quinta-feira, 31 de março de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Morre Tininha de Salvo, ícone do colunismo social

Daíza Lacerda


O brilho da noite e o glamour das festas despediram-se ontem de sua primeira-dama, Tininha de Salvo, que, aos 88 anos, fez história no colunismo social limeirense com sua elegância. "São Pedro que se prepare porque ela vai acabar com o sossego dele!", já avisa um de seus filhos. 

Afinal, vestida de roupa de festa azul decorada com pequenas pedras brilhosas e aparência impecável de quem nunca deixou de se cuidar, mesmo enferma, sua marca era a presença alegre e autêntica na vida social de Limeira.
Maria Christina Paolillo de Salvo, a Tininha, assinou a coluna social da Gazeta de Limeira durante 17 anos, repleta de informações sobre a sociedade limeirense, após convite do então redator do jornal, Roberto Paulino de Araújo, em 1969. Na época, era preparadora de Física e Química do "ginásio" Castello Branco. Foi casada durante 56 anos com Arlindo de Salvo, falecido em 2003, com quem teve os filhos Ana Cristina de Salvo Musa, 62, Arlindo de Salvo Filho, 58, e Sérgio de Salvo, 55. "Era um casamento entre almas gêmeas, disso não há dúvidas. E o segredo era o seguinte: durante 15 dias do mês, o pai fazia o que ela mandava, e nos outros 15, obedecia", contam os filhos, que frisam a personalidade da mãe, que não deixava de falar nada do que pensava, para quem quer que fosse.
"Saber viver. Esta era a marca dela. Ela amava a vida. Sempre gostou de festas e descrevia casamentos como ninguém. Até mesmo meu pai reconhecia que este era um talento dela que ele, como jornalista, não tinha", declara Ana Cristina.
"Ela tinha um padrão que era o de não sair das festas antes do bolo. Ficava até o fim. Com espírito sempre jovem, dizia que a idade está na cabeça das pessoas. Dizia ainda que quando tivesse que morrer, iria contrariada, porque não tinha pressa de ir embora", diz Arlindo Filho.
Sem pressa de sair da vida, como das festas. "Certa vez a acompanhei em um evento, mas avisei que não poderia ficar até tarde, devido a um compromisso na manhã seguinte. Ela se desculpou com o anfitrião de ter saído tão cedo. Mas eram 3h da manhã!", relembra.
Já Sérgio fala do legado deixado à família, que conta ainda com oito netos e quatro bisnetos. "Nos criou com bons princípios, com educação e honestidade, como cidadãos de outro tempo. Deu exemplos e uma ótima criação, soube nos manter num bom caminho", pontua.
Embora o seu jeito autêntico rendesse também inimizades, era muito lembrada com presentes, e guardava todos. O marido a acompanhava nos eventos, presença vaga com sua morte. Em fevereiro de 2007, Tininha sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). "Ela lutou, voltou a falar e a passear, ir ao salão. Nunca deixou de se arrumar, era maquiada diariamente. A lembrança dela é sempre em festa, cantando e feliz", diz Ana Cristina.
Condicionada à vida social de que tanto gostava, Tininha continuou a escrever até 2003, em mais de três décadas dedicadas aos ilustres acontecimentos de sua terra.
Leitora do cronista social Tavares de Miranda, do Rio, ganhou vários prêmios e homenagens, além de ser membro da Academia Limeirense de Letras. Não gostava de passar batido e ficava muito alegre quando a reconheciam. Nelson Petto, que participou de vários eventos com Tininha, lamenta. "Não só a família, mas a cidade perdeu. Foi uma mãe que não tive. Sua marca era o respeito que tinha pela cidade e pelas pessoas. Personalidade forte, sempre objetiva e sincera, não guardava nada para si. Uma mulher exemplar, ímpar", define. Detentor de amplo arquivo sobre Limeira, algumas fotos de Tininha estão em exposição em sua homenagem em celebração ao Dia Internacional da Mulher, no Sempre Vale Prada.
Tininha estava internada desde sábado na Unimed, e faleceu ontem às 7h30 de pneumonia, após uma forte infecção. Foi velada no velório municipal, no qual foram enviadas dezenas de coroas em sua homenagem. Foi enterrada no cemitério Saudade I, às 17h de ontem, sob os cuidados da funerária Bom Pastor.
"Era uma mulher da noite. A lembrança é da alegria e disposição para qualquer festa. Viveu intensamente a vida", finaliza a filha.

Publicado na Gazeta de Limeira, também na capa

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