terça-feira, 15 de setembro de 2015 | By: Daíza de Carvalho

Mudar dentro, para mudar fora

Confesso: nunca fui a mais bairrista das pessoas. Apesar de nascida na cidade, não me considerava "de" Limeira. Não sentia o mínimo de pertencimento por um lugar que, durante muitos anos, parecia só regredir. Enquanto distritos industriais bombavam na região, Limeira não conseguia sequer ter um shopping. Até que um dia, não faz muito tempo, me peguei muito "p" da vida diante de um comentário feito por alguém de fora, desdenhando Limeira. Mexeu com meus brios. Como assim, um forasteiro falando mal da "minha" cidade? Virei bairrista e nem percebi.
No ofício jornalístico, conhecemos algumas entranhas da terrinha. Com o natural interesse em saber mais do que (e de quem) agrega ou desagrega valor ao lugar onde nós vivemos e nossas famílias. Passou a me interessar muito conhecer as nossas origens. Tanto quanto para onde vamos, que é a grande questão da nossa história do cotidiano. Passei a procurar, nos outros, aquele apego que me faltou durante tantos anos. Quem cuida de Limeira? Quem vive por Limeira? O que o "cidadão comum" acha ou pensa?
O que acabou me inquietando mais, entrelaçando questões como essas, foi a situação do nosso patrimônio público - histórico ou não, material ou não. Onde está a memória de Limeira? O que se aproveitou do conhecimento daqueles que testemunharam um tempo que não conhecemos? O que fazemos hoje para preservar o passado e construir o futuro?
Cada vez que vejo um imóvel antigo, como esses da baixada do Centro, sinto uma curiosidade interminável de saber quem e como se vivia ali. Muitos não passam de ruínas que guardam pedaços de uma memória perdida. E o que é uma cidade sem memória, que não preserva e não constrói a sua?
Temos o dever cívico de recuperar e preservar o que firmou as nossas bases até aqui. Não só materiais, mas principalmente as culturais. Porque ninguém precisa tolerar ser tachado de caipira de forma pejorativa por estar no interior do Estado se souber do celeiro industrial que a cidade já foi. E de caipiras também, cujo trabalho proveu café e suco de laranja a mais gente e por mais tempo do que podemos imaginar. Limeira não é mais a terra do café, das laranjas ou da indústria. Hoje, se desenvolve na vocação da produção da joia folheada. Mas vocação não é identidade.
Qual é a identidade de Limeira? O que devo responder como descrever quando me perguntam de onde eu venho? O que diria se tivesse apenas uma palavra para usar?
É algo muito subjetivo, é claro. Nos anos de descrença, meu retrato seria trágico. Hoje, não mais. Teria vários pontos positivos a destacar, mas ainda faltam diferenciais.
Cidades sempre serão instituições em construção. Pessoas também. A retomada dos trilhos do progresso contribuiu para o resgate do otimismo. Mas o ato de participar, não tampouco reclamar, é que fez brotar uma nova cidade ao meu olhar. É como cantou Gabriel, o Pensador: "A gente muda o mundo na mudança da mente / E quando a mente muda a gente anda pra frente". Fica a dica. Avante, Limeira.

Publicado na Gazeta de Limeira.

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