terça-feira, 29 de março de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Um botão do respeito pelo botão do pânico

COLUNA RELEITURA - 29/03/2016

Um botão do respeito pelo botão do pânico

Daíza Lacerda

A mulher de 44 anos foi encontrada ensanguentada, no chão da própria casa, após ter sido espancada pelo marido com um cabo de vassoura. O repórter Denis Martins contou a história de terror da vida real na última semana, que terminou com o agressor preso e a vítima socorrida. Seria este um final feliz?
É difícil imaginar como uma pessoa que se escolhe para compartilhar a vida se torna uma ameaça dentro de casa. E, em tempos de empoderamento feminino e conscientização dos próprios direitos, a violência doméstica ainda se alastra de forma surpreendente. Viram os séculos, mas o homem ainda se acha no direito de ser dono de alguém. Até quando?
Por mais numerosos que sejam os casos, ainda é desconhecida a dimensão do inferno que tantas mulheres ainda vivem em seus "lares". São histórias que raramente vêm a público, principalmente para preservação da própria vítima. Mas algumas, quando conseguem se libertar do ciclo de violência, dividem suas dores e esperanças. É o que fez uma argentina casada com um brasileiro e que viveu em cárcere privado no Rio de Janeiro. Em depoimento à Folha de São Paulo (http://bit.ly/1MwhE9X), ela contou como a filha de 13 anos a salvou da prisão, chamando a polícia. Coagida, afirmou que estava tudo bem, num primeiro momento. Com a insistência dos policiais, não desperdiçou a chance criada pela filha e pôs a limpo toda a violência vivida em quatro anos.
Muitas vezes, mesmo sob proteção, o mal ainda cerca. E é para esses casos que Limeira terá como recurso o botão do pânico, um socorro imediato para vítimas de agressores insistentes. Embora bem-vinda como mais uma forma de garantia de proteção, não deixa de ser absurda a necessidade de criar mais recursos contra quem deve receber punição de uma vez por todas.
Felizmente, as mulheres têm serviços aos quais recorrer quando estão determinadas a vencer o medo. No entanto, até que ponto isso torna agressores mais conscientes? Por quê essa incidência não para? Por quê homens ainda continuam violentando suas próprias crianças e esposas dentro de casa? Será impunidade? Excesso de confiança? Ou uma patologia que a ciência ou razão ainda não sabem combater?
Não são só direitos de mulheres em questão, mas direitos humanos. O que sobra quando se perde o respeito? A origem da violência pode ser imperceptível. O que começa com piadinhas machistas levadas na brincadeira podem se tornar um atestado de posse na cabeça de quem não está alinhado com a realidade dos direitos e deveres. 
Claro, ainda há o álcool e drogas, que também levam a culpa na tentativa de isentar ou minimizar a barra de quem solta as feras sobre indefesos. Ciúmes, problemas conjugais, não importa a situação: nunca será o bastante para justificar agressões.
Estamos em tempos nos quais as pessoas são panelas de pressão ambulantes. É mais fácil recorrer à bebida do que ao diálogo, ao grito do que ao silêncio. Não haveria botões do pânico suficientes para dar conta da intolerância de todos os tipos. Realidade de quem pensa viver na "civilização". Um lugar que, depois que se perde o respeito, a luta é para não perder a vida.


Publicado na Gazeta de Limeira.

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