domingo, 6 de setembro de 2015 | By: Daíza de Carvalho

Retratos de Limeira em meio ao progresso paulista

Parceria com Unicamp traz a exposição "Avante São Paulo!" ao Espaço Engep

Daíza Lacerda

Na década de 1910, tudo o que existia na atual Praça Toledo Barros era uma imensa lagoa e uma charmosa construção, o Theatro da Paz. Pouco mais de uma década depois, seria erguida ali a Gruta, também da Paz, no processo de formação do cartão postal de Limeira. Esses retratos fazem parte da nova mostra do Espaço Cultural Engep, que traz a Limeira parte do acervo do Centro de Memória da Unicamp, em material documentado pela então Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas do Estado, em 1920.
A seleção reproduz a intenção da secretaria de "vender" São Paulo como a terra do progresso e desenvolvimento, tendo apostado nas fotografias como importante ferramenta, principalmente com o recenseamento federal de 1920. É o que explicam os historiadores e curadores da exposição, Ana Cláudia Cermaria e João Paulo Berto.
Nos três espaços do casarão, o visitante conhecerá um pouco da secretaria, que detinha, à época, a responsabilidade sobre os principais serviços e infraestrutura, como viação, comércio, estradas, vias fluviais, iluminação e estradas de ferro, além dos trâmites da imigração. Na segunda, uma amostra dos núcleos coloniais, em retratos usados para atrair colonos, com a promessa de terra próspera, com comida e moradia. No salão principal, os painéis maiores resgatam a Limeira do início do século passado, desde a antiga matriz, hoje demolida, à reunião de figuras da época na Fazenda Morro Azul, como dr. Trajano e o marechal Rondon.
DESENVOLVIMENTO
O acervo do Estado reuniu materiais de inúmeras cidades paulistas, e algumas da região são retratadas na exposição, a exemplo de Rio Claro, Araras, Americana e Pirassununga. Nos retratos do progresso, espaços públicos e privados, praças e escolas mostravam São Paulo na vanguarda do desenvolvimento. E o recenseamento foi uma oportunidade de dar visibilidade a essa transformação, conforme os historiadores.
Preparado cinco anos antes, o recenseamento federal de 1920 previa levantar não somente informações demográficas, mas também a situação econômica do país, por meio das explorações agrícolas e pastoris, além das indústrias. Iniciado em 1º de setembro de 1920, o censo, que era organizado a cada dez anos, seria expressivo para as comemorações do centenário da Independência do Brasil, completos em 1922.
O primeiro dos diversos volumes do censo também está em exposição. Porém, a localização das informações de São Paulo é um mistério, pois o volume não foi encontrado.
A ORIGEM
Após a proclamação da República e a organização dos ministérios, os Estados adotaram a mesma estrutura, por meio das secretarias. Assim, a de Agricultura foi criada em 1897, mantendo a mesma estrutura até 1927, quando foi dividida em duas: Agricultura, Indústria e Comércio e Viação e Obras Públicas.
A sede foi concebida por Ramos de Azevedo, um dos mais importantes arquitetos paulistas. Seu projeto, no Centro de São Paulo, próximo do Páteo do Colégio, seria o centro das decisões do Estado, como a de investir na policultura, diversificando os plantios além do café e da cana. Iniciativas como essa foram impulsionadas na gestão do piracicabano Carlos Botelho, a partir de 1907. Na época, os gestores não eram identificados como governadores, mas como presidentes do Estado.
A exposição segue até 27 de novembro, e terá, ainda, o lançamento de um catálogo. A parceria é resultado da proposta de difusão, ponto em comum do Centro de Memória e do Espaço Engep. "São acervos vistos, muitas vezes, de forma pontual, e o Centro de Memória tem a intenção de difundir para o interior. Por outro lado, o Espaço Engep acolhe a mostra, trazendo esse conhecimento a Limeira e região".
O Espaço Engep fica no Largo da Boa Morte, 118, no Centro. A visitação é de segunda a sexta, das 9h às 18h e, aos sábados, das 9h às 13h.


Épocas eternizadas por anônimos (ou quase)

Dos trabalhos nos jardins à frente do Museu do Ipiranga, na capital, passando pela área da atual Faculdade de Agronomia Luiz de Queiroz, em Piracicaba, até o retrato da reserva da Cantareira, um belo jardim à época, as fotos selecionadas resgatam tanto obras que ficaram a cargo da secretaria quanto aquelas que apenas supervisionava.
Os fotógrafos que captaram os quadros da história são, na maioria, desconhecidos, mas há teorias para a origem, principalmente para os de Limeira. "Algumas fotos têm a informação no verso, como o nome ou legenda, mas era comum o Estado recrutar fotógrafos locais. Acreditamos que boa parte das fotos de Limeira foram produzidas pelo Estúdio Ceneviva, de Tomazzo Ceneviva", relatam os curadores. Reforça a hipótese o fato de algumas das fotografias já serem conhecidas, possivelmente pelo autor limeirense ter mantido uma cópia ou os negativos. (Daíza Lacerda)

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