domingo, 6 de março de 2011 | By: Daíza de Carvalho

Afinal, o que querem as mulheres?

Daíza Lacerda
Especial para o Jornal da Mulher


Odete Sene Pereira, 56
"Como sou aposentada, já realizei a maioria dos meus sonhos, como o de ser mãe e avó. Agora, tudo o que eu quero é viajar, assim que meu marido também se aposentar"


Lizonete Moura da Silva Domingos, 45
"Quero respeito. Em órgãos públicos, como postos de saúde, merecemos mais educação. Respeito é o mais importante em tudo, porque é preciso respeitar para ser respeitado"


Simone Perico Palermo, 37
"Meu desejo é o de realização profissional, além de saúde para os filhos. Ainda quero fazer faculdade e ter um bom emprego"


Alice Ferro, 60
"A coisa mais importante é saúde. Mas eu queria uma nova casa bem bonita. Que mulher não quer, não é? Mas de certa forma já me sinto realizada nesta altura da vida"


Emilaine Aparecida Alcântara, 24
"Quero mais atenção do meu marido, além de um bom emprego, que está muito difícil"


Thaís Alcântara, 18
"Gostaria de ter mais oportunidades. Falta abertura para mostrar a nossa capacidade, e não temos tanto valor quanto merecemos"

Corpo, carreira... e um longo caminho a trilhar - ainda

Embora sejam inúmeros os avanços da mulher na conquista de direitos, ainda há um longo caminho a ser percorrido para garantir melhores salários e cargos, por exemplo. No entanto, o maior entrave é cultural, na avaliação da socióloga Eliana de Gasperi. “A mulher tem mais espaço onde não tinha antes, mas aspectos culturais ainda não a colocam em situação igualitária”, analisa.
A eleição da primeira presidente do Brasil, Dilma Rousseff, é apenas um exemplo do que a mulher ainda tem a conquistar.
“Se a mulher tem acesso a cirurgias plásticas, viagens ou automóveis, se reserva à condição de consumidora e isso não é igualdade, mas sim questão econômica”, diz Eliana. Ela avalia ainda que em muitas situações a mulher não consegue se impor em relação à igualdade, principalmente porque as relações de poder são muito subjetivas. “Não dá para avaliar objetivamente dentro do ambiente doméstico, porque há mulheres que ganham mais do que o marido, mas preferem esconder. E alguns segmentos religiosos ainda determinam que a mulher deve seguir o homem”, exemplifica.
A própria presidente é exemplo claro, na avaliação da socióloga, de como a igualdade ainda está em processo de conquista. “Durante a campanha, a agressividade não foi necessariamente com foco profissional, mas pelas questões pessoais por ser mulher. Houve apelo com a questão do aborto e muitos discutiram a sua feminilidade. Especulam se é a mulher é boa mãe ou não, mas quando vemos um empresário ser atacado por ter sido um mau pai? Os ataques foram justamente em itens em que a população ainda tem muito preconceito. O que, na verdade, ainda é muito comum nas cidades, nas empresas”.
E mais: em vez de substituir funções, a mulher as acumulou. A responsabilidade da casa e dos filhos não foi suprimida (ou efetivamente dividida) enquanto a mulher investe em estudos e na carreira, com uma sobrecarga no âmbito doméstico.

Bonita ou inteligente?
A disputa por cargos é evidenciada pela inteligência ou pelo corpo? Esse é um dos pontos que Eliana levanta. Ela atenta que a questão deve ser repensada, além dos ambientes corporativos. “Corpo perfeito para quê e para quem? Pesquisas Instituto de Psicologia da USP mostraram que, de 20 mulheres, 16 estão insatisfeitas com o corpo. Se a mulher não segue a estética, é porque é preguiçosa e não quer malhar. No sistema em que estamos, a beleza é imposta. Com exemplos como esse, ouso dizer que a mulher teve até retrocessos”.
A afirmação se explica se comparada aos ideais de antigamente, da conquista da liberdade e revolução sexual. “Se a mulher lutou tanto por valores como esses, por quê hoje o corpo se sobrepõe tanto a outras conquistas?”. Outra pergunta que ela deixa em aberto para que elas reflitam.



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