sexta-feira, 24 de junho de 2016 | By: Daíza de Carvalho

Cenário econômico impacta caixa de entidades


Instituições filantrópicas calculam queda em doações e atrasos em repasses

Daíza Lacerda

Responsáveis por atendimentos sociais, de alimentação, saúde ou acolhimento, entidades de Limeira enfrentam dificuldades diante da redução de recursos, tanto com a queda das doações quanto no atraso do repasse de subvenções. O impacto nas contas foi sentido principalmente nos últimos meses, conforme instituições ouvidas.
Na Associação de Reabilitação Infantil Limeirense (Aril), nem mesmo os 630 usuários e o destaque em campeonatos esportivos internacionais têm sido suficientes para atrair a atenção de mais apoiadores. A maioria dos atendidos tem até 14 anos de idade, e a principal consequência foi no setor escolar, como explica o presidente Du Ferreira e equipe. Um corte de repasse do governo estadual reduziu pela metade a quantidade de alunos. "O repasse de R$ 595 mil caiu para R$ 245 mil. O pagamento cobria 140 alunos, e agora cobre 70. Estamos com 84, com o restante sob nossa conta", explica.
As doações também caíram ao menos 10%, mas com diferenças no perfil dos doadores. "Quem contribui pouco, mantém a ajuda. Mas quem provia quantia maiores parou, sobretudo empresas". A defasagem ocorre também nos repasses dos tratamentos clínicos da tabela SUS. A entidade recebe R$ 2,95 por sessão de fisioterapia, sendo que manter um profissional custa R$ 33 por sessão. Outra cifra em queda são os recursos da Nota Fiscal Paulista, cuja legislação foi alterada reduzindo de 30% para 20% o repasse para entidades, num impacto de quase R$ 60 mil se o número de doadores se mantiver.
Segundo o presidente, até este mês as contas estão mantidas, mas é previsto desequilíbrio negativo no próximo mês. Para manter a arrecadação, a entidade promove eventos e parcerias, como uma firmada recentemente com uma escola, que reformou uma das salas multiuso. Até setembro é mantido o convênio com uma empresa alemã, que contribui há 25 anos, mas já saiu do Brasil. Para Ferreira, as dificuldades também são resultado de uma mudança de cultura e dos negócios, já que os gestores das empresas locais não são mais do município, perdendo-se o vínculo que ajudava na sobrevida dos serviços das instituições.
MAIS BAIXAS
A situação é parecida no Asilo João Kühl Filho. A presidente Maria Cristina Cruañes estima queda de 10% nas doações nos últimos três meses entre os associados de contribuição mensal. Já a doação de alimentos não apresenta variação, enquanto a de roupas também caiu. Na instituição, não houve corte ou redução de convênios, e uma das saídas para manter os recursos também são os eventos, como bingo e feijoada.
No Dispensário Assistencial Santa Isabel, a balança inverteu, como explica a voluntária Verani Aparecida Nogueira Arrivaben. Nos últimos três meses, a procura por cestas básicas aumentou, enquanto as doações reduziram, principalmente a proveniente de empresas. As triagens ocorrem às quintas-feiras, mas a procura tem ocorrido durante toda semana, com o dobro da demanda. Neste quesito, a queda nas doações impactou o alcance do atendimento. Antes eram ofertadas de 15 a 20 cestas por semana, e agora são de 10 a 12.



Situação é generalizada 
entre entidades, diz Ceprosom

Elo de repasses de recursos das esferas estadual e federal às entidades de Limeira, o Ceprosom lida com os atrasos principalmente da União. A situação não é novidade, já que havia parcelas pendentes desde 2014. É o que explica Renata Gullo Feres, diretora administrativa e financeira da autarquia.
De acordo com ela, parte começou a ser acertada no mês passado, mas saldadas parcelas de 2015, com as de 2016 ainda em suspenso. Há casos de cinco meses de atraso. Antes dos acertos recentes, chegavam a 12.
Recursos do governo para a autarquia, não necessariamente para repasse às entidades, também atrasaram. Mas, entre as que contavam com a verba, ficaram a ver navios meses a fio entidades de acolhimento ao idoso e adolescente.
Ela atesta que a maioria das instituições tem reclamado da queda nas doações e também nos recursos da Nota Fiscal Paulista. Mas é possível identificar o lado positivo do momento ruim nas contas. "Essa conferência nas contas leva as entidades à profissionalização, para sair da forma amadora de administrar, montando custos, aprimorando gastos. São poucas que têm essa organização". Se todas elas recorrem à criatividade e aos eventos para nivelar as contas, outra saída é a participação popular. "A população deve se conscientizar para ajudar", reforça. (Daíza Lacerda)




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