sábado, 12 de março de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Limeirenses buscam notícias de familiares no Japão

Daíza Lacerda


Às 3h da madrugada de ontem, Toshio Tamashiro, 69, perdeu o sono e levantou-se. Sem conseguir dormir, foi assistir TV, quando viu parte de seu país de origem, o Japão, ser devastado por um terremoto de 8,9 pontos na escala Richter, o maior das últimas décadas no local, seguido de tsunami com ondas de pelo menos 10 metros de altura.

Ele, que tem com a esposa Terezinha Chinen Tamashiro, 69, mais conhecida como a dona Tereza da barraca de pastéis da feira livre, uma filha e netos morando no país, ficou preocupado. No entanto, a área afetada, próxima da cidade de Sengai, no estado de Miyagi, e das usinas de Fukushima e Onagawa, não é a que ela reside. "Tentei contato com ela durante toda a manhã [de ontem], mas não consegui, pois as linhas estavam congestionadas. Acreditamos que há poucos brasileiros na área perto do epicentro", diz Tereza. "É algo muito triste, fez muitas vítimas e ainda há muitos desaparecidos", completa Tamashiro.
O terremoto, registrado às 14h46 da hora local (2h46 em Brasília), foi o maior da história no Japão, ultrapassando o sismo de magnitude 7,9 registrado em 1923 e que matou mais de 100 mil pessoas. O epicentro do terremoto foi no Oceano Pacífico, a 400 km de Tóquio, a uma profundidade de 32 km. Ondas gigantes viajaram pelo Pacífico a uma velocidade de cerca de 800 km/h, antes de atingir a costa do Japão.

CULTURA DA PREVENÇÃO
"É uma situação que comove qualquer um, mesmo que não tenha parentes no local", avalia o comerciante Aprígio Sasai, 60, que morou 17 anos no Japão, de onde voltou há dois anos. Além de família, ele tem amigos no país, inclusive um que mora em Sengai, mas que está a salvo. "Ele conseguiu ficar em uma parte alta e mais longe do mar", explica ele, que contatou os conhecidos pela internet.
Sasai fala da engenharia japonesa, preparada para suportar as tragédias naturais com as quais o país convive, como vendavais, além de terremotos e tsunamis. Em 1995, quando houve um terremoto em Kobe, próximo de Osaka, ele morava a cerca de 500 km do epicentro, e ainda assim objetos caíram de cima de sua geladeira com a vibração. "É um susto muito grande, mas acabamos acostumando. Lá, nas empresas e escolas, é obrigatório o treinamento preventivo para essas situações. Dorme-se com um kit ao lado, contendo documentos, dinheiro e mudas de roupas. Se acontecer algo, é só pegar aquilo e correr", descreve. Nas escolas, os kits contêm vestes acolchoadas e grossas, para proteção contra o que puder cair sobre a pessoa.
O comerciante Yoshiaki Tokumoto, 57, tem uma filha que vive em Toyota. Na tarde de ontem ele também não havia conseguido contato com ela, que mora longe do epicentro. Ele ressalta a preocupação com a segurança. "A preparação contra catástrofes é constante. São construídos condomínios que ficam vagos para receber pessoas desabrigadas", conta.
Esposa de Tokumoto, Zilda Peruko é diretora social da Associação Nipo-Brasileira de Limeira (Nibrali), que tem 80 famílias associadas. "Na cidade há muito mais famílias, porque nem todas são vinculadas à associação", explica. Segundo ela, entre os conhecidos ela não tem notícias de parentes de limeirenses que tenham sido afetados, já que a maioria geralmente vai para a região Sul, enquanto o epicentro foi ao Norte do país.
A descendente C.N., 37, morou durante 15 anos no Japão, onde estão atualmente seus pais e ex-marido, os quais contatou pela internet, já que as linhas telefônicas estavam prejudicadas. "Eles moram em uma provincía vizinha de Tóquio. Sentiram abalos e tiveram corte de água e energia elétrica, devido ao incêndio de uma das usinas, o que foi reestabelecido no fim da tarde [de ontem]. Mas o que mais abalou foi o psicológico", diz ela, lembrando que os sismos são comuns, mas não nesta magnitude.

"Felizmente os japoneses têm uma organização muito eficiente, e já sabem até para qual abrigo ir nesses casos, além de terem os kits de emergência sempre à mão", explica.
Segundo ela, a região atingida é pouco procurada por brasileiros. "É uma área em que os abalos são frequentes, por estar praticamente sobre uma placa solta", diz.


CONSEQUÊNCIAS
Os abalos de ontem deixaram pelo menos 370 mortos, 800 feridos e 500 desaparecidos, até as 20h de ontem.  As comunicações no Japão ficaram prejudicadas, com redes de telefonia celular e fixa com irregularidades, além de duas usinas afetadas.
Um novo terremoto de 6,6 graus de magnitude atingiu por volta das 4h locais de sábado (16h de Brasília, ontem) a região noroeste do Japão.
Estima-se que vivam no Japão cerca de 300 mil pessoas originárias do Brasil. O embaixador do Brasil no Japão, Marcos Galvão, afirmou que menos de 800 brasileiros estavam na região mais abalada. Até a tarde de ontem o governo brasileiro não tinha notícias de nacionais atingidos.
Os telefones de contato do Núcleo de Atendimento a Brasileiros do Ministério das Relações Exteriores do Brasil são: 61/XX/3411-6752 ou 61/XX/3411-6753 ou 61/XX/3411-8804 (de 8h às 20h) e 61/XX/3411-6456 (de 20h às 8h e finais de semana). E-mail: dac@itamaraty.gov.br.


"Efeito do tsunami é como 
uma pedra jogada na água"

Professor da área de Hidrologia da Faculdade de Tecnologia (FT/Unicamp), Hiroshi Paulo Yoshizane também tem familiares que residem em várias partes do Japão, mas nenhum próximo das áreas atingidas.
Ele explica o tsunami como consequência do terremoto, algo frequente no país, embora não em escalas tão altas que está. O Japão está sobre placas tectônicas instáveis. "Podemos imaginar o tsunami como uma pedra jogada na água. Quando a pedra cai, a elevação no local sobe, e, quando volta, forma ondas de grande altura, que chegam à costa e vão continente adentro". Com a elevação do epicentro, a costa puxa a água, como uma onda com sentido contrário.
Em tese, as estruturas em terra, das cidades, serviriam para "frear" a água, que devasta enquanto tiver força. Além dessa correnteza que chega, há ainda o efeito inverso, quando a água volta para o mar, o que amplia o risco.
"É um país que sofre muito, mesmo com estruturas de prevenção e alertas, porque não há como saber a amplitude das ondas", diz Hiroshi. Quanto aos terremotos, para os quais o Japão possui diversos pontos de monitoramento, ele pontua como agravante a profundidade do abalo, que foi de 32 km.
O Japão está sobre três placas, com formação vulcânica recente, próximas de uma quarta, no mar, com a qual houve o choque e consequente sismo.
Hiroshi explica que o local com placas mais instáveis no planeta é a Índia. No Brasil, apenas a costa do Nordeste apresenta esporadicamente algumas "falhas", que seriam acomodações, já que nosso País está sobre placas estáveis e em uma superfície maior, o que deixa o risco de terremotos praticamente nulo. "Não há risco, mas o Brasil estaria totalmente despreparado", analisa.

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