sábado, 5 de setembro de 2015 | By: Daíza de Carvalho

Biblioteca, enfim, de portas e páginas abertas

Biblioteca, enfim, de portas e páginas abertas

Novo complexo é aberto ao público com conceito de espaço cultural além da leitura

Daíza Lacerda

Parecia até que o mundo ia começar em livros. Assim que as portas se abriram, rapidamente os corredores ganharam vida, num formigueiro curioso que não sabia o que buscar primeiro. Quadrinhos, clássicos, desconhecidos: os volumes saíam da inanição da estante direto para as mãozinhas inquietas das crianças. A biblioteca era, finalmente, apoderada pelo público.
Um dos pequenos arregalou os olhos quando soube que aqueles pequenos universos poderiam ser dele durante alguns dias. "Como assim, pode levar?". Simples assim, outros já haviam feito a escolha, como Lucas Gabriel Ferreira, de 12 anos, que agarrou o volume único de As Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis. O livro não era extenso o bastante para ele: seria o 13º volume grosso que iria encarar. Para ele, "é ótimo praticar a leitura, para ficar mais esperto na escola e não tirar nota baixa".
A nova biblioteca de Limeira também traduz o anseio dos patronos João de Sousa Ferraz e Cecília Quadros, cujo apreço pela educação e cultura foi testemunhado pela neta Luciana Ferraz e sobrinha Maria Salete Ometto Quadros, respectivamente. O acervo pessoal do escritor, jornalista e psicólogo parecia um mundo mágico, nas palavras de Luciana. Já Cecília, que tinha "coletâneas de pulsar de coração", representava Limeira aonde ia, como atesta Maria Salete.
ESPERANÇAR
Ao agradecer a todos que colaboraram para a transformação da biblioteca num espaço diferente e inovador, a secretária de Cultura, Gláucia Bilatto, citou o educador Paulo Freire. Ele dizia que não se deve confundir a esperança do verbo esperançar com a do verbo esperar. "Não se deve esperar, mas buscar e reagir ao que não tem saída. Não esperar, esperançar", declarou, na entrega do projeto que pretende servir como um espaço cultural muito além da leitura.
O vereador José Farid Zaine relembrou o início do projeto da nova biblioteca, em período que foi secretário de Cultura. À época, o modelo das grandes redes de livrarias foi uma das inspirações para criar, em Limeira, um espaço para ampla circulação.
O prefeito Paulo Hadich destacou a atuação da biblioteca mesmo com o funcionamento em local provisório, em imóvel alugado na rua Senador Vergueiro, com espaço muito menor do que dispunha anteriormente, no prédio do Museu. Abordou a continuidade do projeto, iniciado antes de sua gestão. "Tínhamos a obrigação e dever de terminar e corrigir os erros. Compreendemos que o local poderia ter uma utilização maior, e abrigará também o Centro de Ciências, que está sendo finalizado e deve aumentar mais ainda o fluxo de pessoas". Outro ponto destacado pelo prefeito é a contribuição com suporte pedagógico para todas as escolas do município, públicas e particulares.
TIJOLINHO
Diversas pessoas ligadas à educação e literatura em Limeira prestigiaram a reabertura, como a escritora Zenaide Elias e Eudóxia Quitério, que faz questão de ser referenciada como professora primária. "Alfabetizei durante 30 anos, e sei avaliar o valor disso", disse ela, que condena veementemente a prática de passar de ano alunos analfabetos. "A boa alfabetização é o tijolinho da cultura de uma pessoa", salienta a educadora, que se mostrou contente com a nova biblioteca. "Dará um impulso e permitirá dedicação maior na finalidade da instrução", considera.
Após tantas mudanças de prédio, o acervo chega para ficar ao lado do Parque Cidade. Mas, mais do que nunca, a biblioteca está sujeita à mutação, que será provocada pelo público, como expõe a coordenadora Ligia Consuelo Araújo. "Agora, vamos receber a população, acolher as demandas e continuar o projeto da biblioteca viva, agregando outras parcerias para uma biblioteca atuante. É um equipamento cultural, um espaço de acolhimento. Queremos que as pessoas venham usufruir, se apropriar, serem parceiras para aquilo que elas necessitam e querem". 

0 comentários:

Postar um comentário