terça-feira, 29 de setembro de 2015 | By: Daíza de Carvalho

Quem não casa também quer casa (ou não?)

Alguns filtros preliminares do cadastro habitacional mostram as necessidades de uma geração controversa. Considerando a amostra dos que buscam moradia própria por meio de programa social, são mais numerosas nessa corrida as pessoas entre 31 e 40 anos, além da maioria solteira, conforme mostrou a Gazeta no último domingo.
Se você, como eu, está nessa faixa etária e tentou alguma vez sondar as possibilidades de financiamento da casa própria, já conhece um pouco da dificuldade.
O cadastro mostra várias famílias numa mesma residência buscando a própria, o que abre brecha para um estudo ainda mais profundo, de ordens social e comportamental. São pessoas que continuam com os pais por não conseguirem financiar a casa própria ou porque acabaram se acomodando no conforto da família? Não é absurdo supor, já que somos uma geração de "adultescentes", deixando a casa dos pais cada vez mais tarde. Em alguns casos, nunca, ainda que (ou principalmente) com a chegada dos filhos. Isso devido a inúmeros fatores, entre as regalias e dificuldades próprias dos 30+, atualmente.
Se nessa idade nossos pais já estavam casados e, possivelmente, com uma “renca” de filhos, essa definitivamente não é a primeira das preocupações do "adulto" de hoje. Estudar, viajar, escolher uma profissão. Ou nenhuma, que é o extremo privilégio da geração, vendo os anos passarem de dentro do eterno quarto de infância. Porém, com uma tela para o mundo, em distração que os "velhos" jamais sonhariam ter.
Outro dado do cadastro, o de prevalecer o menor número de filhos entre a parcela analisada, também pode falar sobre essa geração, numa tendência de adiar a maternidade/paternidade. Será um melhor planejamento antes de ter um bebê ou a opção de não tê-lo?
No auge dos benefícios sociais, já ouvi muita gente reclamar que "é mais fácil conseguir casa se tiver salário baixo e um monte de filhos". Não concordo, mas reconheço que solteiros também trilham caminho das pedras na busca da casa própria. Sem a possibilidade de composição de renda, como cônjuges têm, os valores de entrada são estratosféricos, para que as mensalidades caibam dentro de um salário médio. Este certamente é um entrave para deixar o conforto do lar doce lar de infância.
Sou da opinião que todo jovem deve ter a experiência de morar e se virar sozinho, antes de casar, embora eu mesma não tenha vivenciado isso, com os 30 e poucos nas costas. Temos um leque infindável de opções para tantas coisas, mas esse tipo de independência é um desafio para muitos, também sujeitos às leis da economia. Afinal, de que adianta morar fora e ainda depender dos pais para subsistência? Meu palpite é que isso possa mudar a cara da demanda por habitação nos próximos anos. Isto é, se deixar a casa dos pais for, de fato, uma vontade levada adiante.
Também há outro fator: a nova tendência de moradia. Se a expectativa for mudar para uma casa nos moldes das que crescemos, grandes, com quintal, jardim, espaço para gato, cachorro, galinha e papagaio, as mães estão fadadas a nos aturar por tempo indeterminado. Ou prepare a poupança, ou se acostume com a ideia de viver entre pouquíssimas dezenas de metros quadrados, talvez com uma pequena horta na varanda. É o que temos para hoje.

Publicado na Gazeta de Limeira



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