terça-feira, 22 de setembro de 2015 | By: Daíza de Carvalho

Mobilidade custa impopularidade

Brasileiros acham linda a mobilidade urbana dos europeus: poder se locomover de bicicleta, embarcar em trens que funcionam para todo lado, inclusive até outros países. Mas, dentro de casa, a ideia é quase utópica, pois ninguém quer pagar o preço ou abrir mão do conforto do motor particular. Como se aquilo tivesse sido conquistado de graça no Velho Mundo.
Foi só criar ciclovias e ciclofaixas, baixar a velocidade máxima em algumas vias e dar espaço para os corredores de ônibus, que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), atraiu a ira dos motoristas. Não era para menos: ninguém quer perder espaço quando o disponível já é pouco. É esse egoísmo com o espaço público que torna o trânsito cada vez mais insustentável. O prefeito da capital teve a audácia de adotar medidas impopulares para boa parte da população, que são necessárias ao todo, garantindo espaço a outros públicos que também têm direito a ele. Inclusive ao pedestre, que é o beneficiado nas quedas de limite de velocidade. Vociferaram contra, ainda que nós todos sejamos pedestres.
A mobilidade demanda ações impopulares. Temos as ruas lotadas de carros parados, mais do que carros tentando se movimentar. Na própria redação da Gazeta sentimos o drama. Há dias em que é mais demorada a saída do Centro do que o trajeto pela cidade até bairros mais distantes. Falamos de três quarteirões, cuja morosidade suga mais da metade do tempo até o destino. Não seria mais lógico acabar com as faixas de estacionamento nas vias mais entupidas para otimizar a circulação? O motorista prefere conseguir trafegar quando precisa ou ter onde deixar o veículo? O ônus de arcar com estacionamento seria o menor dos problemas para quem valoriza o tempo.
Numa recente entrevista à Folha de São Paulo, o urbanista colombiano Ricardo Montezuma disse que não adianta tentar convencer os motoristas a trocarem os carros pelo transporte público. É preciso melhorar o transporte público para quem usa, para que este não queira mudar para o carro. Ou seja, o pensamento é induzir ao oposto do que vem ocorrendo nas últimas décadas.
Com raras exceções, o transporte público no Brasil é uma verdadeira tragédia. Em Limeira, determinadas linhas em alguns horários fazem passageiros terem uma travessia que beira ao desumano dada a lotação. Basta conferir in loco. Em outras, é uma maravilha. Todos gostariam de ter um Rapidão em sua região, e sem horário restrito. Por que é tão difícil o equilíbrio?
Limeira também perde o bonde no fator ciclofaixas. Traçado apenas no anel viário não transporta ninguém das periferias para o Centro, em algumas travessias ridiculamente curtas. Isso numa cidade que tem número absurdo de ciclistas, o que poderá ser comprovado hoje para quem quiser se juntar ao 3º Pedala Limeira, com saída às 19h30 do Parque Cidade.
Até existe um plano, que ainda não chegou aos outdoors para maior visibilidade e participação. Escondidinho, lá na página da secretaria de Mobilidade Urbana (http://www.limeira.sp.gov.br/pml/secretarias/mobilidade-urbana), tem no menu, à esquerda, o link do questionário de inclusão do transporte de bicicleta.
Não há ilusões de que será rápido ou fácil. Mas a Europa, pelo menos da mobilidade, pode ser aqui também.

Publicado na Gazeta de Limeira.

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