domingo, 24 de abril de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Integração entre ensino e esporte projeta atletas em potencial

Adesão às práticas esportivas por meio do ensino integral rendem resultados positivos

Daíza Lacerda

Numa época em que crianças brincando na rua tornou-se raridade, e que os eletrônicos despertam mais interesse do que se movimentar e suar, a incursão do esporte na rotina de crianças da rede municipal de ensino tem ido além das expectativas.
Se, por um lado, crianças não conheciam brincadeiras clássicas da infância de outras gerações, como pega-pega e esconde-esconde, do outro, a oportunidade aflora talentos promissores. "Já conseguimos identificar potencial em alguns grupos que, se continuarem nesse caminho, podem se tornar atletas profissionais", conta o professor de educação física George Luiz Cardoso, que orienta turmas do ensino integral na pista da ALA, no Jardim Piratininga.
Ele explica que, quando iniciaram as atividades voltadas ao atletismo no ano passado, as crianças não tinham base motora e não conheciam as brincadeiras populares. Mas já são observados avanços como melhoria na força, resistência e flexibilidade nos participantes, que têm entre 6 e 10 anos.
Na pista, elas se espalham em práticas que vão desde a corrida ao slackline, passando pelo salto e arremesso. "O atletismo é a base de todos os esportes, e sempre tem algo que atrai a criança. Uma pode não gostar da corrida, mas se identificar no arremesso", exemplifica.
Mais do que o auxílio no desenvolvimento psicomotor e intelecto, a pluralidade de opções visa evitar traumas sejam carregados até a idade adulta. "Se a criança tem uma experiência ruim, ela não vai querer praticar, e vai passar a fugir disso. Por isso é importante deixar que ela escolha o que mais gosta, sem imposição, como alguns pais fazem", alerta.
DIVERSÃO E APRENDIZADO
No Centro Comunitário do Jardim Nossa Senhora do Amparo, a euforia é grande para entrar na piscina, mas a aula não é brincadeira. "Mais do que diversão, é um aprendizado", destaca a professora de natação, Flávia Girardello. A experiência que a criançada não teria se não fosse a integração da educação com outras áreas também traz destaques na piscina, com a participação em festivais. "Vemos o resultado e também a motivação. Além de desenvolver as habilidades motoras, há reflexos como melhoria nos índices de alfabetização". Diariamente são 12 grupos, com crianças do serviço de convivência e fortalecimento de vínculos e de escolas como Maria Aparecida de Luca Moore e Aracy Guimarães.
As atividades vão além da pista e piscinas, ocupando outros centros com modalidades como judô, kung fu, ginástica rítmica e basquete, como explica Glaucia Perrielo, assessora de esporte e lazer da Secretaria de Esportes. Cada turma tem duas atividades por semana, além das oficinas de cultura.
O professor George lembra que o fato das crianças serem provenientes de áreas mais vulneráveis não limita o destaque que podem ter numa eventual carreira esportiva. Em geral, na pista, treinam descalças, mesmo com campanha em curso para arrecadação de tênis. "São nessas regiões que encontramos mais potencial. Já vimos crianças de escolas particulares com muito menos habilidade, por falta de estímulo. Mas a carência não impede o acesso ao esporte. No atletismo, não dependemos de equipamentos. O principal é a disposição".

Noção de cidadania e uso dos espaços públicos

O acesso às práticas não é privilégio só de quem está na escola. Trata-se de opção disponível para quem quiser. A união do útil ao agradável se deu com um esquema de organização de horários e logística, que tornou espaços públicos de esporte e lazer extensões da escola, como explica a secretária de Educação, Adriana Ijano Motta.
A integração é prevista em portaria de dezembro de 2014. Com as opções disponíveis, a união da pasta com secretaria de Esportes, Cultura e Ceprosom levou à organização para que as crianças vivenciassem as atividades nos centros. "São crianças que estão na idade de experimentar. Essa união possibilita diversas vivências, além da possibilidade da criança de procurar o serviço na modalidade que mais lhe agrada", explica, exemplificando com alunos que deram continuidade às práticas nos centros comunitários independentemente da escola. "A criança tem de ter a noção que é cidadã, que pode e deve usufruir do patrimônio da cidade".
Outra vantagem listada por ela é o fato desses equipamentos contarem com professores da área do esporte com olhar mais detido sobre detalhes como postura, por exemplo, podendo identificar eventuais problemas mais facilmente.
São 31 escolas envolvidas, sendo cinco do período integral e o restante com atividades descentralizadas. O resultado está nas provas. "Nos resultados das avaliações prévias do Saresp, as escolas de período integral subiram seu desempenho. Embora o grande mote seja a melhora no desenvolvimento acadêmico, elas mostram avanços na possibilidade de convivência e fortalecimento de vínculos". (Daíza Lacerda)


Publicado na Gazeta de Limeira.


 





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