segunda-feira, 13 de junho de 2016 | By: Daíza de Carvalho

O amor evoluiu. A sociedade, não

COLUNA RELEITURA - 13/06/2016

O amor evoluiu. A sociedade, não

Daíza Lacerda

"Tem muito casado solitário e muito solteiro cheio de companhia. Ô se tem". Essa é apenas uma das provocações para refletir a nossa situação acerca de relacionamentos, cutucada pela advogada e blogueira Ruth Manus, que assina espaço semanal no site do Estadão. O post em questão (http://bit.ly/1Ohal7g) relativiza a tão cobrada necessidade de um par para ser feliz, pregada pelo senso comum.
Em tempos em que até o papa é progressista, "mente aberta" como diriam alguns, fico imaginando a demanda atual de preces a Santo Antônio, o santo casamenteiro que tem o dia celebrado hoje. Como será a sua popularidade entre os solteiros desta época?
A busca por um companheiro é algo que somos condicionados a fazer pela herança de costumes sociais ou é, de fato, uma necessidade? São tempos nebulosos para definir uma linha, mas é certo que não cabem mais as lamentações aos desacompanhados, para citar um dos pontos abordados por Ruth. Afinal, por quê o desacompanhado seria um coitado se há tantas pessoas acompanhadas e infelizes? "O que me parece é que tem muita gente que não entende que não se mede a felicidade de alguém de acordo com a presença de anel no dedo, de beijocas no cinema, nem de papéis assinados. Sim, muitos são felizes acompanhados. Mas não é a mera existência de um companheiro que define se alguém tem uma vida plena. Uma vida plena tem trabalho, amigos, família, sonhos, liberdade, projetos e… Um cônjuge OU NÃO", define ela.
Talvez a convivência com amigos ou desbravar o mundo com um mochilão, acompanhado ou não, sejam planos que façam mais sentido do que juras na frente de um representante da religião, por mais que essa formalidade ainda seja vista como uma necessidade. Para quê casar quando, em muitas situações, relacionamentos podem usufruir do melhor dos dois mundos sem a necessidade de um contrato social?
Um dos equívocos talvez ainda seja a projeção do outro, e de nós em relação ao outro. Talvez toda essa pressão para estar acompanhado fosse por água abaixo se a premissa fosse o amor próprio, mais do que a devoção a alguém. A advogada se "preocupa ver tanta gente condicionando compromisso a felicidade porque isso é sinal de que muito relacionamento que a gente vê por aí não é baseado no prazer de estar junto, mas no medo de estar sozinho. E isso é crítico".
Como ela defende, "estar solteiro não tem nada a ver com estar sozinho". Embora a solidão seja um dos efeitos colaterais vísiveis dos nossos tempos. Trocamos presenças humanas pela companhia de telas. E a companhia de telas para buscar a presença humana, como prometem, sem garantia, os aplicativos de encontros.
Mas, quem disse que as pessoas querem mesmo isso? Difícil dizer, mas muitos supõem. E assim sucedem o revirar de olhos a cada pergunta de quando sai o casamento ou quando vai achar um namoradinho. Como se esse fosse mesmo o real sentido da vida. Os nossos tempos ainda não compreendem ou toleram formas de amor que rompem com o tradicional. Mesmo que haja mais amor entre famílias homoafetivas do que heterossexuais, e satisfação em ter par algum. É o velho hábito de condicionar a felicidade, que depende mais de nós do que de qualquer outro. Ou, nas palavras de Ruth, "Porque feliz é quem sabe que namoro e casamento não são os veículos da vida".

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