segunda-feira, 5 de abril de 2010 | By: Daíza de Carvalho

Laís Bodanzky: "o cinema é nossa memória"

Daíza Lacerda

Usar o audiovisual como forma de expressão da vida, como uma voz às histórias que se deseja contar. Esta é a oportunidade que 20 jovens de Limeira terão com a Oficina Tela Brasil, que está com inscrições abertas e terá início neste mês. A definição é da cineasta Laís Bodanzky, que coordena o programa com o roteirista Luiz Bolognesi, ambos responsáveis pelos filmes "O Bicho de Sete Cabeças" e "Chega de Saudade".

Laís: cinema brasileiro é plural, atende ao todo e aos pequenos grupos

A oficina "nasceu" do cinema itinerante Cine Tela, que passa por cidades de todo o Brasil levando produções nacionais. "Percebemos que depois que o cinema sai, fica um vazio. Daí veio o desejo de fazer a oficina, como uma oportunidade para que o próprio público conte suas histórias através do audiovisual", explicou Laís, em entrevista à Gazeta.
Nas oficinas, patrocinadas pela CCR AutoBAn em parceria com a Fundação Telefônica, mais de 900 jovens de 41 cidades passaram pela experiência de contar suas histórias em roteiro e atuação, o que resultou em 123 curtas-metragens, dezenas deles selecionados em diversos e importantes festivais. "Com instrução e pequena noção, são produzidas histórias surpreendentes", avalia.
Laís frisa que o objetivo é, além de oferecer uma introdução, formar o cidadão, que tem o direito de se expressar, mais do que formar um técnico. No entanto, embora não seja o foco, ela diz que já aconteceu de jovens terem feito outros trabalhos, além de contratações. "É algo muito bacana e estimulante. Mas tudo depende do interesse do próprio aluno", declara.

BRASIL NAS TELAS
Laís avalia que fazer cinema em qualquer lugar é difícil, mesmo fora do Brasil. "É caro e precisa de técnica. É difícil principalmente para estreantes". Para ela, hoje o cinema brasileiro está em situação "mais aconchegante", devido à variedade de cursos, faculdades e concursos, além das políticas cinematográficas, além da criação da Agência Nacional do Cinema (Ancine), como órgão de regulamentação e fiscalização. Por todos esses fatores, ela aponta maior organização desde o tempo em que começou, "o que não quer dizer que seja fácil", completa.
Quanto à concorrência da produção nacional com as estrangeiras, ela lembra que entre os blockbusters sempre há um carro-chefe brasileiro. "O que vem entre os produtos norte-americanos já é um filtro, pois eles têm uma produção enorme, além da verba para marketing para o que é de primeiro interesse. No Brasil é outra proporção, mas estamos em casa, com acesso a toda produção. O cinema brasileiro é bastante plural porque não tem só blockbusters, que são importantes para a cadeia econômica, mas não se pode produzir só disso. Temos ainda o cinema médio, com focos específicos, como os para adolescentes, os romances, os infantis, ou os filmes de gueto, além dos experimentais". Diversidade que enriquece a cinematografia, atendendo não só o todo, mas também os pequenos grupos, afinal, "o cinema é nossa memória", enfatiza.

PRODUÇÕES E ESTREIA
Ela cita que sua estreia em longas, O Bicho de Sete Cabeças (2001), teve como ponto mais difícil o financiamento. "Mas a confecção e retorno do público foram extremamente gratificantes". Hoje, além de lei de audiovisual ter sido reformulada com melhorias, há maior incentivo com concursos e editais para filmes que tornam possíveis as produções, incluindo as de baixo orçamento.
O novo longa, "As Melhores Coisas da Vida", estreia dia 16 em 150 salas de cinema. A história, original, é inspirada série de livros "Mano" de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto, do qual a cineasta falou da expectativa do lançamento. "No momento é de ansiedade. A Gullane e Warner investiram e acreditaram e estou otimista. Não é um lançamento como de um blockbuster, mas é o maior lançamento da minha carreira", declara.
O filme conta a história de Mano, que aos15 anos sofre com uma série de problemas característicos da idade, entre eles a virgindade e a relação com os pais. "O filme é uma provocação, quando se para para pensar no sentido da vida, o que nos move, nos incomoda, nos faz feliz, contemplando os desejos desde os mais simples até os impossíveis", explica.
Quanto à oficina, ela reforça o convite aos jovens. "É sempre emocionante ver o quanto os participantes se transformam e aproveitam a oportunidade". No final do curso, haverá exibição de curtas aberta ao público, além de um convidado da área para o encerramento.
As incrições seguem até dia 9, na Escola Municipal de Cultura e Arte (Emcea), na Rua Capitão Bernardes Silva, 144, Centro, onde também serão as aulas, ou no endereço http://www.telabr.com.br/oficinas_itinerantes/inscricao.

Original em pdf aqui.

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