quinta-feira, 18 de março de 2010 | By: Daíza de Carvalho

Os sinos e as linhas

Daíza Lacerda

Resenha do livro “Por Quem os Sinos Dobram”, de Ernest Hemingway, com tradução de Monteiro Lobato. 12° Edição, Companhia Editora Nacional, 1972, São Paulo-SP



A tênue linha que separa o amor e o ódio, a lealdade e a traição, o heroísmo e a covardia, a fé e a descrença… a vida e a morte. Escrito por Ernest Hemingway e publicado em 1940 em homenagem aos seus amigos republicanos vencidos pelos nacionalistas na Guerra Civil da Espanha (1936-1939), “Por Quem os Sinos Dobram” expõe os limites humanos nus e crus.
Robert Jordan, um idealista americano, engaja-se na Brigada Internacional apoiando os republicanos na Guerra Civil Espanhola. Em missão para o Serviço de Inteligência Militar (S.I.M.), Jordan é designado para explodir uma ponte em uma ofensiva.
Anselmo, seu guia, leva-o até o grupo de guerrilheiros – ou partizans – que o deverá ajudar na empreitada, onde conhece Pablo (líder até então) e Pilar, sua “bárbara”, enérgica e sábia mulher. Encontra ainda Fernando, homem burocrático de tão sério, os irmãos Eládio e Andrés, o cigano Rafael (não tão responsável como os outros) e Maria, a rapariga por quem viria a se apaixonar e conhecer o amor, sentimento que o leva a fazer questionamentos àquele ataque e a ver a guerra e aventura humana com outros olhos.
Pilar, no relato de suas recordações, mostra a intensidade do amor dos tempos da tourada, ao lado do toureiro Finito. Com suas palavras também nos leva, fatalmente, ao âmago da revolta que gerou ódio e violência no início da guerra: terror e crueldade na execução de civis e o hediondo episódio da “malhação” de manguais sofridos pelos fascistas. Esta matança coletiva presidida por Pablo e executada por camponeses ébrios de vinho não poupou nem mesmo um padre, o que acabou perturbando Pablo fazendo-o, mais tarde, abrandar suas atitudes na guerra (ou se acovardar, no julgamento de Pilar).
A crueldade ilimitada trouxe consigo a descrença, como mostra o questionamento de Jordan: “– Então, você não tem mais Deus?”, onde o leal Anselmo responde: “– Não, homem. Certo que não. Se houvesse Deus, Ele nunca permitiria o que tenho visto com meus olhos.” (p. 37).
Em seus monólogos, Jordan travava uma guerra consigo mesmo, pois mesmo com os objetivos claros, inquietou-se devido às circunstâncias: “Que caso! Você caminha a vida inteira com uma idéia, certo de que significa alguma coisa e acaba convencendo-se de que não significa absolutamente nada. Esta porcaria de agora!” (p. 151-2). Ocorrências estas como o amor de Maria, a petulância e traição de Pablo e a ameaça do ataque da cavalaria fascista que dizima o bando do aliado El Sordo.
Erradicados os anseios e dúvidas, a ponte finalmente é explodida. Arremessados os estilhaços e baixada a poeira, conta-se os mortos: para a dor de Jordan, Anselmo, seguido de Eládio e um Fernando agonizante. Mas, durante a fuga, uma montanha espera Robert Jordan com o fim da linha dos extremos. E os sinos dobram por ele, assim como dobram por ti.

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