terça-feira, 15 de dezembro de 2015 | By: Daíza de Carvalho

Megalomania tecnológica

Daíza Lacerda

A Black Friday já passou há mais de duas semanas, mas o comércio eletrônico ainda se agarra insistentemente no chamariz dos grandes descontos. Como se os consumidores acreditassem em Papai Noel, às vésperas do Natal.
Monitoro ofertas, para um possível bom negócio. Mas, na última semana, a infinidade e variedade de eletrônicos me fizeram parar para pensar até que ponto da tecnologia estamos surfando. Afinal, qual a serventia de 8 milhões de pixels numa TV? A visão humana é capaz de captar tamanha resolução?
Em breve, a TV ultra HD pode até vir a ser demodé. Quem sabe o salto que nos aguarda na próxima temporada? O fato é que o que é demais não é o bastante. Quem não quer a melhor imagem, o melhor som, ou um processamento mega rápido? Compartilho com muitos um interesse até demasiado nas quinquilharias eletrônicas, beirando um surto quando falta energia elétrica por muito tempo. Mas, se pararmos para pensar, o quanto realmente usufruímos disso tudo?
Se, dizem, não conseguimos usar nem mesmo toda a capacidade do cérebro, quem consegue tirar o máximo proveito de um smartphone, além do trivial? E por que esses aparelhos têm se tornado tão descartáveis, mesmo em pleno funcionamento, com qualidade razoável de suas câmeras e sistemas operacionais?
Não é de hoje que o celular serve para quase tudo, mas minimamente para fazer ligações, cultura forte o suficiente para cutucar e desafiar operadoras a mudarem estratégias para convencer o usuário a consumir seus pacotes. A TV também incorporou as funções do smartphone para nos viciar numa tela e resolução bem maiores.
Não sei se partiu dele mesmo, mas certa vez ouvi que Steve Jobs, falecido criador da Apple, apenas criava aquilo que precisávamos - só não sabíamos, ainda. De fato. Tantos que passaram a maior parte das suas vidas sem depender de uma tela, hoje não ficam sem ela.
É indiscutível que a tecnologia que detemos é a responsável por incontáveis aproximações que jamais seriam possíveis sem essa evolução. O problema é tendermos a transformar isso numa muleta. Quantas vezes uma videoconferência bastou, e sossegou quem poderia ter buscado a surpresa da visita, o toque, o abraço, o olho no olho sem o filtro da câmera? Até que ponto essa dependência é saudável ou não, será uma discussão eterna. Mas, justamente no Natal, somos levados a querer consumir mais tecnologia, quando o sentido da data deveria ser o de depender menos das coisas, e se render mais ao convívio com as pessoas. 
É tênue a linha que nos torna antissociais, quando acreditamos ser o contrário, no plano virtual. Em meio à oferta desenfreada, como saber dosar? Há pouco tempo, os smartphones topo de linha custavam cerca de R$ 2 mil, em teto que, por enquanto, já saltou para os R$ 4 mil. Custo Brasil à parte, o valor fala mais do que o preço. Os mesmos barões que pagam um telefone, pagam uma viagem. O que vale mais?
Admito que o 3g dá nervoso depois que acostumei com 4g e que minha lista é grande na Netflix, que vou querer assistir em ótima resolução e sem engasgos na conexão. Mas são confortos que têm de estar ao nosso favor, e não nos fazer escravos deles. Afinal, há tanta vida lá fora...

Publicado na Gazeta de Limeira.

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