terça-feira, 22 de dezembro de 2015 | By: Daíza de Carvalho

Que a Força esteja com você

Daíza Lacerda

À meia-noite da última quinta-feira, a atenção de parte dos brasileiros estava dividida entre o bloqueio do WhatsApp e a pré-estreia do sétimo episódio de Star Wars (O Despertar da Força). Me diverti tanto com o filme quanto com os dramas da suspensão do aplicativo, em bizarrices do tipo "o Brasil acordou sem WhatsApp".
O episódio da vida real só mostrou o quanto grande parte das pessoas é marionete dos serviços, dada a choradeira nas redes sociais. Se não é, pelo menos um tempinho perdeu para um comentário inútil ou propagação de piadas sobre o assunto. E quem consegue imaginar a dimensão do poder de 100 milhões de pessoas, que é a estimativa de usuários do aplicativo no País?
Penso na aplicação do esforço de tanta gente para o oposto. E se 100 milhões de pessoas usassem seu precioso tempo para boicotar um serviço mal prestado ou de preço abusivo, ou alguma medida injusta imposta, ou reivindicasse algo maior nas ruas ou portas de estabelecimentos públicos? Não são 100 mil, mas 100 milhões. É muita gente para ser refém de um serviço e passiva diante de tantas outras urgências.
Claro, não foram todos que surtaram. E, claro, os proprietários lamentaram a suspensão. "Um dia triste para o Brasil", disseram. Desculpe, quem morreu mesmo? Deve ter sido o senso. Que descanse em paz...
Agora vamos ao outro lado da força. A fábrica de sonhos deixou insone crianças de todas as idades para assistir a continuidade da saga criada por George Lucas, na madrugada de quinta-feira. Não sou a favor de fanatismo algum, mas não me lembro de nada de impacto cultural tão forte a ponto de unir gerações. Foi bonito ver adolescentes, grisalhos e seus filhos vestindo seu herói ou malvado favorito, no lançamento mais esperado da década. Não eram pais presos ao passado ou crianças em outro mundo adiante, mas a conexão possível de gerações cada vez mais distintas, e que todos aprendem a lidar. Afinal, num mundo tão livre nas redes e generoso em equipamentos, em que crianças ficam num cômodo e os pais em outro na mesma casa, esse tipo de proximidade é cada vez mais rara. Que seja por uma história imaginária, mas deve ser comemorada.
Se é para se perder, de vez em quando, num mundo de fantasia, que seja neste: o das histórias bem elaboradas e contadas, que aguçam a curiosidade e imaginação. Mas, infelizmente, muita, mas muita gente prefere nutrir-se da banalização da história alheia e pré-julgamento sem critérios de casos reais, como o da Fabíola. E quem não tem vida própria para cuidar deve mesmo ter ficado desesperado sem WhatApp para passar para frente a difamação da vez. Enquanto isso, quem sabe dizer, de bate-pronto, o que aconteceu em Brasília no último final de semana?
Não entrarei no mérito da questão que levou ao bloqueio do aplicativo. Mas não sei o que é mais preocupante: o poder de alguém bloquear um serviço de tamanho alcance, mesmo que temporariamente, ou o alarde em torno de apenas uma das inúmeras opções de comunicações que temos, como se, de fato, o mundo fosse acabar. Não vejo mocinho nesta história.
E me pergunto quem nos salvará dessas mesquinharias neste e no próximo ano. Quem nos ajudará a não perder tempo tão importante dos nossos dias com elas, mas dedicá-lo mais aos exemplos que inspiram para o bem. Que a Força esteja conosco.

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