domingo, 5 de dezembro de 2010 | By: Daíza de Carvalho

Ciclista viaja o Brasil para estender bandeiras no Maracanã em 2014

Daíza Lacerda

Uma bicicleta simples, com um baú de moto adaptado, bomba de pneu, câmara de ar, remendos e um radinho de pilha sobre o guidão, além de poucas mudas de roupas: esses itens resumem o veículo e mala de viagem de Carlos Henrique Ribeiro, de 46 anos, cuja vida nos últimos oito foi viajar pelo Brasil sobre a "magrela".

Após a última passagem em Limeira, há dois anos, Ribeiro continua sua jornada pelo Brasil em busca das bandeiras de cada cidade por onde pedala. "Meu objetivo é estender todas elas no estádio do Maracanã, em 2014", diz ele, que é natural de Rincão (SP), para onde volta a cada dois meses do lugar onde estiver, de ônibus ou avião. Na volta, continua a pedalada de onde parou.
O ciclista chegou a Limeira vindo de Piracicaba, com as cidades de Americana e Sumaré como as próximas do itinerário.
A jornada atual começou há mais de um ano. "Ainda devo percorrer mais 40 cidades do Estado antes de ir para o Paraná, por onde já passei também. Já conheço todos os Estados brasileiros", conta.
Ele envia as bandeiras para sua casa, a cada 10 recebidas. E a trajetória tem, há seis anos, patrocínio da rede de escolas de idiomas Wizard. "A instituição prevê apoio para projetos especiais, e houve uma simpatia com a proposta do Carlos, já que o esporte é uma das defesas da rede", disse o diretor da unidade de Limeira, Kléber Baptista.



VIDA NA ESTRADA

A pedalada começou quando Ribeiro tinha 38 anos e morava na cidade de Jardim, no Mato Grosso do Sul. Então pedreiro e analfabeto, com poucas oportunidades numa cidade pequena, percorreu três Estados brasileiros em busca de mudanças. Por quase dois anos fez as viagens contando com a sorte, e pedindo.
Antes de iniciar a maratona, só pedalava na cidade. Os efeitos colaterais dos primeiros exercícios foram dores nas pernas.
"Não tenho treinamento específico. Durante o trajeto, só tomo água, e nada de carboidrato. Tenho alimentação simples, com arroz, feijão e salada", diz o ciclista que, de 2007 para cá, contabiliza mais de 70 mil quilômetros pedalados, já na sexta bicicleta.
"Dá tranquilamente para andar mais de 100 quilômetros por dia, em médias de 15 km/h até 40 km/h, em algumas serras. Pedalar na cidade cansa mais do que na estrada. Os grandes centros são os locais mais difíceis, como São Paulo e Rio de Janeiro, onde fui parar na Linha Vermelha e nem sabia onde estava". Numa mesma região, em viagens curtas de uma cidade a outra, a rotina é mais de palestras e entrevistas do que de pedaladas, lembra.
As bandeiras do Brasil na bicicleta facilitam o seu reconhecimento nas vias, o que não impede que seja desrespeitado. "Já aconteceu de jogarem uma garrafa em mim na rodovia, mas peguei a placa e denunciei para a Polícia Rodoviária", relata ele, que só pedala de dia e não teme ladrões, já que não anda com nada de valor.
Mesmo com a agravante da situação das metrópoles, ele pontua como a rodovia mais complicada a BR-101, na Bahia, em que os caminhões andam a 40 km/h, além das do Maranhão. "Em comparação a estas, as de São Paulo dão de dez a zero".

SOLUÇÃO PARA O TRÂNSITO
Em suas viagens, ele também dá palestras em escolas, incentivando o uso da bicicleta e da corrida atrás dos sonhos, como o dele, de forrar o Maracanã com as bandeiras. "Quem busca, consegue", garante.
Ele defende os benefícios da bicicleta como meio de transporte. "Se cada um deixasse de usar o carro e fosse trabalhar de bicicleta, seria um veículo a menos no trânsito, além da redução da poluição e o principal, que é garantir mais saúde", lista. Mas acrescenta que os ciclistas também têm o que aprender, para contribuir. "É importante que o ciclista respeite. Alguns confundem a calçada com a rua, o que não pode acontecer".
Nas épocas em que volta para casa, também não fica longe do pedal. "Se passar dois os três dias, já começo a ficar inquieto para pedalar de novo". Tombos? Vários. Mas, sérios mesmo, "só" dois. A pedalada blinda a sua saúde. "Não deixo de pedalar nem na chuva, e não uso capa. E em todo esse tempo também nunca fiquei doente".

Publicado na Gazeta de Limeira.

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