sexta-feira, 2 de abril de 2010 | By: Daíza de Carvalho

Judas: entre esquecimento e tradição, comunidade retoma malhação

Daíza Lacerda

A cultura de malhação do Judas no sábado que antecede a Páscoa tem hoje menos adeptos em Limeira. Comunidades que promoviam o evento, que agregavam ainda outras brincadeiras, já não o realizam mais.

Na Vila São João, a malhação já não acontece há 15 anos na Praça General Salgado, conforme o aposentado José Otávio Nogueira, 75. “O Alcides Segatti, antigo dono do Bar do Cabelo, era quem patrocinava. Depois que ele vendeu, não houve mais colaboração”, diz, lembrando que a organização, que contava com cerca de 50 pessoas, era bastante trabalhosa para garantir comes e bebes, além das prendas.
Outro motivo que evitou a retomada foi o avanço da idade dos antigos organizadores. “A malhação foi promovida por uns 20 anos. Depois, muitos se afastaram por idade ou doença. Dos organizadores, a maioria já não está mais aqui”, diz Nogueira. Ele lembra que o dia da malhação tinha ainda a corrida do ovo, da colher e do saco, além da leitoa ensebada.
Entre as lembranças da “Banda do Judas”, que percorria o bairro e tocava no asilo, o aposentado diz que a comemoração não interessa mais aos jovens. “Há quem nem saiba o que é isso. Mas, no passado, era movimentado, com bons prêmios em dinheiro para quem subisse até o Judas. As várzeas de eucalipto alcançavam de 12 a 15 metros”, recorda.
Em outro bar, no Jardim Ouro Verde, o Judas do ano passado, que permanece no tronco, estará a salvo neste ano, também devido à mudança da direção, que promovia a malhação. No local onde a rua chegava a ser interditada para a folia das crianças, o Judas deve continuar no alto, mas intocável.

RETOMADA

Nos dois últimos anos, a comunidade do Jardim São Francisco fazia uma pausa na tradição de pelo menos 17 anos de malhação de Judas. Nilson Damião dos Santos, o “Nilsão”, que era o morador que mais se dedicava ao evento, faleceu há quatro anos. “Me lembro bem, eu o ajudava desde pequeno a organizar”, diz o filho Alexsandro Damião dos Santos, 17. No ano seguinte à morte, os moradores, também com apoio de um bar, organizaram o evento em sua homenagem, que antecedeu a pausa.
“Vamos retomar, pelas crianças”, diz Sebastião Ferreira Godói, que trabalha no bar. Ele e o proprietário do estabelecimento, José Ferreira Alves, ajudaram com a organização da festa. “Queremos retornar à tradição. Tudo é feito pela comunidade, como sempre foi. Haverá corrida do saco, do ovo e até som para criançada, se conseguirmos”, garante Godói, preparando com demais moradores o tronco que fará amanhã a alegria da criançada na praça de esportes do bairro, em frente da Rua Mário Camargo Aranha.











Publicado na Gazeta de Limeira. Íntegra em pdf aqui.

0 comentários:

Postar um comentário