incipiência das plus size representam mais autoestima no fim da passarela. O mercado sempre vai pregar padrões inatingíveis (senão pela farsa), a quem se sujeitar a ele.
As influências são muito fortes em todos os campos, principalmente para crianças. A lei da idolatria e do consumo dominam tanto que cerceiam qualquer senso crítico entre a utilidade e a futilidade. Discernimento anda em falta nas cartilhas. Adultas e infantis. Afinal, por quê eu preciso de um corpo assim ou assado? Qual a razão de seguir o que é preconcebido em detrimento do que me faz bem? Por quê o que é adotado por uma celebridade tem de servir para mim?
Recentemente li a lista proibida do cardápio do casal Gisele Bündchen e Tom Brady. Entre os alimentos banidos estão azeite, batata e café. Café! Muita gente faria loucuras para ser como a top. Mas, para quê? Que vida ingrata deve ser sustentar tanta fama sem café.

Publicado na Gazeta de Limeira.

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