domingo, 6 de setembro de 2015 | By: Daíza de Carvalho

Ouro no Parapan, Odair dos Santos mira Paralimpíadas

Paratleta foi desclassificados no 5.000 m, mas garantiu o pódio nos 1.500 metros

Daíza Lacerda

Os tênis são novos, mas as cicatrizes nos joelhos e canelas denunciam que a trajetória até ali não foi nada fácil. Na pista de atletismo do Sesi, em Limeira, um dos locais que recebem as velozes passadas, o paratleta Odair dos Santos fala do caminho que o levou ao lugar mais alto do pódio nos Jogos Parapanamericanos de Toronto, no último mês. Cego, o velocista conquistou, com o guia Carlos Antonio dos Santos, a medalha de ouro dos 1.500 metros.
Conquistou também o recorde nos 5.000 metros, mas a façanha não foi validada devido à equipe não ter informado no prazo pré-determinado a troca de guias para a prova. Mas, para ele, valeu. "Havia dúvida se eu competiria, por estar retornando de duas cirurgias. E a desclassificação aumentou ainda mais a responsabilidade de conquistar a medalha de ouro, pois os 1.500 metros eram uma prova para a qual eu não estava treinando", contou o paratleta.
Foi o seu quarto Parapan, garantindo ouro em todas. Mas o último é considerado por ele e seu guia o mais difícil da trajetória da dupla, que une forças há cinco anos. "Só tive certeza do ouro mesmo nos últimos metros. Em termos de decisão, foi a prova mais sofrida", conta Carlos.
A sintonia da dupla tem de ser perfeita, sendo que, além de passar confiança, o guia nunca pode chegar à frente, e tem de manter um ritmo que o paratleta responda. E foi essa reação que teve de Odair na reta final, fechando a volta em 4:12:16 e deixando um canadense no segundo lugar, com 4:12:65. O limeirense ainda detém o recorde americano na prova, com tempo de 4:03:66, conquistado em Londres, em 2012.
VIDA DE ATLETA
O foco agora é garantir marcas para defender a cidade e o país nas Paralimpíadas do Rio, no próximo ano. Para isso, tem até maio de 2016 para conseguir a marca de tempo em provas oficiais que garanta a sua vaga. Até lá, mantém a rotina de treinos pelo Centro de Treinamento Limeira Paralímpico (CTLP) com Fábio Breda, que consiste em sessões de tiros de manhã e de tarde, além do trabalho de condicionamento.
Já as lesões, têm de conviver com elas. Antes do Parapan, Odair se recuperava da cirurgia no tendão de Aquiles, que exige pé no freio, mas não estagnação. Sem poder correr, são feitas outras atividades sem impacto, como natação.
A alimentação também dita muito do desempenho dos atletas, mas eles afirmam não abrir mão de algumas regalias. "Me privo de muitas coisas, mas de chocolate não tem jeito!", entrega o velocista. Eles têm determinada quantidade de calorias para consumir no dia, mas confessam que às vezes extrapolam. O índice de gordura não passa dos 5%, quando o dos não atletas pode ser acima de 20%. "Temos de ter alguma gordura acumulada, para não queimar o músculo", justifica Carlos.
DUAS VEZES BRASIL
Pela primeira vez, um atleta brasileiro representou o País no Pan e Parapan. Carlos também disputou os 1.500 na competição convencional, ficando em 9º, com 3:44:37, atrás de outro brasileiro. Também com histórico de lesões, achou que poderia ter feito melhor. A diferença do primeiro colocado foi de cerca de três segundos, uma eternidade quando se fala de atletismo.
E foi justamente a atuação no esporte adaptado que levou o guia às competições oficiais convencionais, por ter de treinar tanto quanto ou até mais do que o paratleta. Afinal, se Odair disparar, ele tem de estar preparado para acompanhar.
Ambos destacam o apoio do Comitê Paralímpico para que esses resultados sejam possíveis, diferentemente do desporto convencional. Também lembram e agradecem um parceiro antigo, a Associação de Mulheres Unimedianas (Amul). "Foi uma das primeiras que nos apoiou e nos apoia até hoje", reforça Odair.
Ainda assim, ambos estão em busca de patrocínio para aumentar o número de conquistas. O contato pode ser feito pelos e-mails dinho1500@hotmail.com e atletabira@hotmail.com.
Eles consideram que promessas precisam de um olhar mais atento e de investimento. "Estou no meio paralímpico há 12 anos, e nunca recebi apoio da prefeitura. Mas também os atletas precisam buscar as oportunidades", conta Odair.
É um caminho sem ilusões, como atesta Carlos. "No começo é difícil mesmo. Mas depois fica mais difícil ainda, para manter e melhorar o nível", relata Carlos. Mas há recompensas. "Buscar a fruta no pé é mais difícil, mas o sabor é outro", concordam.




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