quarta-feira, 2 de março de 2011 | By: Daíza de Carvalho

“Bruna Surfistinha” desperta atenção de jovens; profissional diz que vida real não tem glamour


Daíza Lacerda

A promessa de novo sucesso entre as produções brasileiras, o longa “Bruna Surfistinha”, dirigido por Marcos Baldini e estrelado pela atriz Deborah Secco, já levou cerca de 400 mil pessoas ao cinema no primeiro final de semana de estreia, com arrecadação de R$ 4,2 milhões.

Em Limeira, a procura também tem sido grande, sobretudo pelo público jovem, segundo a gerente do Arcoíris Cinemas, Andréia Ponga. Na tarde de terça-feira, dia de ingresso promocional, a fila era formada praticamente por adolescentes, muitos deles sem a idade mínima para assistir ao filme, indicado para maiores de 16 anos. “Eles tentam driblar na compra do ingresso, que é pego por alguém mais velho, mas na entrada é preciso mostrar o documento e são barrados”, diz Andréia, lembrando que menores só podem entrar junto com responsável.
O longa, baseado no livro “O doce veneno do escorpião”, de Raquel Pacheco, que usava o pseudônimo que dá nome ao filme, conta a história da jovem de classe média alta, que foge de casa e dos pais adotivos, quando passa a fazer programas em casas privê. Além de sexo, o consumo de drogas compõe o longa, que demorou quatro anos para ser produzido. Alguns funcionários do cinema opinam que a classificação deveria ser de 18 anos, devido ao nível de explicitação de algumas cenas.
Segundo Andréia, o filme ajuda a elevar o público aos filmes nacionais, depois dos recordes de Tropa de Elite 2. “É interessante que o público assista, pois, por ser baseado em fatos reais, mostra aonde as drogas podem levar”, salienta.

“DIFÍCIL VIDA FÁCIL”
O glamour das casas privê de luxo e de muito dinheiro “fácil” são coisas só das telas, na opinião da profissional do sexo Natasha*, ouvida pela Gazeta. “Não tem nada de vida fácil. É algo que não desejo nem para as filhas dos meus piores inimigos”.
No entanto ela estima que, conforme mostrado no filme, 90% das mulheres que entram para essa vida acabam aderindo às drogas. “Acabam se drogando, porque é preciso encarar tanta coisa, que só ‘ficando louca’ para continuar”, descreve ela, que já foi espancada e só começou pela necessidade de sustentar os filhos. “Bruna Surfistinha não passou por muita coisa que nós já passamos”, avalia ela.
Embora muitas iniciem o ofício por necessidade, ela também conhece quem começa “por gosto”. “Há muitas meninas com carro, família bem estruturada, mas que começam para ter o próprio dinheiro ou por curiosidade, para saber como é”. Mesmo com vida - e rosto - “de princesa”, mulheres nessa condição também se entregam às drogas, depois de partir para boates de capitais ou litoral.
Ela diz ainda que o fato de essas profissionais ganharem muito dinheiro em casas de luxo também não passa de história. “Falam que ganham muito mais do que recebem efetivamente, mesmo com a beleza. Sem contar que todo cliente pechincha”.
Embora a protagonista do filme tenha um desfecho de sonhos, com mudança de vida e fama, quem ainda depende de programas e tenta fazer o mesmo precisa encarar o preconceito. “Estou na luta, tentando arranjar emprego para sair dessa vida, mas quando ficam sabendo, sou mandada embora. Viver desse jeito é um tempo que não passa. A gente não vive, mas vegeta, com muita humilhação”.

*O nome é fictício, para preservar a identidade da entrevistada


Publicado na Gazeta de Limeira, também na capa.

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