terça-feira, 15 de março de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Muito além das palavras de ordem

COLUNA RELEITURA - 15/03/2016

Muito além das palavras de ordem

Daíza Lacerda

Foi bonito, foi. Foi intenso. Mas, verdadeiro? Bem...
Essa mobilização toda nas ruas de tantas cidades do Brasil terá efeito prático nas próximas eleições? Podemos esperar mudança real emanada de um povo que mantém no poder gente como Fernando Collor e Renan Calheiros? Será que são pessoas que analisam as câmaras (municipal, estadual e federal) que criaram com o seu voto? São cidadãos que acompanham se os seus edis andam propondo ou apoiando balelas ou iniciativas realmente necessárias?
Nas ruas, os brados de uma contradição: contra a corrupção e a favor do impeachment. Sem que exista, até o momento, elementos que sustentem a saída da presidente, provas de ilegalidades. E pior: o que viria em seguida à queda de Dilma? Se o Brasil não tem um plano com ela, que dirá sem, enquanto partidos e seus caciques mal se aguentam na ânsia de tomada do poder. Na qual, é claro, não está o plano Brasil. A corja espreita.
Que a situação não está favorável, é fato. A bagunça econômica e o ápice da crise de credibilidade do governo mexeram com estruturas de cabo a rabo, desequilibrando setores e, principalmente, orçamentos. Porém, a roda ainda gira e ainda não vivemos o caos de épocas que a minha geração não conheceu. O dinheiro não rende, mas, pelo menos por enquanto, ainda é possível sair do mercado com regalias que eram inimagináveis por famílias que contavam os miúdos nos anos 80.
É um grande passo que as pessoas cobrem, de forma pacífica, mudanças no país. Mas, afinal, quem está cobrando, o quê e de quem? Quem atenta a isso é a jornalista Eliane Brum, em seu artigo desta segunda no portal El País (http://bit.ly/1S0gGBJ): "Elege-se os corruptos a destruir, que viram bonecos, rostos a ser eliminados. E nada se muda da estrutura que provoca as desigualdades e permite a corrupção de fundo. (...) Não há bonecos de expoentes do empresariado nacional, alguns deles já presos, julgados e condenados. (...) A cara do Mercado, a outra face dessa história, não está nas ruas como ré, apesar de também ser protagonista do esquema que está sendo desvendado pela Operação Lava Jato". Para Eliane, a voz do 13 de março é a dos que querem seus privilégios intactos. Na mesma linha discorre o jornalista André Forastieri, no Portal R7 (http://bit.ly/1QYFyrl), quando fala da preocupação dos banqueiros com a queda de seus lucros, já exorbitantes, se o governo não aumentar a taxa de juros (tão exorbitante quanto).
Não se trata de defender o governo, mas de se ater aos fatos. Por mais responsável pela baderna e incapacitada que seja, a presidente não foi condenada. E que prossigam as investigações sobre ela, seu antecessor e qualquer outro que carregue vestígios de corrupção. Mas de forma séria, sem espetáculos que mais confundem que esclarecem.
A mobilização nas ruas é necessária, mas parece faltar algo diante de motivação tão difusa. Diferentemente dos movimentos de junho de 2013, que tinha tiro certo, o movimento atual se perde no generalismo. São muitas nuances sob o ímpeto de condenar previamente. Como bem pontuou Forastieri, a necessidade é de "colocar em pauta o que realmente interessa, e o que está acima dos partidos e das pessoas: vamos construir um país mais justo, mais produtivo, mais educado e menos corrupto? Como fazemos isso? Brigando pelo que é importante, não 'contra tudo que está aí'".

Publicado na Gazeta de Limeira.


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