domingo, 12 de fevereiro de 2017 | By: Daíza de Carvalho

Prefeitura começa a "conhecer" ocupação Constante Peruchi

Diagnóstico detalhará situação socioeconômica de famílias, além de aspecto físico do local

Daíza Lacerda

Quem são, como e com quanto vivem e em quais condições são algumas das questões buscadas pela Prefeitura de Cordeirópolis junto aos moradores da ocupação às margens da rodovia Constante Peruchi, próximo da divisa com Santa Gertrudes. A Secretaria da Mulher e Desenvolvimento Social iniciou o recadastramento das famílias, em parceria com a Secretaria de Obras e Planejamento. Além da atualização das informações e levantamento da atual situação socioeconômica, são verificados os volumes construídos, para que sejam propostos estudos para regularização do bairro.
A situação presenciada foi de vulnerabilidade, apesar do espírito de comunidade, como explicou Elaine Siqueira, titular da Secretaria da Mulher e de Desenvolvimento Social. "Durante o recadastramento, foi possível identificar os laços de solidariedade enquanto potencial da comunidade. Nos deparamos com uma situação de extrema pobreza e condições desumanas de habitação, que atinge os moradores há mais de dez anos, e que foi negligenciada".
Entre os desafios está o alcance aos serviços. "O precário acesso às políticas públicas de proteção social, a inexistência de serviço de esgoto, dificuldades no acesso a água, a falta de intervenção dos agentes comunitários de saúde, falta de referência do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) enquanto equipamento da assistência social, alto índice de desemprego, trabalhos precários e a baixa escolaridade dos moradores" são vulnerabilidades listadas por ela. "A administração atual tem avaliado alternativas para minimizar os impactos e garantir maior dignidade às famílias e indivíduos, com garantia de uma atenção especial à questão das mulheres", disse.
OBJETO DE ESTUDO
A ocupação já foi estudada por Renan Sanches, atual secretário de Obras e Planejamento, que acompanha o novo diagnóstico. Apesar da pasta focar as condições físicas do local, não se desconsidera o fator humano, como defende, já que são famílias que vivem em condições insalubres. "Ao menos 90% dos casebres são feitos de partes de madeira, com telhas de fibrocimento, pequenas e quentes. Alguns tiveram condições de colocar contrapisos", descreve. Ele estima que o imóvel mais amplo tem cerca de 20 m², a metade de uma casa popular. "Em muitas situações é só um cubículo".
É neste meio que vivem cerca de 80 famílias, com predominância jovem, algumas com ao menos três filhos. No entorno, rodovia, linha férrea e área de preservação inspiram ambiente hostil, mas a ocupação teve início há quase duas décadas, numa área particular de uma empresa falida. A posse já foi alvo de briga judicial, mas, em 2011, a área foi declarada como de zona de interesse social.
"São pessoas em condições precárias, desempregadas, com parte em situação de extrema pobreza. O diagnóstico serve para saber como o Executivo buscará soluções para resolver, e como criar condições dignas para que cada um possa adquirir o seu espaço", explica.
O município ainda tem outros parcelamentos irregulares para lidar, como outros assentamentos, a exemplo do Santa Rita, numa ocupação mais organizada, conforme o secretário. Outra situação é o Engelho Velho, vendido como área de lazer, mas que passou a ser usado como moradia. O local também foi alvo de cobrança da Justiça, e passa por trâmites para a regularização.
"BOOM" INDUSTRIAL
A ocupação era uma situação nova para Cordeirópolis no início dos anos 2000, quando a cidade tinha população estimada em cerca de 10 mil habitantes. As oportunidades de trabalho com o avanço da indústria, principalmente cerâmica, começou a atrair pessoas de outros estados, como Minas Gerais e Pernambuco, que começaram a suprir a mão de obra que faltava para a expansão. "Não só o trabalho na indústria cerâmica, mas também a instalação da Nestlé e os serviços voltados a transporte encontraram mão de obra barata numa cidade em que poucos trabalhavam nessas áreas. A busca era também por qualidade de vida, pois uma cidade que arrecada mais deve ter mais equipamentos públicos", contextualiza, com a ressalva que nem todos os moradores da ocupação são de fora.
Apesar das circunstâncias de formação, ele salienta que a ocupação não teve a expansão que se poderia esperar. Outro fator é que a população tem acesso a equipamentos públicos do Jardim Eldorado, pela proximidade geográfica.


Levantamento teve encaminhamentos às políticas
públicas e busca alternativa habitacional às famílias
Foto: Divulgação/Prefeitura Cordeirópolis



Jardim Cordeiro II: melhoria
de construções é buscada


Para o secretário Renan Sanches, de Obras e Planejamento, o programa Minha Casa, Minha Vida desenvolvido no Jardim Cordeiro II é um exemplo da política habitacional mal direcionada, o que a atual gestão pretende evitar ao fazer diagnósticos que apontem onde estão as reais necessidades.
As 60 casas foram entregues com atraso às famílias mais carentes do município, depois do abandono de uma empreiteira e outra reassumindo. Problemas estruturais das casas foram diversas vezes apontados pelos moradores, que não tiveram festa ou formalidade na entrega das chaves, com imóveis sob risco de invasão diante da morosidade da entrega. O telhado de uma das casas chegou a desabar, e outros conviviam com chuva dentro dos cômodos.
Conforme Sanches, esta é uma das situações que demandam orientação técnica para construção de forma adequada. Mas, num projeto que já foi entregue com problemas, a atual gestão está acionando os responsáveis para melhorias nas construções. "Estamos levantando os processos em busca dos responsáveis para otimização e melhoramentos nas casas". (Daíza Lacerda)



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