terça-feira, 1 de setembro de 2015 | By: Daíza de Carvalho

Conquistando pelo estômago

Limeira teve, no último final de semana, uma amostra rara do poder de ocupação do espaço público. Quem foi a qualquer um dos dias do Limeira Food Truck, na Praça Toledo Barros, pode conferir uma harmonia singular no coração de Limeira. Coisa que nunca vi, mas muito ouvi sobre os tempos antigos em que a praça era o ponto de encontro das famílias, dos jovens e das crianças.

Nos tempos modernos, sabemos que essa apropriação pública perdeu espaço para o tráfico e outras ameaças de crimes, que espantam a população do Centro e de muitas outras praças. Mas uma é exceção: a praça João Soares Pompeu, conhecida como Praça da Buzolin, em referência à avenida em que está localizada. O que se viu na Toledo Barros nada mais é do que um retrato em grandiosas proporções do que é regra na Buzolin há muito tempo: área pública tomada pelo público, também graças às opções de alimentação estabelecidas ali.

Limeira ainda não conseguiu dar vida às suas principais praças, exceto por eventos pontuais. E se a experiência do Food Truck não aguçar a gestão para o lazer e gastronomia no município, esses espaços vão mesmo continuar fadados ao deserto. E não me refiro apenas ao poder público, mas aos comerciantes, que precisam virar o jogo e atrair visitantes para a cidade, e não dá-los de bandeja para a região.

Limeira tem opções ótimas para um festival de lanches, de pastéis, de sorvetes, sucos, coxinhas, e tudo mais que esteve à disposição na praça no final de semana. Limeira tem músicos de altíssima qualidade, talentos ocultos, e tem entidades que precisam de recursos e estão dispostas a trabalhar e a oferecer coisas boas, o que é marca em eventos tradicionais. Se juntar a fome com a vontade de comer, é possível que a população tome conta da(s) praça(s) com muito mais frequência, e não só uma ou outra vez no ano. Quem sabe, de forma permanente.

O comércio de Limeira ainda é muito conservador. Falta visão e ousadia para conquistar o cliente, que está muito mais exigente. Em tempos de reinado da internet, só atendimento de primeira linha e alternativas muito interessantes tiram compradores do conforto de casa. Como o lazer e a comida, que atraem gente de todo lugar. Se bobear, a qualquer preço. Quem nunca ficou à deriva procurando locais diferentes para petiscar ou papear no domingo à tarde? Parque Cidade e Horto são ótimos para lazer. Mas, convenhamos, com atrativo gastronômico zero. São lugares que gritam por opções para encher os olhos e o estômago.

A única ressalva do Limeira Foodtruck é o lixo. Provavelmente o evento atraiu um público muito maior do que o esperado, e não sei se as lixeiras foram insuficientes ou faltou mesmo uma organização melhor para não deixar o lixo acumular. Havia muita coisa no chão, próxima das lixeiras, mas não notei excesso de restos ou embalagens jogadas nas áreas de passagem, o que insinua boa-fé. Nos gramados, não vi um papel. Só muita gente sentada e relaxada ao lado das flores, curtindo o show de jazz, com a comida de sua preferência. A única queixa da maioria dos que conversei foi de não poder ter experimentado tudo o que era oferecido. Estávamos em final de mês, e muitas das opções não eram exatamente baratas. Mesmo assim, lotou.

Ficou o gostinho de quero mais. E o desejo de que a apropriação do espaço público seja regra, não exceção.


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